O procedimento é seguro e não costuma apresentar complicações quando o paciente toma os cuidados necessários.
Indicada para tratar pacientes que sofrem com obesidade grave, a cirurgia bariátrica é um procedimento que consiste na redução do estômago. Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde, trata-se de uma operação que muda o formato do órgão, sua capacidade de consumir alimentos e também impacta na produção hormonal.
Embora muitas pessoas pensem que se trata de uma cirurgia simples, a bariátrica tem impactos significativos no corpo humano, e os cuidados pós-operatórios são fundamentais para que o corpo se adapte bem e não sofra com nenhuma sequela.
Recentemente a influenciadora Carolaine, famosa no TikTok por produzir vídeos experimentando comidas e outros produtos, viralizou nas redes sociais ao comer a sopa de cebola do Outback apenas sete dias após se submeter a uma cirurgia bariátrica. O caso gerou grande repercussão, levantando discussões sobre os riscos de consumir certos alimentos no pós-operatório desse tipo de cirurgia.
A nutricionista Julia Zumpano e a cirurgiã bariátrica Dra. Rickesha Wilson destacaram em um episódio do podcast Nutrition Essentials a importância de uma alimentação cuidadosa nessa fase. Segundo as especialistas, escolhas inadequadas podem comprometer a recuperação, enquanto opções equilibradas ajudam o corpo a se adaptar sem complicações.
Por que a alimentação é tão importante após a bariátrica?
A Dra. Rickesha Wilson ressalta que a bariátrica não é para todo mundo, mas sim uma ferramenta para lidar com a obesidade. Porém, tal cirurgia não resolve o problema inteiramente, e os pacientes precisam adotar hábitos saudáveis, que incluem uma dieta mais equilibrada e prática de exercícios físicos.
"De forma resumida, [após a cirurgia] você simplesmente não consegue mais consumir a mesma quantidade de calorias no mesmo período de tempo que antes. Por isso, é fundamental fazer boas escolhas, já que sua capacidade é limitada. Se você se encher de carboidratos complexos antes de consumir proteínas e, depois, vegetais, isso vai impactar diretamente na sua capacidade de manter o peso ou atingir suas metas de emagrecimento."
A especialista explica que além da má alimentação dificultar a perda de peso, ela pode provocar outros sintomas negativos.
"Algumas complicações iniciais que podem acontecer são náuseas, vômitos ou desidratação, que podem levar o paciente ao pronto-socorro para receber soro intravenoso. Como em qualquer cirurgia, também pode haver risco de sangramento ou infecção, mas essas complicações são raras. No geral, a taxa de complicações é de 3% após a gastrectomia vertical (sleeve) e 5% após o bypass gástrico", explicou a especialista.
Outro problema é a síndrome de dumping, uma complicação comum que acontece quando alimentos açucarados passam rapidamente do estômago para o intestino, causando mal-estar, suor, enjoo, diarreia, sono e coração disparado.
Fases da alimentação após a cirurgia bariátrica
A Dra. Rickesha Wilson afirma que as mudanças nos hábitos alimentares, e de saúde no geral, começam a ser implementadas antes da cirurgia. Ela destaca a necessidade de tomar vitaminas e aumentar a ingestão de proteínas, começando com uma dieta líquida para só depois introduzir sólidos.
Já a nutricionista Julia Zumpano destaca que apesar de cada paciente ter suas particularidades, a dieta pós-operatória costuma seguir um padrão em cada uma das quatro fases.
Fase 1 – Líquidos claros e hidratação (dias iniciais)
"Tudo começa com uma dieta líquida, composta por líquidos claros e sem açúcar, durante alguns dias no hospital", explica a nutricionista.
A quantidade de água recomendada normalmente, de dois a três litros por dia, continua valendo, mas é necessário fazer a ingestão em porções muito pequenas, tomadas várias vezes ao longo do dia. Há pacientes que são orientados a tomar quantidades da ordem de 50 ml a cada 30 minutos, por exemplo. Novamente, vai depender da reação do paciente.
Fase 2 – Líquidos completos e proteínas
"Depois, você pode experimentar alguns shakes de proteína antes de receber alta. Em seguida, inicia-se um regime de duas semanas apenas com shakes de proteína. Ou seja, todas as suas necessidades de proteína, vitaminas e minerais serão supridas por meio desses shakes, além da suplementação. Após essas duas semanas, se você estiver se sentindo bem e tiver tolerado bem os shakes, avançamos para uma dieta com alimentos mais macios — ainda com foco principal na ingestão de proteínas", disse Julia Zumpano.
Alguns exemplos são leite desnatado em pó, proteína do soro do leite em pó, leite e bebidas vegetais sem açúcar e sopas de vegetais. Os vegetais indicados são abóbora, cenoura, inhame, abobrinha, chuchu ou berinjela e, em menor quantidade, batata, farinha de milho ou arroz.
Fase 3 – Pastosos e introdução lenta de novos alimentos
Seguindo adiante, a recomendação de Julia é de alimentos fáceis de mastigar e fáceis de digerir. Portanto, o paciente pode comer alimentos triturados e em forma de purê. Algumas boas proteínas para essa fase são ovos, tofu, carnes brancas, como peru, frango ou peixe, de acordo com a tolerância da pessoa. Purês e sopas cremosas de vegetais, assim como na fase anterior, também são indicadas para essa etapa de recuperação.
Fase 4 – Alimentos sólidos e a volta gradual à normalidade
Para voltar a comer alimentos sólidos, o paciente precisa começar com porções pequenas e mastigando muito bem. Aos poucos, é liberado comer frutas, legumes, cereais integrais, leite e derivados, carne, peixe, ovo, massa, arroz, batata, cereais integrais e sementes em pequenas quantidades e de acordo com a sua tolerância.
O que fazer para ter uma recuperação tranquila
De acordo com as duas especialista, é indispensável seguir as orientações do médico que está acompanhando o seu processo de recuperação. Mas, além disso, comer devagar e mastigar bem são cuidados simples que irão ajudar em todos os casos.
"Então, pensar na comida como um tratamento, ir com calma, fazer uma mudança de cada vez e começar esse processo antes mesmo da cirurgia pode fazer muita diferença. Como a Dra. Wilson disse, os pacientes que se preparam, que têm um plano e o mindset certo, costumam ter resultados muito melhores", diz a nutricionista.
Existem alguns alimentos que devem ser evitados logo depois do procedimento, e a suplementação vitamínica cumpre um papel essencial nesse momento.
"Dependendo do tipo de cirurgia que você fizer, partes do seu intestino serão desviadas. E existem regiões do intestino e do estômago responsáveis pela absorção de certos nutrientes. Ao desviar essas partes, você também está desviando a absorção desses nutrientes. Por isso, é realmente importante garantir a ingestão de todas as vitaminas e minerais por meio da suplementação, já que você não conseguirá obtê-los completamente apenas pela alimentação — e, em alguns casos, nem mesmo os absorverá como antes", pontuou Julia Zumpano.
De acordo com a nutricionista, as principais vitaminas que geralmente precisam de suplementação são:
- Cálcio
- Vitamina D
- Vitaminas do complexo B como a B1 e a B12
- Ferro
- Zinco
- Biotina
O que evitar após a cirurgia bariátrica?
A nutricionista Julia Zumpano chama atenção também para alimentos que acabam proporcionando efeitos indesejados no organismo, e devem ser evitados, especialmente no início.
"Há certos itens que realmente queremos limitar, especialmente no início. Por isso, orientamos que os pacientes reduzam bastante o consumo de cafeína nos primeiros três meses e garantam uma boa hidratação, bebendo líquidos entre as refeições, e não necessariamente junto com os alimentos. A ideia é minimizar a quantidade de líquidos e alimentos no estômago ao mesmo tempo. Também desaconselhamos fortemente o consumo de álcool. O ideal seria evitar o álcool para o resto da vida, mas, no mínimo, é fundamental evitar nos primeiros três a quatro meses após a cirurgia."
Comidas processadas e com alto nível de açúcar são fortemente desaconselhadas, principalmente nos 3 a 6 primeiros meses. Fumar também pode ter efeitos negativos no resultado da sua cirurgia.
Quando procurar ajuda profissional?
Considerando que a bariátrica é uma cirurgia com bastante impacto no organismo, o acompanhamento é indispensável em todas as etapas do procedimento. O nutricionista é fundamental para te ajudar a escolher os alimentos mais nutritivos e na quantidade correta, respeitando suas preferências.
O acompanhamento psicológico ou psiquiátrico também é essencial, antes e depois da cirurgia. Muitas vezes a obesidade afeta o estado emocional das pessoas, e a bariátrica não é o suficiente para lidar com isso. Portanto, o paciente deve tratar essas questões também.
Por fim, segundo o Portal Dráuzio Varella, dores fortes na região abdominal, cólicas, enjoo frequente ou outros sintomas atípicos após a estabilização da cirurgia são sinais de possíveis complicações na cirurgia. Caso sinta algum desses sintomas, procure um médico imediatamente.