Entenda a estratégia de pesquisadores que usa mosquitos para salvar ave em extinção do Havaí e deixou a internet de queixo caído.
Uma operação inusitada ocorreu nas florestas do Havaí, nos Estados Unidos. Drones lançaram dezenas de cápsulas ecológicas contendo cerca de mil mosquitos cada uma e esses insetos, criados em laboratório, são todos machos, incapazes de picar e portadores de uma bactéria que visa controlar a população dos mosquitos na região.
Entenda o caso
Segundo as autoridades locais, o crescimento da população de mosquitos nas matas locais está causando um declínio significativo e perigoso das aves no local, tais quais os melífagos havaianos, uma espécie que está ameaçada de extinção.
As aves havaianas, que exercem funções essenciais como polinizar plantas e espalhar sementes, além de serem símbolos importantes da cultura local, estão enfrentando uma crise severa. O arquipélago já abrigou mais de 50 tipos de melífagos, mas hoje apenas 17 espécies permanecem, e grande parte delas corre sério risco de desaparecer.
Um exemplo alarmante é o akikiki, um pequeno pássaro cinza que, em 2023, foi considerado funcionalmente extinto na natureza. Outro, o akekeʻe, de penas verde-amareladas, tem hoje uma população estimada em menos de 100 indivíduos. Embora o desmatamento e a urbanização tenham afetado o habitat dessas aves, especialistas como Chris Farmer, da American Bird Conservancy, apontam a malária aviária, transmitida por mosquitos, como a principal ameaça à sobrevivência das espécies nativas.
Os insetos não são nativos da ilha
Embora não façam parte da fauna original do Havaí, os mosquitos foram registrados pela primeira vez no local em 1826, provavelmente levados por embarcações baleeiras sem intenção. Esses insetos se adaptaram com facilidade ao clima quentes e úmido das regiões mais baixas das ilhas, onde encontraram condições ideais para se multiplicar.
Para escapar da ameaça que esses insetos representam, os poucos melífagos ainda existentes migraram para áreas de maior altitude em locais como Maui e Kauai, onde o clima é mais frio e menos favorável aos mosquitos, porém, o território no qual as aves estão seguras vem sendo diminuído gradualmente devido às mudanças climáticas.
"É uma marcha constante de mosquitos subindo conforme as temperaturas permitem, e as aves sendo empurradas cada vez mais para cima até não haver mais habitat onde possam sobreviver”, pontuou Chris Farmer à CNN.
Os pesquisadores seguem em busca de conter o aumento da população de insetos
A técnica que usa mosquitos machos contaminados por uma bactéria para impedir a reprodução foi considerada a melhor solução para salvar as aves em extinção no Havaí. A alternativa evita o uso de pesticidas, que afetam outros insetos nativos, e vem sendo estudada desde 2016 por grupos de conservação.
"Temos uma estimativa aproximada de quantos mosquitos existem na natureza, e tentamos liberar 10 vezes mais desses mosquitos com Wolbachia, para que encontrem essas fêmeas e possam acasalar com elas, e então seus ovos não eclodam", elucidou Farmer.
De acordo com Chris Farmer, esta é a primeira vez no mundo em que a Técnica do Inseto Incompatível (IIT) é aplicada com o objetivo de preservar espécies ameaçadas. Caso os resultados no Havaí sejam positivos, ele acredita que isso possa abrir caminho para iniciativas semelhantes em outras regiões.
Contudo, Farmer diz que a aplicação da técnica no arquipélago havaiano só foi considerada segura porque os mosquitos, ali, não são nativos e chegaram há cerca de dois séculos, não tendo função essencial no ecossistema local. Já em áreas onde esses insetos são parte natural da fauna, a eliminação deles poderia gerar impactos ecológicos imprevisíveis.