Nós estamos no pior momento da pandemia, e devemos lutar para que direitos básicos sejam garantidos a todos. Toda ajuda é válida.
Lucas Rocha | 13 de Abril de 2021 às 15:00
Nós estamos no pior momento da pandemia. Talvez você esteja cansado de ouvir falar sobre isso, mas o número constante e elevado de mortes no Brasil não nos faz esquecer de que estar vivo e bem alimentado, em vista de tudo o que está acontecendo, é algo a ser celebrado. Porque não é todo mundo que está assim. Muita gente está com fome.
Não sei como você está lidando com tudo o que está acontecendo. Não sei se ainda está mantendo o seu emprego, a sua rotina ou até mesmo a sua saúde mental. A minha está sendo constantemente desafiada. Mas uma coisa que aprendi, ao longo desse mais de um ano, é que precisamos nos esforçar coletivamente para tornar as coisas melhores para aqueles que não estão tão confortáveis quanto nós.
A pandemia escancarou diferenças sociais que se tornaram muito mais evidentes agora. Se para uma pessoa de classe média (local onde me incluo e, acredito, a maior parte dos leitores deste site também se incluem) as coisas não estão fáceis, imagina para quem não tem a opção de isolamento? Para quem viu sua fonte de renda ser extinguida de uma hora para outra durante a pandemia?
Quando o poder público não ampara os mais necessitados e o discurso de responsabilidades fica sendo jogado de um lado para o outro, como se não passasse de uma partida sombria de pingue-pongue, devemos lutar para que direitos básicos sejam garantidos a todos. Desses, o mais urgente é o direito à segurança alimentar. De acordo com a rede Penssan, 55,2% dos lares brasileiros conviveram com algum nível de insegurança alimentar em 2020, e desses, 9% passaram fome.
Esse é um dado que choca por si só. Mas ainda é um só dado. E, frio como um dado, não nos dá a real dimensão do problema. Porque esse é o problema com os dados: eles são muito impessoais.
Então vou caracterizar esse dado, especificamente o da fome. Ele vai vir na forma de uma frase que ouvi assim que comecei a trabalhar com o desenvolvimento de projetos culturais em uma periferia de São Paulo.
As pessoas que trabalhavam lá me relataram um projeto super bem sucedido de anos anteriores, infelizmente descontinuado por falta de verba. O que me chamou a atenção no relato era que a biblioteca oferecia lanches para os participantes. Quando perguntei o motivo, me responderam: “Porque a gente só consegue alimentar as cabeças com sonhos quando o estômago não está roncando”.
E só então entendi que o projeto era um sucesso, em parte, porque oferecia o direito de as pessoas se alimentarem. E, por mais que o lanche fosse um tipo de recompensa pela participação em algo que muitos deveriam achar uma obrigação chata, era a partir dele que essas pessoas entendiam que a arte e a cultura estavam ali. E que pertencia tanto a elas quanto às pessoas que não vivem nas periferias.
Devemos exigir organização política em um momento como o que estamos passando, mas sabemos que isso não é fácil. Enquanto a curva de casos e mortes por Covid-19 sobe, parece que nossa animação, descrença e esperança em um futuro melhor se tornam cada vez menores. Mas não devemos desanimar. Porque, sim, é difícil, mas há maneiras onde nós, dentro das nossas possibilidades, podemos fazer a diferença. Mesmo que pequena. Mesmo que pareça não mudar nada no grande esquema das coisas.
Sei que a maior parte dos meus textos neste site falam sobre livros ou cultura pop, mas o momento, agora, pede uma urgência maior. Nos alimentar de histórias só será possível quando estivermos alimentados com os nutrientes necessários para ficarmos de pé. Ninguém consegue sonhar quando a barriga roncando não deixa dormir.
Então, dentro das suas possibilidades, procure doar. Doe, mesmo que for pouco. Faça a diferença para a sua comunidade, para as iniciativas do seu bairro ou da sua cidade. Escolha instituições sérias (uma lista delas pode ser encontradas aqui) e contribua como puder. Pode parecer pouco, mas tenho certeza que fará a diferença.
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