O fenômeno do Efeito Contágio existe há alguns séculos, mas tornou-se mais grave com as redes sociais.
Carol Peres | 11 de Setembro de 2024 às 10:36
Embora o suicídio seja um problema de saúde pública com graves índices durante o ano inteiro, é durante o mês de setembro que o assunto recebe mais atenção. A campanha Setembro Amarelo é uma iniciativa que visa desmistificar tabus sobre a morte autoinflingida e destacar informações que todas as pessoas deveriam saber.
O suicídio é um tema complexo e deve ser tratado com delicadeza, mas o conhecimento sobre o tema é fundamental para sua prevenção. Portanto, entenda o que é o efeito contágio e como evitá-lo.
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Em 1774 o escritor alemão Goethe publicou o livro "Os Sofrimentos do Jovem Werther", que narrava uma trágica história de amor não correspondido que terminou na morte do protagonista Werther. Após a publicação da obra, a Europa passou por uma onda de suicídios semelhantes ao do personagem literário.
Assim, o pesquisador americano David Phillips propôs o termo "Efeito Contágio", ou "Efeito Werther", que indica que um suicídio pode servir como motivador de tentativas de outras pessoas. No entanto, essa não é a única causa por trás da ideação suicida, mas um possível catalisador.
A professora do Programa de Pós-graduação, do Departamento de Comunicação Social da UFF e coordenadora da pesquisa "Mídia, Juventude e Suicídio", Renata Rezende explica que o suicídio é multifatorial mas que as mídias podem ampliar o efeito contágio.
"A gente evidentemente não tem como afirmar como o efeito contágio se realiza porque o suicídio é multifatorial. Agora, é claro que quando a gente pensa no sentido da mídia como um grande espaço de influência, é importante que a gente leve em conta a questão do efeito contágio pra que a gente possa noticiar ou falar sobre o suicídio de uma maneira mais responsável. Então, a própria Organização Mundial de Saúde afirma que as mídias são causadores, influenciadores de alguns casos de suicídio, e leva em consideração a forma irresponsável que muitas vezes o suicídio e até outras situações são noticiadas", disse Renata Rezende.
Esse fenômeno normalmente atinge pessoas que já estão vulneráveis, e possui algumas características a serem destacadas.
"Essa forma irresponsável de glamourizar atos suicidas como atos heróicos, ou muitas vezes noticiar o suicídio como atos heróicos, por exemplo, dando informações sobre o método. Geralmente tem a questão da curiosidade, que é quase uma característica inerente ao humano de uma maneira geral, só que se você dá muitos detalhes sobre um tema tão sensível como esse, muitas vezes as pessoas começam a pensar de uma maneira que elas nunca tinham pensado. Então, em momentos de angústia, ou pessoas que são mais sensíveis, ou que tem menos formação midiática, elas podem estar mais suscetível a isso que a gente chama de efeito contágio, ou seja, à imitação", completou.
O termo teve início com a literatura, depois passou a ser aplicado em filmes e videogames, mas hoje acaba sendo mais forte nas redes sociais.
Tanto Renata Rezende como pesquisadores de outras universidades ressaltam que as mídias também exerce um papel muito importante na prevenção do suicídio. Dessa forma, surgiria o conceito do Efeito Papageno trazido por outros cientistas.
O Efeito Papageno é inspirado por uma outra história, A Flauta Mágica, em que o personagem principal também sofria por amor, assim como Werther, e estava cogitando encerrar a sua vida, mas foi convencido a continuar vivendo. Portanto, esse fenômeno aponta que falar sobre o suicídio na verdade seria uma importante forma de prevenção.
Nesse sentido, é indispensável afirmar que a abordagem do tema nas mídias, sejam por profissionais ou por usuários comuns, pode ser feita desde que com cautela. Por exemplo, Renata sugere que ao falar sobre suicídio não se descreva métodos ou compartilhe cartas de despedida, já a OMS possui um manual para profissionais da mídia.
O projeto "Mídia, Juventude e Suicídio" também conta com algumas publicações e outros conteúdos importantes sobre saúde mental em seu site. Além disso, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece cartilhas e manuais com importantes orientações e também apoio emocional gratuito. Basta acessar o site ou ligar 188.
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