A candidíase recorrente é uma infecção fúngica comum entre as mulheres. Apesar de ser incômoda, medidas simples são eficazes na prevenção.
Mariana Valle | 12 de Agosto de 2022 às 16:30
Como uma floresta tropical, a vagina é um ecossistema complexo e delicado, lar de uma quantidade infinita de micro-organismos – tanto “bons” como “maus” – incluindo o fungo Candida albicans. Esse fungo, muito comum, reside na vagina de metade de todas as mulheres. No entanto, se o ecossistema entrar em desequilíbrio, os fungos podem se expandir, causando coceira, ardência e dor – a tão famosa candidíase.
A doença afeta 75% das mulheres no Brasil e pode surgir em diferentes fases da vida. Entretanto, caso a mulher apresente mais de quatro episódios por ano, o problema passa a ser chamado de candidíase recorrente. Ainda que mudanças na alimentação e nos hábitos sejam eficazes, o tratamento deve ser realizado com o auxílio de um ginecologista. Dessa forma, o médico pode analisar a incidência e a gravidade do problema, indicando o melhor caminho para tratá-lo.
A sua candidíase é recorrente? Mantenha-se livre de infecções, ficando atenta a estes conselhos!
O corrimento espesso e a irritação intensa provocados pela candidíase vaginal afligem a maioria das mulheres em alguma fase da vida. Com menos frequência, os homens também podem desenvolver candidíase genital, embora não apresentem qualquer sintoma aparente.
Pequenos microrganismos inofensivos vivem de forma harmônica no revestimento da vagina, do trato digestivo e da pele. Esses germes benéficos auxiliam a digestão, combatem os patógenos e ajudam o organismo a fabricar nutrientes essenciais. A vagina é um meio úmido e aquecido, muito propício à proliferação de vários fungos, principalmente Candida. Assim, quando há um desequilíbrio na microbiota vaginal, pode ocorrer o crescimento excessivo de microrganismos, especialmente a Candida albicans.
À medida que o fungo se multiplica, um corrimento branco e espesso, semelhante ao coalho de leite, é eliminado e a região genital externa apresenta prurido e fica inflamada, o que pode causar ardência ou dor durante a relação sexual. Além disso, o corrimento branco também pode apresentar um odor mais forte, principalmente em casos de candidíase recorrente.
A candidíase benigna pode aumentar descontroladamente quando o pH ou o equilíbrio entre as bactérias e fungos na vagina é alterado. Variações hormonais da gravidez ou decorrentes do uso de anticoncepcional costumam alterar o pH vaginal, ocasionando a candidíase. O uso de antibióticos também pode causar candidíase, ao eliminar as bactérias benéficas que impedem a multiplicação desregrada de Candida.
A candidíase também pode ser desencadeada pela debilidade do sistema imunológico acarretada por estresse, privação de sono, quimioterapia, AIDS e diabetes. Além disso, usar roupas íntimas de tecido sintéticos como náilon, jeans apertados, tampões desodorizantes ou duchas pode aumentar o risco de infecção.
Faça da alimentação a sua aliada! O aumento dos níveis de bactérias probióticas no organismo pode impedir o crescimento excessivo de Candida na vagina. Essa microbiota benéfica ajuda a manter o meio ácido que impede a multiplicação descontrolada desse fungo irritante. Confirmando a crença popular, algumas contatações clínicas sugerem que o consumo de quantidades apropriadas de iogurte com culturas de bactérias ativas como Lactobacillus acidophilus, ajuda a aliviar os sintomas de candidíase e a diminuir o risco de infecções frequentes.
Como as bactérias probióticas se desenvolvem em açúcares não-digeríveis, conhecidos como fruto-oligossacarídeos (FOS), o consumo de mais FOS pode favorecer o crescimento das bactérias benéficas. Acredita-se que esses compostos alimentam a microbiota benéfica, aumentando e favorecendo seu crescimento no organismo.
O alho parece ser um agente natural potente contra essa infecção; estudo in vitro com animais indicam a capacidade do bulbo inibir o crescimento da Candida albicans, o microrganismo responsável pela candidíase. Acredita-se que a alicina, substância altamente ativa que confere ao alho seu cheiro característico, seja responsável pela atividade antifúngica desse vegetal.
Ao aumentar a imunidade, a vitamina C ajuda a prevenir a candidíase. Há indícios de que essa vitamina, abundante nas frutas e no pimentão, estimula os leucócitos que combatem a infecção e fortalecem as defesas imunológicas. De acordo com estudos laboratoriais, um composto extraído da pimenta-de-caiena, CAY-1, pode vir a ser um poderoso aliado no combate a uma série de micróbios, incluindo o fungo que desencadeia a candidíase. O CAY-1 é um agente natural de proteção da pimenta-de-caiena contra os fungos do habitat tropical. Em princípio, o composto não apresentou efeitos tóxicos em células humanas.
A nutricionista Waleska Silveira esclarece alguns alimentos que podem prevenir a candidíase recorrente e como funciona a atuação deles no organismo:
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Esqueça a onipresente lingerie de náilon e dê preferência às antiquadas calcinhas de algodão, que deixam o ar entrar e impedem que os fungos se reproduzam. E sempre use calcinha por baixo da meia-calça.
Depois de um banho, use um secador, na opção mais fria (para não se queimar), secando a área vaginal antes de se vestir. E troque o maiô molhado o mais rápido possível. Fungos adoram ambientes úmidos.
Depois de evacuar, limpe-se da frente para trás, nunca de trás para a frente. Uma das teorias sobre candidíase é que bactérias chegam à vagina vindas do reto e descontrolam o sistema que mantém os fungos em equilíbrio.
Alguns estudos sugerem que consumir diariamente 240 ml de iogurte que contenha culturas vivas de bactérias ativas ajuda a manter um ambiente vaginal saudável, reduzindo assim o risco de infecções de repetição.
Não use papel higiênico, absorvente ou tampões coloridos ou perfumados, pois todos eles podem romper o ambiente normal da vagina.
Depois de comprar seus absorventes e tampões, saia da seção de produtos femininos. Não há necessidade de aplicar duchas, talcos ou sprays, que podem irritar a área genital.
Se você já fez pão em casa, sabe que, para que a massa do pão cresça, o fermento precisa de açúcar. Por esse motivo, mulheres diabéticas são muito mais vulneráveis a ter candidíase.
Assim como as mulheres diabéticas apresentam mais tendência a ter candidíase, as que são resistentes à insulina também têm. Essa condição acontece quando as células ficam resistentes à insulina, elevando a taxa de açúcar no sangue a níveis inaceitáveis.
Alimentos preparados com açúcar, xarope de glicose de milho, rico em frutose, e farinha de trigo induzem resistência à insulina porque elevam a glicemia. Dessa forma, a maioria dos produtos de panificação encontrados em mercados, bem como bolachas, biscoitos, salgadinhos e bebidas açucaradas causam esse efeito. Além disso, o arroz branco, tão presente na mesa dos brasileiros, também pode ser um vilão.
Dê preferência a alimentos com baixo índice glicêmico, que têm menor efeito na glicemia. Estes incluem alimentos com alto teor de fibras, como hortaliças, feijões e grãos integrais. As gorduras boas do azeite de oliva, dos frutos oleaginosos, como nozes e sementes, e do abacate também podem ajudar, assim como alimentos com proteína magra.
Até 30% das mulheres em tratamento com antibióticos estão propensas a infecções por fungo. Isso porque, esses medicamentos podem matar bactérias boas que mantêm a flora vaginal equilibrada. Dessa forma, se você estiver se tratando com antibióticos e for propensa a ter candidíase, pense em tomar um suplemento probiótico (suplemento de bactérias “benéficas”). Lactobacilos ajudam a manter o equilíbrio da flora vaginal. Ainda assim, você pode optar por tomar, todos os dias, uma xícara de iogurte com culturas vivas de bactérias ativas.
Também tenha sempre à mão um creme ou óvulo antifúngico (miconazol ou clotrimazol) para usar ao primeiro sinal de coceira na vagina. Mas, para isso, consulte o seu ginecologista para ter recomendações de medicamentos confiáveis.