Entenda se ficar triste após o parto é normal e o que pode ser depressão pós-parto ou 'baby blues'.
O nascimento de um bebê costuma ser culturalmente um momento de plenitude e alegria, no entanto, a realidade de muitas mães é bem diferente e sentimentos de medo, insegurança e tristeza podem surgir logo após o parto e se prolongar por semanas ou até meses. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de 25% das mulheres brasileiras enfrentam esse desafio nos primeiros 18 meses de vida da criança e podem chegar a desenvolver quadros de depressão pós-parto, um diagnóstico clínico que precisa de atenção.
Entendendo a depressão pós-parto
Sentir tristeza após o parto não é considerado algo normal, uma vez que o puerpério é um período marcado por intensas mudanças hormonais, adaptações físicas e grande carga emocional e apesar da expectativa social de que a maternidade seja vivida apenas com felicidade pode acentuar o sofrimento das mulheres que não se enxergam nesse ideal.
“A depressão pós-parto não é uma fraqueza ou falta de amor pelo bebê. É uma condição clínica que precisa ser diagnosticada e tratada, assim como qualquer outro problema de saúde”, explica o ginecologista Dr. Newton Silva, da UBS Vera Cruz, em São Paulo.
Esse transtorno pode se manifestar por meio de tristeza persistente, irritabilidade, perda de interesse em atividades antes prazerosas, choro frequente, insônia e fadiga intensa, segundo publicação do portal Dráuzio Varella. Há ainda sintomas físicos, como dores de cabeça, alterações no apetite e tensão muscular.
Em casos mais graves, podem até mesmo surgir pensamentos de automutilação ou de machucar o bebê. “O alerta vermelho aparece quando a angústia começa a atrapalhar o cuidado com a criança e a mãe passa a duvidar de sua capacidade materna. Esse é o momento de procurar ajuda médica imediatamente”, reforça o especialista.
Entre os fatores de risco estão a ausência de rede de apoio, histórico de transtornos mentais, gravidez não planejada e altos níveis de estresse.
Baby blues ou depressão, como reconhecer?
Nem toda instabilidade emocional no pós-parto é depressão, também há a famosa ‘baby blues’. Segundo Dr. Newton, é comum que, entre o segundo e o terceiro dia após o nascimento do bebê, a mulher apresente o chamado ‘baby blues’, que se trata de uma fase marcada por maior sensibilidade, choro fácil e ansiedade.
O médico classifica esse momento como uma disforia passageira que costuma desaparecer em até duas semanas e não compromete de forma significativa a rotina da mãe, diferentemente da depressão pós parto, que é mais duradoura e incapacitante.
Enquanto o ‘baby blues’ está ligado principalmente ao ajuste hormonal e à adaptação à nova realidade, a depressão envolve múltiplos fatores, biológicos, psicológicos e sociais.
Como tratar
Nos casos de ‘baby blues’, o suporte emocional é o principal aliado e é imprescindível contar com a compreensão da família, com momentos de descanso. Já a depressão pós-parto exige tratamento profissional e a combinação de psicoterapia com medicamentos antidepressivos seguros para o período da amamentação costuma apresentar bons resultados.
A prática de atividades integrativas, como prática de exercícios físicos leves, mindfulness e grupos terapêuticos, também podem potencializar a recuperação, desde que acompanhadas por profissionais de saúde. Em situações graves, o encaminhamento para serviços especializados, como os Centros de Atenção Psicossocial, o CAPS, pode ser necessário.
No Brasil, a Linha de Cuidados Materno-Infantil do SUS oferece protocolos específicos para identificar e acompanhar casos de depressão pós-parto e já durante o pré-natal, as gestantes já recebem orientações sobre mudanças emocionais e passam por triagens de saúde mental que continuam no período pós-parto. Esse cuidado pode incluir visitas domiciliares, consultas com psicólogos, psiquiatras e acompanhamento multidisciplinar com enfermeiros, médicos e assistentes sociais.