Na coluna desta semana o autor Lucas Rocha compartilha a sua experiência de leitura e é categórico “dê chances para livros mal falados”.
Na semana passada, comecei a ler um livro com uma sensação de desconfiança. Isso não acontece muito frequentemente. Quando decido investir meu tempo em uma leitura, gosto de me certificar de que tenho em mãos uma boa história. Que, se eu não gostar dela, será por falta de identificação e não por falta da qualidade daquele livro. Mas esse, em particular, não estava sendo bem falado por pessoas nas quais confio na opinião. E não sei quanto a vocês, mas sou o tipo de pessoa que vê as opiniões de amigos ou mesmo de pessoas que não conheço para avaliar se devo ou não investir o meu tempo na leitura de determinada história. Sim, sou influenciável.
Nesse caso, a desconfiança veio porque a maior parte das pessoas falava que o livro era chato, que nada acontecia e que não valia a pena sequer dar uma chance para aquela história.
Mas lá estava o livro, parado na minha estante, e não teria muita serventia apenas como item decorativo (apesar de ter uma capa linda). Então decidi ignorar os comentários alheios e dei uma chance para a leitura.
Me apaixonei pela história.
Isso me deixou pensativo: quantas histórias, sejam através de livros, filmes ou séries de TV, deixamos de consumir porque vemos comentários que falam que aquela história não é boa? Para quantos autores não damos a chance de conhecer porque nos deixamos influenciar por comentários de pessoas em quem confiamos, mas que não necessariamente concordamos cem por cento do tempo? Não estou falando de casos em que somos confrontados com ideias expressas na história com as quais não concordamos (deixo isso para discussão em outro momento), mas sim quando nos dizem que aquela história é chata, monótona, ou que simplesmente não atende às expectativas criadas pela sinopse.
Quando decidimos nos aventurar por algum novo livro, queremos ter a certeza de que ele vai valer a pena. Não queremos perder tempo porque tempo é precioso e não volta para nós, portanto queremos que ele seja gasto da melhor forma possível. Mas tenho repensado esse posicionamento. Não gostar de algo não significa necessariamente perder meu tempo. Conhecer lugares bons e ruins faz parte da mesma jornada, e o que me move é a curiosidade para sempre continuar explorando. Essa exploração pode resultar em becos sem saída, em matagais ou em construções decadentes, mas também pode me levar para praias desertas e paradisíacas, para topos de montanhas com vistas incríveis ou para vales com água fresca e paz de espírito. Pode ser horrível, mas também pode ser incrível, como foi o caso dessa minha experiência.
Então, se cabe alguma moral para esse texto, essa seria a de se arriscar e de não se preocupar com o que os outros falam quando decidimos colocar algo novo em prática. No meu caso, foi uma leitura, mas isso se aplica a qualquer esfera da vida. Decidir nadar contra a maré pode ser incômodo e pode te frustrar, mas também serve para desbravar lugares desconhecidos. E a viagem pode ser incrível.