Preciso falar sobre 25 anos sem Caio

Eu não conheci Caio, mas ainda assim, ele está muito presente na minha vida e textos. Há 25 anos que ele me inspira como autora e pessoa.

Marina Estevão | 27 de Fevereiro de 2021 às 10:00

Paula Giandali -

Eu não conheci Caio, mas ele foi muito importante pra mim.

Caio me ensinou a gostar de literatura contemporânea e de ser virginiana.

Gostava mais de Caio do que de Clarice, confesso.

(Ela às vezes me confundia.)

Curiosamente, tive um namorado que fazia aniversário um dia depois dele.

E uma cunhada no mesmo dia.

Sim, eu tive muitos virginianos na minha vida.

Acho, então, que eu deveria dizer que gostei muito da parte de Virgem e tals.  

Por causa de Caio eu comecei a escrever sobre amor.

Como na maioria das vezes não dava certo, eu sempre escrevia sobre amores fracassados.

Mas consegui, por causa de Caio, achar beleza na tristeza.

Quando me sentia triste, eu sangrava no papel e saíam coisas lindas.

Caio me ensinou a ver humor nas coisas também, afinal, li a crônica “Deus é naja” diversas vezes.

Quando tudo vai mal, “sempre pode pintar uma jamanta na esquina”.

Em um de seus textos ele menciona que seu coração é um sorvete colorido de todas as cores e saboroso de todos os sabores. E quem dele provar, será feliz para sempre.

Daí em diante, comecei a achar a vida mais bonita.

E que, ora, eu também tinha o coração saboroso e colorido.

Quando Caio Fernando Abreu se foi, eu só tinha três anos.

Que lástima.

Queria muito tê-lo conhecido.

Ir em algum lançamento, esbarrar na esquina.

Talvez levasse cigarros e café, um jornal quem sabe

(tudo que somos diferentes).

Ser amiga dele deve ter sido o máximo.

Receber suas cartas da Europa, imagina.

Quando não havia internet, e era tudo mais vivo.

Cartas com cheiros, sentimentos, sensações.

Eu não sabia nem o que era o mundo ainda, com três anos.

Eu só queria saber de chupar o dedo e ficar com a minha mãe.

Maldita doença que é a Aids.

Assim como todas as outras.

Mas há 25 anos ninguém sabia o que eram as manchas roxas.
Mas que respiro é ter tuas obras vivas e pulsantes.

Por tua causa, quando tudo vai mal, penso na jamanta.

Mas na maioria das vezes, sou coração colorido.