Cá entre nós, aparecer de cara limpa no Instagram virou ato de resistência. A rede social popularizou os filtros ultrarrealistas — que, na verdade,
Cá entre nós, aparecer de cara limpa no Instagram virou ato de resistência. A rede social popularizou os filtros ultrarrealistas — que, na verdade, distorcem a realidade para entregar o que muitos encaram como “perfeição” ou “beleza”.
Mas o que acontece quando esses recursos não estão disponíveis? Ali mesmo, online, onde tudo deveria parecer perfeito.
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Sim, nós já estamos voltando à vida “normal”, com medidas de flexibilização às normas da pandemia implementadas em diversas cidades do país. E não tem sido fácil ter que encarar a realidade fora das telas.
“Como assim o olho daquela menina da equipe não é azul?”
“Caramba! Mas eu achei que fulano era mais baixo — na verdade, sempre o vi como uma cabeça flutuante”
É, eu entendo.
E eu também uso filtros.
Mas na última quinta-feira, eles sumiram. Se foi bug ou se foi feature, não posso dizer com cem por cento de certeza. O Instagram tem mudado muitas coisas nos últimos tempos, então qualquer explicação que não venha da empresa pode ser válida (ou não ser).
O fato é que muita gente foi à loucura ao perceber que os filtros sumiram, mesmo que isso tenha durado apenas algumas horas para os usuários afetados (a maioria com conta pessoal). Felizmente, a minha conta — que é comercial — manteve os efeitos.
De todo modo, enquanto uns assumiram que não se garantem sem os filtros, outros colocaram a realidade para jogo, doa a quem doer:
Como sempre, também teve quem só queria fazer piada de toda essa situação:
Mas dismorfia corporal é assunto sério
Como explicamos em um artigo publicado no ano passado, dismorfia corporal é um transtorno psicológico sério, e você não deve deixar de procurar ajuda profissional caso identifique sintomas.
Nesse tipo de doença, que afeta especialmente os adolescentes (mas também pode se manifestar em outras faixas etárias), o indivíduo tende a enxergar defeitos em seu próprio corpo de forma aumentada. Ele passa a dar importância excessiva a detalhes que julga serem problemáticos. Às vezes, esses pontos são inexistentes — ou invisíveis para outras pessoas.
As redes sociais, com seus filtros, bem com aplicativos de edição de imagens que permitem “apagar” tais “imperfeições”, contribuíram para piorar ou mesmo desencadear sintomas de dismorfia em usuários.
Ao mesmo tempo, tais ferramentas também foram usados como muleta por essas pessoas, que já não se viam mais sem aquele rosto inventado.
Em 2020, para uma entrevista no Tecnoblog, conversei com o presidente da regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o Dr. Felipe Coutinho, que me confirmou a percepção em relação ao aumento de demanda de procedimentos estéticos na pandemia. Segundo ele, a grande exposição às câmeras durante videochamadas influenciou nesse cenário.
Os filtros voltaram, mas vale a reflexão
Sem querer parecer piegas, os filtros estão de volta, mas a situação força uma reflexão sobre a dependência que adquirimos. De filtros, de redes sociais, de ilusões, de padrões.
É mais um episódio que lembra o quão importante é manter o equilíbrio entre a vida real e “virtual”, ainda que tudo hoje pareça estar misturado.
E você, caro leitor, se garante sem filtro? Se quiser continuar essa discussão, nas redes, eu sou @anam4rques.