Entenda o que é a pregorexia, transtorno alimentar na gravidez que traz sérios prejuízos à saúde física e mental da gestante e do bebê.
Para algumas mulheres, nem tudo são flores na gestação. Algumas sentem-se desconfortáveis vendo as mudanças no próprio corpo, com o aumento do peso e das mamas. Mas qual é o limiar entre preocupação com a saúde e obsessão pelo peso? Conhecida como pregorexia, esse transtorno alimentar faz com que as mulheres tenham uma preocupação exagerada em não ganhar peso na gravidez.
O nome pode causar certo estranhamento logo de imediato, mas ele vem de uma junção de pregnant (“grávida”, em inglês) com anorexia.
Seja por uma pressão estética da sociedade, ou por padrões comportamentais anteriormente seguidos (como é o caso de mulheres que já desenvolveram transtornos alimentares em algum momento de sua vida), a pregorexia traz muitos problemas à saúde física e emocional da gestante. E se não for controlada, pode gerar riscos à formação do feto também.
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“Gerar uma vida de uma maneira natural é algo que traz transformações não só no nível biológico, físico, mas também transformações muito impactantes no aspecto emocional e afetivo de uma mulher. E naturalmente é esperado que existam muitas preocupações em relação à forma física, à aparência, que inevitavelmente são aspectos afetados pela gestação e no pós-parto”, explica a psicóloga e psicanalista Juliana Picoli, de São Paulo.
Em uma gestação saudável, é natural que a mulher ganhe em torno de 12kg ao longo dos nove meses. Esse valor corresponde à presença do feto, retenção de água, aumento do volume de sangue circulante e ganho de gordura. Mas apesar de ser inevitável, muitas mulheres põem sua saúde e a do seu bebê em risco para não ganhar peso.
“A pregorexia surge como um termo que designa algum prejuízo ou sofrimento à mulher. Então se durante a gestação essa mulher apresenta uma preocupação demasiada com a imagem corporal e um comportamento que demonstre hábitos alimentares restritivos, com uma preocupação em não ganhar peso, restrição alimentar e a manutenção de exercícios físicos para além daquilo que é recomendado na gestação, seguido por episódios de compulsão alimentar, pode-se falar em pregorexia”, afirma.
A psicóloga explica que a compulsão alimentar ocorre naqueles episódios em que há um consumo de alimentos em grandes quantidades, a despeito da fome. “Não são apenas alimentos gostosos, mas quaisquer alimentos que estejam ali disponíveis no momento da angústia. Esses episódios geralmente são seguido de expurgação e/ou de total privação de alimentos depois.”
Alerta vermelho para pregorexia
Nem sempre é fácil reconhecer a existência de um transtorno alimentar. Assim como acontece na ortorexia, quando a pessoa é obcecada por formas de alimentação saudável e dietas em geral em prol de um corpo perfeito, na pregorexia também há uma preocupação com o que se come.
“Consideramos que algo é um sinal de alerta quando passa a trazer prejuízos para o comportamento e para o modo de ser de uma pessoa. E na pregorexia, para além das preocupações naturais, há um estado de angústia e ansiedade diante da forma física e dos hábitos alimentares trazendo prejuízos ao seu desenvolvimento”, explica a psicóloga e psicanalista Juliana Picoli.
Mulheres em que algum momento da vida tenham manifestado sintomas ou tido um diagnóstico de transtorno alimentar, como anorexia, bulimia, ou compulsão alimentar, podem ser mais predispostas a desenvolver a pregorexia.
“Isso ocorre em função da oscilação hormonal, mudanças no humor e transformações no âmbito das emoções. Não necessariamente uma mulher que tenha tido algum desses casos em sua história vai desenvolver a pregorexia, mas há uma maior predisposição, sim”, explica.
Pressão estética
Muitas vezes as mulheres são influenciadas negativamente pelo bombardeio midiático a respeito de seus corpos. Um exemplo disso são as influencers no Instagram, que cultuam uma imagem que muitas vezes não pode ser alcançada sem uma série de procedimentos estéticos (como a famosa Lipo Lad, que vem conquistando as celebridades). E assim, mesmo durante a gravidez, pode haver uma pressão muito grande para manter a tal da “boa forma”.
“De uma maneira geral, as mulheres são bombardeadas por exposições midiáticas que fazem com que muitas delas ainda acreditem que precisam caber em determinado padrão de beleza para que sejam aceitas e reconhecidas socialmente. E isso não seria diferente durante a gestação. Principalmente numa época em que tantas blogueiras e influencers de beleza fazem desse momento uma oportunidade de construção de uma ideia irreal do que é gerar um filho e o papel da maternidade”, explica a psicóloga Juliana Picoli.
Essas mulheres, que costumam ter mais recursos, e que muitas vezes são patrocinadas por grandes marcas, conseguem “reconstruir sua forma” após a gestação com muito mais facilidade. O que pode gerar em muitas outras mulheres o desejo de conseguir o mesmo — a qualquer custo.
“Com os recursos que vêm desses patrocínios, a vida é muito mais fácil. Mas as mulheres da vida real acabam se esquecendo que ali existe toda uma construção de uma personagem. E acabam se identificando e buscando a construção desse ideal, sem perceber o quão prejudicial isso pode ser, trazendo um sofrimento emocional muito grande”, conclui.
A importância da rede de apoio
Como geralmente a pregorexia não é percebida pela própria gestante, mas pelas pessoas ao seu redor, é muito importante que a rede de apoio esteja atenta e disponível para a mulher. Principalmente quando percebem, através de seu comportamento ou relatos verbais, uma preocupação excessiva com sua forma física ou com o ganho de peso.
“Muitas vezes as mulheres não conseguem falar sobre suas questões e emoções. Algo muito comum nos transtornos alimentares é que a pessoa não se percebe em sofrimento e por isso não comunica suas necessidades de maneira direta. Por isso é fundamental que haja uma rede de apoio de suporte familiar e social, de modo que seja possível perceber e fazer um acompanhamento em relação ao desenvolvimento físico, ganho de peso e ao desenvolvimento da criança”, acrescenta.
Para além disso, uma rede de suporte multiprofissional, principalmente se for identificado um quadro que indique um transtorno alimentar, também é fundamental. Não apenas durante a gestação, mas no pós-parto, período chamado de puerpério, que naturalmente já é envolto em muitas emoções.
“É importante ter uma rede de apoio composta por um ginecologista obstetra, nutricionista, psicólogo e psiquiatra para que essa mulher possa dispor de um atendimento multiprofissional para não apenas cuidar da própria saúde, mas também permitir o desenvolvimento saudável do seu bebê. Muito provavelmente, se a pregorexia não for cuidada durante a gestação, ela pode continuar manifestando esses sintomas no pós-parto e também durante o processo de cuidado dessa criança. E assim favorecer uma alimentação hipocalórica ou em excesso, visto que a mãe tem uma influência muito grande nos hábitos alimentares do seu filho”, conclui.