Visitas anuais ao dentista previnem doenças na gengiva e cáries nos dentes. De uma a quatro vezes por ano são suficientes.
Elen Ribera | 17 de Fevereiro de 2020 às 12:00
O dentista percebe que você usa o fio dental com a mesma frequência com que troca de colchão. Passa mais tempo pondo pasta na escova do que escovando os dentes. Dentistas percebem essas coisas e também sabem de antemão quando você insiste em pedir um tratamento cujo resultado final não vai ser o que você esperava.
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Consultamos profissionais de todo o país para que nos contassem o que realmente pensam quando examinam os nossos dentes. Veja o que eles disseram.
1. Algumas pessoas muito instruídas acham que, se nada na boca dói, tudo vai bem. O colesterol alto também não dói, mas é um baita problema. Acho que a população em geral não compreende que a boca faz parte do corpo.
2. Muitos pacientes meus têm doença periodontal nos dentes de trás, mas os da frente estão bons. Outros têm doença periodontal nos espaços entre os dentes e nas partes internas deles. Isso mostra que as pessoas são mais eficientes na escovação daquilo que enxergam e se esquecem do que exige um pouco mais de esforço para ser alcançado. Graças a isso convivem com a inflamação típica da doença periodontal, por anos, o que pode trazer sérios problemas para a boca e para toda a saúde do corpo.
3. Se suas mãos sangrarem na hora de lavar, você corre para o médico. Mas, se o mesmo ocorrer na gengiva, a maioria das pessoas acha normal. A menos que se esteja forçando demais a escovação, gengiva sangrando é doença periodontal e ponto final.
4. O conselho de consultar o dentista duas vezes por ano só se aplica a quem tem gengivas saudáveis. E a maioria não tem. Pessoas com doença periodontal devem fazer consultas de controle pelo menos três a quatro vezes por ano.
5. O paciente com doença grave das gengivas deve usar mais vezes o fio dental. É importante manter o local mais limpo a fim de evitar a exacerbação da doença no seu período agudo.
6. Tem gente que me procura com os dentes comprometidos e diz: “Herdei os dentes fracos do meu avô.” As pessoas preferem se convencer de que seus problemas bucais decorrem de heranças ou tendências. Lembro que a principal tendência – na maioria das vezes – é a de não limpar os dentes com a qualidade e a regularidade necessárias e de ir ao dentista apenas nos momentos de desconforto ou dor.
7. A quem me pergunta se é necessário passar o fio dental em todos os dentes, eu costumo responder que não. Só devemos passar o fio dental nos dentes que queremos conservar!
8. Quando conhecemos alguém, a primeira coisa que notamos são os olhos. A segunda são os dentes e a terceira é o cabelo. Mas todos gastam muito mais dinheiro com o cabelo do que com os dentes. Parece haver uma inversão de valores quanto à saúde bucal.
9. Se você tem mau hálito, só vamos dizer se você perguntar.
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10. Escovar não vai fundo na gengiva a ponto de alcançar a placa que provoca o mau hálito. O uso do fio dental, antes de cada escovação, é imprescindível. Ele remove as partículas de alimento dos sulcos gengivais, e a escova, junto com o dentifrício, faz o resto.
11. Pacientes com aparelhos fixos de correção dentária costumam se queixar de mau hálito. É importante lembrar que restos alimentares ficam presos ao aparelho; por isso é necessário escovar os dentes a cada alimento ingerido.
12. Quem fuma tenta disfarçar com balas de hortelã e líquidos para bochechar, mas o mau cheiro está entranhado no tecido da gengiva e na boca.
13. Bochechos com soluções mentoladas só mascaram problemas periodontais mais sérios. Não dá para corrigir o mau hálito sem tratar a doença que o provoca.
14. Há um limite ao que a pasta de dentes pode fazer. Nova fórmula branqueadora? Ela pode tirar manchas superficiais, mas não vai branquear como o tratamento específico.
15. Existem pessoas que deixam a escova destampada sobre a pia. Mas, ao darem descarga, estão contaminando a escova com coliformes fecais. O ideal é guardá-la no armário ou na gaveta, ou usar um protetor. Se ficar exposta, faça a higienização colocando a escova de molho em solução com clorexidina.
16. Escovas elétricas são boas, mas não melhores do que as tradicionais. Elas imprimem sobre os dentes uma mesma força, não atingindo áreas de difícil limpeza. O que faz a diferença na escovação é a dedicação e o tempo.
17. Naturalmente, mesmo em pessoas sadias, a boca é cheia de bactérias, portanto é impossível esterilizá-la. Mas não se preocupe. Uma boa técnica de higienização, que empregue corretamente a escova e o fio dental, e um controle adequado da alimentação são suficientes para se manter dentes e gengivas saudáveis.
18. Não é raro ver uma criança linda e bem-vestida com dentes cariados até a gengiva. E recebo adolescentes de família rica com nove cáries. É o colapso total da supervisão dos pais.
19. Nos últimos 20 anos, advertimos os pais sobre as cáries em dentes de leite, para que não deixassem a criança dormir com a mamadeira adoçada. Mas ainda há tolerância com o consumo de açúcar e alimentos inadequados na infância.
20. As bactérias que causam a doença cárie podem passar da mãe para o bebê pela saliva. Se a mãe tem lesões de cáries ativas, ela contamina a criança quando passa alimentos da sua boca para a do bebê (prova a comida dele) ou por meio de beijinhos na boca, pondo em risco a saúde do filho.
21. Crianças com problemas dentais podem não ter bom rendimento escolar. Com dor de dente, ela não dorme bem à noite e, por isso, não rende durante o dia. Na escola, passa mal, tem sono e chega agitada. Além disso, não se alimenta bem.
22. Muitos dentes de leite com abscessos ou bem cariados são extraídos de crianças no Brasil. Muitos pais acham que não há razão para cuidar dos dentes de leite porque eles vão cair e serão substituídos por permanentes. Mas, quando um dente cai de forma prematura, os outros podem se amontoar para preencher o espaço, dificultando a erupção dos definitivos. Sem o tratamento correto de manutenção do espaço, o desenvolvimento do sistema mastigatório pode ficar seriamente comprometido.
23. Chamo refrigerantes de lixas líquidas. Eles dissolvem os dentes. E não é só por causa do açúcar, mas do ácido.
24. Muitos dentistas indicam a goma de mascar à base de xilitol para reduzir as bactérias da boca. No entanto, seu uso contínuo pode provocar danos na articulação temporomandibular. Esporadicamente, caso não seja possível a escovação, pode-se optar pela goma.
25. Há quem desista do branqueamento dentário porque o gel irrita dentes e gengivas. Basta usar um gel ou algum produto de enxaguar que contenha flúor antes e depois; os dentes ficarão bem menos sensíveis.
26. Quando se faz piercing na boca (língua e lábios), há um risco imenso de infecção se o ambiente não for de fato esterilizado. Mesmo quando tudo dá certo, muitos pacientes com piercing na língua podem lascar os dentes da frente. Sempre oriento meus pacientes a não usar piercing!
27. Obturações de amálgama liberam pequena quantidade de mercúrio na boca com o desgaste. Mas seria preciso ter umas 300 obturações para que o nível de mercúrio subisse a ponto de ser perigoso.
28. Obturações de amálgama ainda são excelentes materiais, mas, hoje, com a evolução das resinas (da cor do dente), e considerando o seu valor estético, fica difícil indicar amálgamas, principalmente em consultórios particulares.
29. Recebo muitos pacientes que querem trocar restaurações de amálgama por restaurações estéticas, da cor do dente. Só se deve sugerir a troca caso haja alguma alteração com a restauração, ou presença de cárie.
30. Muitos pacientes acham que radiografias feitas no consultório podem causar câncer. Mas quem fica exposto ao sol forte por uma hora recebe mais radiação do que quem radiografa os dentes. O que não é concebível é deixar de diagnosticar algo grave por não se fazer a radiografia.
31. Na falta de dentes, o mais provável é que o plano de saúde não cubra os implantes. Apesar disso, eles são melhores do que a maioria das dentaduras em todos os aspectos.
32. A maioria dos planos de saúde no Brasil não cobre os custos de uma reabilitação com prótese. Uma coroa pode custar em média R$ 1.000. Geralmente, as dificuldades financeiras levam as pessoas a optar pela extração de dentes que poderiam ser tratados porque não podem pagar pelo serviço.
33. Os pacientes da odontologia se consideram consumidores que estão ali para comprar uma obturação como se fosse um par de tênis. Eles precisam se conscientizar de que a boca pode ser a via de entrada para doenças do coração, das articulações e infecciosas, e o cuidado com a saúde bucal faz parte do cuidado com a saúde geral.
34. Dentes desalinhados ou ausentes podem provocar dor na articulação temporomandibulare na coluna cervical, além de prejudicar a mastigação e o processo digestivo, que começa pela boca.
35. Sabemos que a saúde bucal influencia diretamente na saúde geral. Mas o contrário também é verdadeiro. Por exemplo, um dos sinais de diabetes não controlado é a gengivite. Quando fazemos coletas do sulco gengival de pacientes comprovadamente diabéticos ou pré-diabéticos podemos descobrir bactérias patogênicas que influenciam o estado glicêmico e prejudicam a saúde sistêmica do paciente. Assim, conseguimos tratar com mais segurança a periodontite (perda óssea em torno dos dentes) e minimizar a ação agressiva do diabetes no corpo.
36. Algumas pacientes chegam com fotos de celebridades e dizem: “Quero ficar igual a ela.” E eu penso: Você não pode ter um sorriso igual ao da Angelina Jolie, porque o seu rosto não combina com aqueles dentes.
37. Os dentes ficam mais brancos quando ressecam. Alguns dentistas prometem que seu trabalho no consultório deixará os dentes quatro tons mais claros. Mas, depois de ficar uma hora de boca aberta, os dentes do paciente já ficam alguns tons mais claros só por causa da desidratação. Não se pode prometer ao paciente que seu dente ficará tantas vezes mais branco. Ou seja, o resultado vai depender da idade da pessoa e do próprio dente.
38. Quem branqueia os dentes com muita frequência pode afinar o esmalte. Os dentes podem acabar quase translúcidos.
39. O que mais escuto no consultório é: “Doutora, eu morro de medo de dentista!” Tudo seria menos traumático se houvesse a visita regular e o correto cuidado com a saúde bucal. Talvez se a população não esperasse ter dor de dente para procurar um dentista, essa relação medo/dentista diminuísse.
40. Todos deveriam receber cuidados dentários básicos. Apesar de o atendimento de saúde pública na área odontológica no Brasil ainda não ser o ideal, o paciente que vai ao dentista de uma a duas vezes por ano e segue as orientações consegue ter boa saúde bucal.
41. No Brasil, sabe-se que nem todos têm condições financeiras de tratar os dentes. É comum a pessoa pensar logo em extrair um dente, pois quer se ver livre da dor. Mas a simples extração sem reposição não é tratamento.
42. Pode-se dizer que dentes implantados aumentam a libido, talvez porque as pessoas ficam mais confiantes sem falhas de dentes nem dentaduras deslizando por todo lado.
43. Muitas pessoas sem um plano de saúde dentário só procuram o dentista quando a situação é trágica. Como não optaram pela prevenção, na hora de fazer um tratamento mais abrangente podem ser surpreendidas com orçamentos muito caros, podendo ultrapassar os 15 mil reais!
44. Digo aos pacientes muito nervosos que podemos lhes receitar ansiolíticos como midazolam e diazepam, a serem tomados mais ou menos uma hora antes da consulta; basta trazer alguém que dirija para levar o carro na volta.
45. A odontologia cosmética só funciona numa boca saudável. Mas muitos pacientes procuram o dentista para colocar aparelhos ortodônticos, fazer clareamento ou suprir a ausência de um dente com um implante. No entanto, antes avaliar a saúde bucal, observar se há cárie, doença periodontal ou algum tratamento de canal a ser realizado.
46. O capeamento ou os laminados de porcelana devem ser usados para resolver um problema estético que esteja causando incapacidade de sorrir naturalmente. Eles são excelentes para aumentar os dentes e corrigir deformidades de cor e forma, mas, se você quer que os dentes fiquem mais brancos, é preciso branqueá-los. Muitas vezes, o capeamento é feito de forma errada, fazendo com que os dentes fiquem mais largos e quadrados. Isto confere ao sorriso um aspecto de teclas de piano, como tenho visto muito na TV, o que não é a forma de beleza ideal da natureza dos dentes.
47. Alguns dentistas dizem que o paciente precisa de limpeza profunda porque o plano de saúde paga mais por ela do que por uma limpeza normal. Mas a menos que o exame mostre que o paciente tem muito tártaro nas raízes ou outros sintomas específicos de doença, o mais provável é que ela não seja necessária. É preciso que os colegas tenham consciência do Código de Ética; isto é, aplicar o correto tratamento visando à saúde do paciente seria o mais interessante.
48. Ao escolher um dentista, verifique se suas revistas da sala de espera são atuais, pois isso demonstra atenção aos detalhes.
49. Muitos vêm para a consulta sem saber o que o plano cobre. Pensam que temos todas as informações de todos os planos. Mas não temos.
50. Faz parte da boa educação comparecer a uma consulta odontológica com os dentes escovados e sem hálito de alho, cebola etc.
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