Conheça a história de Alec, de 8 anos, que apresentava sintomas graves de uma infecção misteriosa e não respondia aos tratamentos.
Redação | 20 de Dezembro de 2018 às 11:45
Conheça a história de Alec (nome trocado para proteger a privacidade), de 8 anos, da Escócia, que foi atendido pelo Dr. Stuart Whitelaw, cirurgião da Dumfries and Galloway Royal Infirmary:
Certo dia de outubro passado, Alec voltou da escola com dor de cabeça. Na manhã seguinte, acordou com tosse seca e dor de garganta. Os olhos estavam vermelhos e sensíveis à luz, as pernas doíam. Os pais de Alec imaginaram que ele estivesse gripado e decidiram mantê-lo em casa até que se sentisse bem. Uma semana depois, os sintomas não tinham melhorado. Quando a náusea surgiu e Alec começou a vomitar, a família foi ao pronto-socorro. Os médicos perceberam que o pulso de Alec estava acelerado, cerca de 120 batimentos por minuto, e ele apresentava febre de 38,5°C. Quando tocaram de leve suas panturrilhas, ele gritou de dor.
Os médicos desconfiaram de meningite e lhe deram soro e um antibiótico de amplo espectro. Nove dias tinham se passado desde o início dos sintomas, e o menino apresentava exantema nas costas e no abdome. Também havia sangue na urina. Fizeram exames para meningite, hepatite viral e febre tifoide, mas os resultados foram negativos. Quatro dias depois da internação, Alec começou a apresentar sinais de choque séptico: o ritmo cardíaco e a temperatura estavam elevados, a pressão arterial era baixa, a respiração estava difícil e o menino produzia menos
urina do que deveria. Ele passou a receber oxigênio, e os médicos temeram que não sobrevivesse.
Nessa fase, o menino começara a delirar, gritar e chorar.
Uma enfermeira tentou consolá-lo, mas ele lhe disse que tinha de ir para casa porque Toby ia sentir sua falta. Quando ela perguntou quem era Toby, ele respondeu: “Toby é meu rato de estimação. É meu melhor amigo, a não ser quando morde. Ninguém está cuidando dele!”
A enfermeira não conseguiu parar de pensar no que o menino dissera. Mais tarde, ela voltou à enfermaria e perguntou ao menino se fora mordido recentemente. Alec disse que sim, quando limpava a gaiola do rato 15 dias antes, e que já informara ao médico. Lá, no antebraço direito, havia uma feridinha infeccionada. Em poucas horas, um microbiologista fez outra rodada de
exames em amostras de sangue e urina de Alec, que revelaram que ele tinha a doença de Weil, uma forma grave de leptospirose.
A doença é causada por uma bactéria chamada leptospira. Embora os ratos sejam os transmissores mais comuns, o patógeno também é encontrado em cabras, bovinos, cães e gerbilos (e nenhum deles apresenta sintomas externos da doença). Em geral, a infecção causa sintomas leves, como os da gripe. Mas, em cerca de 10% dos casos, pode avançar para falência de múltiplos órgãos e ser fatal, diz o Dr. Stuart Whitelaw, envolvido no tratamento do menino.
“O caso de Alec mostra que, além do histórico médico completo, é importante observar as informações mais fragmentadas e aparentemente sem relação com o caso”, diz o Dr. Whitelaw.
“Algo que parece irrelevante pode salvar a vida do paciente.” Só se pode encontrar a leptospira no sangue nos primeiros sete a dez dias da infecção, diz ele, e, se tivessem perdido mais um dia, o resultado provavelmente seria negativo e os médicos não teriam o diagnóstico. “Se o estado de Alec se agravasse mais, ele seria colocado na máquina de diálise e no respirador artificial”, e não seria capaz de contar à enfermeira que fora mordido por um rato.
Assim que os médicos souberam que Alec tinha leptospirose, o antibiótico que tomava foi trocado por uma alta dose de penicilina, e seu estado melhorou de imediato. Em dias, Alec se recuperou e pôde voltar para casa e tomar conta de Toby. Agora ele tem imunidade vitalícia àquela cepa específica da bactéria.