Há muitas formas de conhecer o mundo através da literatura, e os quadrinhos são uma excelente opção. Os puristas que me desculpem, mas história em
Lucas Rocha | 29 de Junho de 2021 às 16:00
Há muitas formas de conhecer o mundo através da literatura, e os quadrinhos são uma excelente opção. Os puristas que me desculpem, mas história em quadrinhos é literatura sim!
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É comum relacionarmos quadrinhos com histórias infantis: crescemos com Turma da Mônica, Menino Maluquinho e histórias de super-heróis que salvam o dia no fim de cada história. Mas histórias em quadrinhos podem ser mais do que isso: a união de texto e imagem pode nos fazer refletir sobre o mundo em que vivemos, pode nos ensinar a descobrir outras realidades e podem trazer temas importantes para todas as idades.
Eu particularmente sou fã de histórias em quadrinhos. Ou graphic novels, como se convencionou chamar para que perdessem um pouco do estigma infantilizado. Qualquer que seja o nome, esse formato tem um potencial praticamente inesgotável de explorar sentimentos, narrativas e realidades próximas ou distantes da gente. Nessa lista, trago para vocês algumas das minhas histórias em quadrinhos preferidas!
História autobiográfica, ‘Persépolis’ mostra o crescimento da autora, Marjane Satrapi, durante a revolução xiita do Irã em 1979. Marjane, que cresceu em uma família moderna e politizada, enfrentou o choque da opressão à sua feminilidade, aos seus gostos musicais (especialmente pelo punk rock) e pelos seus sonhos de estudar em uma universidade, algo que se tornou impossível para as mulheres depois da revolução.
É uma história sobre amadurecimento, com surpreendente bom humor e recheado de ironia, que busca entender de que forma uma revolução política pode afetar nossas vidas cotidianas.
Vencedor de diversos prêmios nacionais, entre eles o prêmio Jabuti de melhor história em quadrinhos, ‘Angola Janga’ reconstrói a história de Palmares, considerado um reino africano dentro da América do Sul, demonstrando toda a complexidade da estrutura daquela sociedade que resistiu a todas as ameaças que pessoas negras e escravizadas sofreram. O autor, Marcelo D’Salete, pesquisou durante onze anos sobre Palmares, maior símbolo de resistência no Brasil contra o regime escravocrata, e apresentou em formato de quadrinhos o retrato desse momento.
Outro quadrinhos com fundo biográfico, ‘Pílulas Azuis’ conta uma história de amor. Mas, diferente das histórias convencionais, há um porém nesta aqui: Frederik é apaixonado por Cati, e Cati é portadora do vírus HIV. Isso leva Frederik a uma jornada de entendimento e desconstrução de seus próprios preconceitos, abordada aqui de uma forma extremamente artística e sincera. É um livro repleto de alegorias, de bom humor e de uma discussão importante sobre o entendimento do amor em meio a algum obstáculo.
Vencedor do Prêmio Pulitzer, ‘Maus’ é uma alegoria sobre os horrores do nazismo, onde os judeus são representados pelos ratos e os nazistas representados pelos gatos. Também de fundo biográfico, o autor Art Spiegelman reconstrói a história de seu pai, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz.
Seus personagens são complexos, longe da ideia de mocinho e vilão, e o autor não usa meias palavras (ou meias imagens) para retratar seu pai em todas as suas qualidades e defeitos. Toda a arte do livro é opressiva, em preto e branco, para retratar de maneira mais fiel possível esse momento sombrio da História.
Fechando a lista com esse que é o meu xodó. ‘Arlindo’ conta a história do adolescente de mesmo nome, que mora no Seridó, uma cidadezinha no interior do Rio Grande do Norte. Arlindo é um menino como outro qualquer: apaixonado por Sandy & Junior, participante do time de corrida da escola e ansioso pelo fato de que não sabe como dizer para os outros que gosta de outros meninos. Arlindo é uma história de amadurecimento, de família e de descobrir a importância de nossos amigos e das boas pessoas ao nosso redor.
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