Entenda os mitos mais comuns sobre o câncer e como eles podem afetar a prevenção e o tratamento da doença.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, 7,6 milhões de pessoas no planeta morrem de câncer a cada ano. Diante desses números alarmantes, no Brasil, celebramos desde 2008 o Dia Mundial de Combate ao Câncer. A data criada pela União Internacional Contra o Câncer (UICC) tem como objetivo aumentar a conscientização sobre o câncer, e é a oportunidade perfeita para desmistificar informações equivocadas que circulam sobre a doença.
Muitas dessas crenças, embora amplamente difundidas, não só carecem de fundamento científico como podem atrapalhar a prevenção, o diagnóstico precoce e até mesmo o tratamento. Para esclarecer o que é mito e o que é realidade, conversamos com especialistas e reunimos os equívocos mais perigosos.
7 mitos que você ainda acredita sobre o câncer e que podem ser perigosos
Apesar dos avanços da medicina, muitos mitos sobre o câncer ainda persistem – e alguns podem colocar a sua vida em risco. No Dia Mundial do Combate ao Câncer, conheça as mentiras que sempre te contaram e saiba mais sobre essa doença tão comum.
1. Câncer é sempre hereditário?
Um dos mitos mais comuns sobre o câncer é a ideia de que ele é sempre uma doença hereditária. De acordo com o Dr. Silvio Bromberg, uma pesquisa revelou que 67% dos entrevistados acreditam nessa afirmação. O especialista explica que esse pensamento é perigoso porque pode levar as pessoas a negligenciarem medidas preventivas ao pensarem que o câncer é inevitável por causa da genética.
A verdade, no entanto, é que apenas 5% a 10% dos casos de câncer estão diretamente ligados a mutações genéticas herdadas, como as dos genes BRCA1 e BRCA2, conhecidos por aumentar o risco de câncer de mama e câncer de ovário.
Mesmo quem tem predisposição genética pode adotar hábitos saudáveis – como alimentação balanceada, prática de exercícios e evitar o tabagismo – para reduzir significativamente as chances de desenvolver a doença. Além disso, exames regulares e acompanhamento médico são fundamentais para quem tem histórico familiar.
2. Existem alimentos que curam o câncer?
Outro mito persistente é a crença de que certos alimentos ou dietas específicas podem curar o câncer. A cirurgiã oncológica Dra. Kelly Silva esclarece que, embora uma alimentação saudável seja crucial para fortalecer o organismo e auxiliar no tratamento, nenhum alimento tem o poder de eliminar tumores sozinho.
É comum encontrar na internet vídeos falando que o limão, o gengibre ou até dietas extremamente restritivas seriam capazes de curar o câncer, mas isso não passa de desinformação. O tratamento eficaz requer métodos comprovados, como quimioterapia, radioterapia, cirurgia e medicamentos específicos, sempre sob orientação médica.
A especialista aponta que uma dieta equilibrada é importante para manter a saúde do paciente durante o tratamento, mas substituir terapias convencionais por "curas naturais" pode colocar vidas em risco.
3. Micro-ondas e celulares causam câncer?
A radiação é frequentemente associada ao câncer, mas é importante entender que nem todo tipo de radiação é prejudicial. No caso dos fornos de micro-ondas, a radiação utilizada serve apenas para aquecer os alimentos e não altera sua composição química. Além disso, os aparelhos são projetados para conter essa radiação, que só seria perigosa se o equipamento estivesse danificado — por isso, micro-ondas com defeito nunca devem ser usados.
Quanto aos celulares, redes Wi-Fi e 5G, as ondas emitidas por esses dispositivos são de baixa energia e não têm capacidade de danificar o DNA ou causar câncer.
Segundo os especialista, o verdadeiro perigo está em outro tipo de radiação, muito mais comum no dia a dia: a radiação ultravioleta (UV) do sol, que pode causar câncer de pele. Por isso, o uso de protetor solar é essencial para prevenção. Veja aqui a lista com os 7 protetores solares mais recomendados por dermatologistas.
4. Mamografia causa câncer?
Recentemente, um vídeo que viralizou na internet espalhou a falsa informação de que a mamografia – principal exame para detecção precoce do câncer de mama – poderia causar a doença devido à exposição aos raios X. Essa alegação é totalmente infundada.
A quantidade de radiação utilizada na mamografia é mínima e amplamente considerada segura pela comunidade médica. O benefício de detectar um tumor em estágio inicial, quando as chances de cura são muito maiores, supera qualquer risco mínimo associado ao exame.
A recomendação é que mulheres a partir dos 40 anos realizem a mamografia anualmente, ou antes dessa idade caso existam fatores de risco como histórico familiar. Ignorar esse exame por medo infundado pode levar ao diagnóstico tardio, quando o tratamento se torna mais difícil.
5. Câncer é contagioso?
A ideia de que o câncer pode ser "pego" de outra pessoa é completamente falsa. Nenhum tipo de câncer é contagioso no sentido de ser transmitido por contato físico, compartilhamento de objetos ou proximidade com alguém doente. No entanto, alguns vírus que aumentam o risco de desenvolver certos tipos de câncer podem ser transmitidos entre pessoas.
O exemplo mais conhecido é o HPV (papilomavírus humano), que pode ser transmitido sexualmente e está associado ao câncer de colo do útero, além de alguns casos de câncer de garganta e ânus. Outros vírus, como os da hepatite B e C (que podem levar ao câncer de fígado) e o vírus Epstein-Barr (relacionado a alguns linfomas), também são transmissíveis. A prevenção inclui vacinação (como a vacina contra HPV), uso de preservativos e cuidados com higiene.
6. Desodorantes e sutiãs apertados causam câncer de mama?
Esse mito persiste há décadas, mas não há nenhuma evidência científica que comprove a relação entre o uso de desodorantes antitranspirantes ou sutiãs com bojo/apertados e o aumento do risco de câncer de mama.
A teoria de que os compostos de alumínio presentes em alguns desodorantes poderiam ser absorvidos pela pele e causar danos às células mamárias já foi amplamente estudada e descartada.
A única recomendação em relação aos desodorantes é evitar aplicá-los em spray antes de realizar uma mamografia, pois partículas do produto podem interferir na qualidade das imagens do exame. Quanto aos sutiãs, não importa o modelo ou o nível de ajuste – eles não têm qualquer influência no desenvolvimento de câncer.
7. Terapia alternativa pode substituir o tratamento convencional?
Um dos mitos mais perigosos é a crença de que terapias alternativas, como uso de ervas, dietas restritivas ou tratamentos energéticos, podem substituir a medicina tradicional no combate ao câncer. Embora algumas práticas complementares possam ser úteis como apoio, nenhuma delas é capaz de curar o câncer.
Atrasar ou abandonar o tratamento convencional para seguir métodos não comprovados cientificamente pode permitir que o câncer avance para estágios mais graves, reduzindo drasticamente as chances de cura.
Sempre converse com seu médico sobre qualquer terapia complementar que queira experimentar, para garantir que não interfira no tratamento principal.