Entenda o caso de Doralice Góes, mulher que enfrentou paralisia por quase um ano após entrar em contato com bactéria presente em molho.
Em janeiro de 2022, a servidora pública e palestrante Doralice Góes, moradora de Brasília (DF), abriu um pote de molho pesto feito de forma artesanal para saborear com torradas e vinho. Após ingerir apenas três colheres, ela acabou entrando em contato com uma bactéria perigosa que ocasionou a sua paralisia.
Entenda a história
O caso curioso se deve ao contato de Doralice com a bactéria Clostridium botulinum, uma das mais perigosas conhecidas. Dentro das 48 horas corridas, o estado de saúde da mulher se agravou de forma impressionante, tendo Doralice sido até mesmo entubada. Ao todo, o processo de internação durou quase um ano.
O molho ingerido por Góes havia sido adquirido em uma feira de alimentos orgânicos e sem saber que o produto exigia refrigeração, Doralice o manteve em temperatura ambiente, na despensa de casa.
A mulher relatou já conhecer o produtor e por isso, não se preocupou com a falta de informações em relação ao prazo de validade do alimento. Doralice relatou que apenas dois dias após o consumo do produto ela começou a sentir fraqueza no corpo e pouco tempo depois, sua visão ficou comprometida e ela começou a apresentar dificuldades para falar.
Mesmo com a visão prejudicada e se sentindo mal, Doralice dirigiu até um hospital e ao sair do carro, a mulher percebeu que não conseguia mover as pernas. Durante a realização de uma tomografia realizada a fim de investigar o que estava acontecendo com a saúde de Góes, o seu estado piorou rapidamente e Doralice precisou ser internada urgentemente.
O diagnóstico
Inicialmente, os médicos consideraram possíveis diagnósticos como um acidente vascular cerebral, síndrome de Guillain-Barré ou até uma reação adversa à vacina contra a Covid-19.
No dia seguinte, a hipótese de botulismo passou a ser considerada após a avaliação de um neurologista. Ao examinar a paciente, que estava totalmente paralisada e sem fala, ele abriu suas pálpebras e disse que, caso ainda tivesse consciência, tentasse movimentar qualquer parte do corpo como resposta.
“Milimetricamente, eu mexi dois dedinhos do pé direito. Na hora, ele falou: ‘Isso aqui é botulismo. Eu estudo essa doença há dez anos e nunca vi um caso’”, relembrou Doralice.
Apesar da paralisia, Doralice permaneceu consciente durante todo o período de sua internação. O diagnóstico de botulismo foi confirmado apenas 50 dias após a ingressão da mulher no hospital, com a bactéria identificada no molho. A antitoxina foi aplicada no quarto dia, interrompendo o avanço da toxina, mas sem reverter os danos já instalados.
Depois de quase 11 meses hospitalizada, Doralice Góes teve alta médica, mas ainda enfrentava dificuldades para realizar atividades simples e dependia de um andador. Incapaz de levantar-se sozinha do vaso sanitário, ela deu início a um intenso processo de recuperação física.
Além das limitações, precisou lidar com uma dívida de aproximadamente R$ 400 mil, referente à coparticipação do plano de saúde. Para se reerguer, Doralice passou a criar conteúdo nas redes sociais e a ministrar palestras sobre botulismo, unindo conscientização à sua busca por sustento.
O que é o botulismo?
O botulismo é uma doença provocada por substâncias tóxicas liberadas por uma bactéria que vive no solo e pode estar presente em frutas e vegetais. Essa bactéria se desenvolve especialmente em locais com baixa presença de oxigênio. A forma mais frequente de contaminação ocorre pela ingestão de alimentos infectados.
Em entrevista à Revista Marie Claire, a médica infectologista Maria Daniela Bergamasco, do Hospital Albert Einstein, explicou: “É uma paralisia flácida aguda, descendente e simétrica. Costuma começar pela face, com visão turva, boca seca, dificuldade para engolir e respirar. Em geral, a progressão é muito grave, com parada respiratória, inclusive, por essa paralisia neuromuscular, precisando, muitas vezes, de intubação”