Às vésperas do Natal, uma senhora se vê perdida no labirinto das ruas, sem saber para onde ir nem o que carrega no pacote em suas mãos.
Era véspera de Natal na pequena cidade de Minas. Não havia grandes vitrines decoradas nem ornamentos de luxo nas ruas, mas, acreditem ou não, o Natal também acontecia naquela pequena cidade de Minas.
Como em todos os lugares do mundo, as famílias enchiam as padarias e os supermercados para comprar o que se tornaria a ceia. Cena comum eram as pessoas andando nas ruas com pacotes, panetones, arranjos de flores – até mesmo naquela pequena cidade, que seguia à risca o ritual da festa. Sabiam para onde iam porque pertenciam a algum grupo; o que levavam nas mãos tinha roteiro certo em alguma mesa.
Bem… nem todos.
A senhora na esquina com um pacote nas mãos apenas obedecia ao que parecia ser um ritual, mas havia uma diferença. Ela não sabia para onde ia nem o que faria com o pacote. Sequer adivinhava o que havia dentro do embrulho, que parecia aqueles que embalavam salgadinhos. Ela mesma havia comprado minutos antes, mas esqueceu o propósito, assim como não conseguia encontrar dentro dela um motivo razoável para estar ali na esquina sem rumo: para onde iria? Virar à direita e subir a rua da igreja? Ou à esquerda e se perder no parque? Em frente, subiria toda a avenida e no sem fim depois do último sinal talvez fosse a saída da pequena cidade e o começo da estrada.
Como não sabia para onde ir, continuou ali na esquina com o pacote nas mãos.
Depois de quase uma hora observando os que iam e vinham com algum propósito, certa de que seus pacotes e passos teriam um rumo, ela percebeu, em um surto de lucidez, que seu pacote não tinha destino – não havia para onde levar o que havia comprado porque não havia ninguém à espera dela em lugar algum.
Então começou a andar como se a cidade fosse um labirinto cheio de ruas que davam para o nada; ficou ali o dia inteiro e a noite também. A ceia foi na calçada, sozinha. Desembrulhou o pacote e viu que eram realmente salgadinhos. Agradeceu a fome desesperada que a fez comer tudo.
Pelo menos tinha fome, o que era uma vitória na solidão.