O Facebook vai desligar páginas de notícias e remover links de conteúdo noticioso na Austrália. Entenda o contexto e seus impactos para o mundo.
Ana Marques | 19 de Fevereiro de 2021 às 10:43
Quais são os canais que você usa para se manter atualizado? Uma pesquisa da Reuters revelou que, em 2020, o Facebook tem um papel importante na dinâmica de consumo de notícias, sendo a principal rede social usada para este fim (54%) no Brasil.
Mas e se, do dia para a noite, não fosse mais possível publicar, compartilhar ou ler notícias na plataforma?
Com mais de 2 bilhões de usuários no mundo, o Facebook esteve ligada a diversos escândalos e polêmicas nos últimos anos – alguns envolvendo vazamentos de dados, outros ligados à responsabilidade que a rede tem sobre o que é compartilhado.
O caso em evidência mais recente tem palco na Austrália. O país está estudando (já há alguns meses) um projeto de lei que visa obrigar empresas como o Facebook e o Google a fecharem acordos milionários com editoras de notícias para ter o direito de vincular conteúdo noticioso em suas plataformas.
A medida poderia obrigar ainda que as plataformas avisem com antecedência aos veículos de mídia jornalística antes de realizar mudanças em algoritmos (dessas que têm o potencial de “bagunçar” todo o tráfego de um site).
É claro que as Big Techs não ficaram felizes com a proposta.
Em agosto de 2020, o Google ameaçou retirar seus serviços do território australiano, alegando que, se implementada, a lei poderia representar perigo para seus serviços gratuitos.
As discussões foram evoluindo no país até que agora, em fevereiro de 2021, a empresa cedeu à pressão da Austrália e fechou uma parceria com a Nine Entertainment. Com duração de cinco anos, o contrato prevê o pagamento de 30 milhões de dólares australianos anuais à empresa de mídia.
Na última quarta-feira (17), o Facebook comunicou sua decisão por meio de uma postagem em seu blog oficial. Segundo a empresa de Mark Zuckerberg, foi “uma escolha difícil” entre seguir o acordo proposto pelo governo australiano e simplesmente deixar de apresentar conteúdo noticioso no país. Mas a rede social optou pela segunda.
“A lei proposta interpreta mal a relação entre nossa plataforma e os editores que a usam para compartilhar conteúdo de notícias. Isso nos deixou diante de uma escolha difícil: tentar cumprir uma lei que ignora a realidade desse relacionamento ou parar de permitir conteúdo de notícias em nossos serviços na Austrália. Com o coração pesado, estamos escolhendo o último.” — Facebook.
A empresa comentou ainda sua opinião sobre o porquê de o Google aceitar a proposta da Austrália, e explicou que são casos diferentes:
“A Pesquisa do Google está inextricavelmente ligada às notícias e os editores não fornecem voluntariamente seu conteúdo. Por outro lado, os editores optam por postar notícias no Facebook, pois isso lhes permite vender mais assinaturas, aumentar seu público e aumentar a receita de publicidade.”
A atitude do Facebook impacta não somente os usuários da Austrália: no mundo todo, não será mais possível consumir links de notícias de empresas de mídia australianas na rede social. Os demais serviços do Facebook devem continuar operando normalmente, apesar de, neste início, algumas páginas terem sido retiradas do ar de forma equivocada.
O projeto de lei será debatido na segunda-feira (22), no Senado, e alguns especialistas sugerem que o caso está na mira de diversos outros governos ao redor do mundo. De acordo com o primeiro-ministro Scott Morrison, a Índia já estaria “muito interessada” no resultado da discussão.
A disputa promete outros desdobramentos em breve, tendo em vista que o bloqueio do Facebook entrou em vigor na quinta-feira (18) e, segundo a empresa de análise de dados Chartbeat, provocou redução de mais de 20% no tráfego de notícias da Austrália. É improvável que os órgãos reguladores simplesmente aceitem a resposta da rede social diante desse cenário.
As informações mais recentes indicam que ambas as partes voltarão a negociar o tratamento de conteúdo noticioso no país em breve.
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