Perdas hormonais dificultam o emagrecimento e podem acelerar a perda muscular; especialistas explicam como equilibrar saúde e estética após os 50 anos
Aos 56 anos, Martha sempre foi vaidosa e preocupada com a saúde. Mas, nos últimos anos, começou a sentir que o corpo não respondia mais da mesma forma. Mesmo com dietas e caminhadas, o peso oscilava e o temido efeito sanfona se tornou constante. “Antes, eu conseguia eliminar dois quilos com facilidade. Agora, parece que o corpo resiste”, conta.
O caso dela ilustra o desafio enfrentado por muitas mulheres a partir da menopausa. Segundo especialistas, emagrecer após os 50 se torna mais difícil e, em alguns casos, perigoso, se não houver acompanhamento médico adequado.
Por que emagrecer depois dos 50 é mais difícil
A partir dos 50 anos, o metabolismo desacelera e a composição corporal muda. Segundo a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, “nessa idade, há uma redução do metabolismo basal, porque a massa muscular reduzida resulta em menor gasto de calorias em repouso, que pode dificultar a manutenção do peso ideal, levar a alterações na composição corporal, com mudanças na distribuição da gordura corporal e aumento da gordura abdominal”.
A ginecologista Dra. Ana Paula Fabricio reforça que a queda do estrogênio também tem papel central nessa transformação. “A queda do estrogênio aumenta a circunferência abdominal mesmo sem mudanças drásticas na dieta. As mulheres enfrentam mais dificuldade para perder peso e algumas se frustram com um ganho de peso ‘inexplicável’.”
Essa combinação de fatores faz com que muitas mulheres recorram a dietas restritivas; um erro que pode custar caro. “Essa estratégia não é apenas ineficaz, como também pode ser perigosa”, alerta a ginecologista Dra. Patricia Magier, da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Depois dos 40, passamos por uma fase em que a tendência é a diminuição da massa magra. Por isso, a ideia é tentar preservar essa massa para sustentar o metabolismo e prevenir doenças como sarcopenia e osteoporose.”
Dietas restritivas podem agravar a perda de músculos
A especialista lembra que “dietas muito restritivas induzem à perda rápida de peso, mas boa parte dessa perda vem de massa muscular, o que compromete gravemente a saúde na menopausa e no climatério”.
O problema se agrava entre as mulheres que não praticam atividade física, explica o ginecologista Dr. Igor Padovesi, autor do livro Menopausa Sem Medo (Editora Gente). Ele destaca que a perda de força e massa muscular reduz a qualidade de vida e aumenta o risco de doenças metabólicas, fraturas e dores articulares.
A Dra. Marcella Garcez complementa que “os principais desafios nesse período estão relacionados à perda de massa muscular e à diminuição da força, que podem levar a uma pior qualidade de vida, pois a perda muscular está associada a uma série de problemas de saúde, como redução da densidade óssea, aumento do risco de fraturas, diminuição do metabolismo basal e maior suscetibilidade a doenças cardiometabólicas”.
Sem músculos, o corpo “queima menos calorias, perde sustentação e aumenta o risco de quedas e dores articulares”, alerta Dra. Patricia Magier.
A endocrinologista Dra. Deborah Beranger alerta para outro perigo silencioso: o acúmulo de gordura no fígado. “A condição agora recebe o nome de doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD) e tem se tornado uma das principais causas de transplante de fígado entre mulheres na pós-menopausa. Embora envelhecer naturalmente envolva mudanças no metabolismo, como maior acúmulo de gordura abdominal e menor gasto calórico, a depleção de estrogênio pode ter papel ainda mais relevante na saúde do fígado.”
Reposição hormonal e mudança de hábitos fazem diferença
Os especialistas concordam que hábitos saudáveis são fundamentais, mas muitas vezes é preciso ir além. “Ao repor esses hormônios nas doses certas e com os hormônios mais adequados (hoje usamos os bioidênticos), podemos ajudar a melhorar a composição corporal, facilitando o ganho de massa magra quando a paciente faz atividade física, e isso reflete na qualidade de vida”, explica o Dr. Igor Padovesi. A endocrinologista Dra. Deborah Beranger acrescenta que o tratamento é individualizado, variando conforme as queixas e necessidades de cada mulher.
Além da composição corporal, a queda do estrogênio também afeta a saúde óssea. Segundo a Dra. Patricia Magier, o hormônio tem papel importante na renovação do tecido ósseo. “Com a queda hormonal, aumenta a atividade de quem 'absorve osso' e diminui a produção desse osso. Se a paciente não faz terapia de reposição hormonal, não tem uma boa alimentação e não faz atividade física, essa perda da densidade óssea aumenta o risco de osteoporose, fraturas e até mortalidade.”
As alterações hormonais ainda interferem no humor e na disposição. A endocrinologista Dra. Deborah Beranger explica que “a menopausa aumenta muito o grau de ansiedade, de irritabilidade e também aumenta a chance de depressão, já que há uma alteração dos neurotransmissores do cérebro”.
“As ondas de calor, insônia e fadiga intensificam ainda mais essas alterações relacionadas à saúde mental”, acrescenta a Dra. Ana Paula Fabricio.
Exercício físico e alimentação: aliados contra o efeito sanfona
A Dra. Deborah Beranger destaca que “existem estudos que comprovam que a atividade física diminui muito a sensação de fogacho, então a paciente tem que fazer exercício regular, pelo menos três vezes por semana, por uma hora”.
Já a Dra. Marcella Garcez reforça que a alimentação adequada é essencial para preservar músculos e energia. “Algumas estratégias alimentares podem ajudar a preservar a massa muscular, como o consumo adequado de proteínas, essenciais para a síntese muscular... proteínas de alto valor biológico, com todos os aminoácidos essenciais, devem estar presentes e distribuídas em todas as grandes refeições, diariamente.”
Ela também recomenda o consumo de carboidratos complexos, frutas, vegetais, grãos integrais e alimentos ricos em antioxidantes, além de hidratação adequada. Tudo isso ajuda a reduzir o estresse oxidativo e apoiar a saúde muscular.
Emagrecer após os 50 é possível, mas exige um olhar mais amplo que vá além da balança. “Não se trata apenas de perder peso, mas de preservar o que o corpo tem de mais valioso: força, vitalidade e qualidade de vida”, conclui Dra. Patricia Magier.
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