Uma pesquisa global prevê um aumento anual de 67,5% nas mortes causadas por microrganismos que desenvolvem resistência a medicamentos
Luana Viard | 17 de Setembro de 2024 às 18:00
Em 25 anos, o número de mortes globais causadas pela resistência a antimicrobianos deve atingir 39 milhões, com 1,91 milhão de óbitos anuais diretamente ligados a essa crise, representando um aumento de 67,5% em comparação com 2021 (1,14 milhão).
No relatório mais abrangente sobre o assunto, publicado na revista The Lancet, pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, alertam que microrganismos resistentes a medicamentos também serão responsáveis por 169 milhões de mortes adicionais, por causas indiretas, entre 2025 e 2050.
A resistência antimicrobiana (RAM) acontece quando bactérias, vírus, fungos e parasitas evoluem e passam a não reagir mais aos medicamentos, o que torna as infecções mais difíceis de tratar e eleva o risco de doenças graves e morte.
Antimicrobianos, que englobam antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasitários, são empregados em humanos, animais e plantas. A perda de eficácia de muitos desses medicamentos, usados em larga escala, é vista como uma ameaça global pela Organização Mundial da Saúde.
No estudo, os pesquisadores utilizaram modelos computacionais para calcular a taxa atual de mortalidade e prever a tendência de óbitos relacionados à resistência de 22 microrganismos, 84 combinações de patógenos e medicamentos, e 11 síndromes silenciosas, como meningite e infecções na corrente sanguínea.
A análise incluiu pessoas de todas as idades em 204 países, incluindo o Brasil, e as estimativas foram baseadas em registros médicos de 520 milhões de indivíduos.
As análises destacam o efeito da resistência antimicrobiana (RAM) na saúde ao longo de 30 anos e projetam a mortalidade potencial para o período de 2025 a 2050. Os dados mostraram que, entre 1990 e 2021, mais de um milhão de pessoas morreram anualmente devido à resistência. Durante esse período, os óbitos relacionados à RAM em crianças menores de 5 anos reduziram-se em 50%, enquanto aumentaram mais de 80% entre indivíduos com 70 anos ou mais.
Durante o período analisado, as mortes associadas à S. aureus resistente à meticilina (MRSA) tiveram um aumento global significativo, resultando em 130 mil óbitos em 2021, mais do que o dobro dos 57,2 mil registrados em 1990. Entre as bactérias gram-negativas, que são algumas das mais resistentes aos medicamentos, a mortalidade subiu de 127 mil em 1990 para 216 mil em 2021.
As projeções apontam que a taxa de mortalidade entre crianças continuará a diminuir, com uma redução de 50% até 2050 em comparação a 2022, caindo de 204 mil para 103 mil. No entanto, esse declínio será superado pelo aumento da mortalidade em outras faixas etárias, especialmente entre pessoas com mais de 70 anos, onde se prevê um crescimento de 146% até 2050, subindo de 512.353 para 1.259.409.
O estudo também revela variações significativas nos impactos globais. Nos países de alta renda, espera-se um aumento de 72% nas mortes relacionadas à resistência antimicrobiana entre os idosos. Em contraste, no Norte da África e no Oriente Médio, a projeção é de um aumento de 234% nos casos entre pessoas com mais de 70 anos.
O estudo também indica que é possível salvar até 92 milhões de vidas em todas as idades entre 2025 e 2050, ao aprimorar os cuidados de saúde, implementar medidas preventivas mais eficazes e fazer um controle mais rigoroso dos antimicrobianos. Entre as estratégias recomendadas estão a expansão da vacinação, a redução do uso inadequado de antibióticos e o desenvolvimento de novos medicamentos.
"Os antimicrobianos são um dos pilares da assistência médica moderna, e o aumento da resistência a eles é uma grande causa de preocupação", disse, em nota, Mohsen Naghavi, líder do estudo e cientista da Universidade de Washington. "A RAM tem sido uma ameaça global significativa à saúde por décadas e essa ameaça está crescendo."
Segundo o pesquisador, "entender como as tendências nas mortes por RAM mudaram ao longo do tempo e como elas provavelmente mudarão no futuro é vital para tomar decisões para ajudar a salvar vidas".
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