Não faz muito tempo, a Internet era alvo de reclamações constantes de mães, pais, avós e avôs. Frases como “Saia desse computador, menino!” e “Desliga
Ana Marques | 27 de Março de 2020 às 10:00
Não faz muito tempo, a Internet era alvo de reclamações constantes de mães, pais, avós e avôs. Frases como “Saia desse computador, menino!” e “Desliga esse celular, garota!” pareciam as preferidas dos chefes de família, especialmente os de mais idade, para questionar e justificar a falta de interação na família. De repente, tudo mudou.
A pandemia do novo coronavírus forçou muitos brasileiros a ficarem em casa – assim como aconteceu, de forma tardia, em outros países nos quais o contágio e o número de vítimas da doença já estão mais avançados. Manter distância, nesse momento, é crucial para evitar a propagação do vírus em alta velocidade, o que causaria sobrecarga aos sistemas de saúde, e elevaria o número de casos fatais.
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Mas o mundo não parou com o isolamento. Enquanto muitas empresas descobrem como o home office pode ser produtivo, escolas e universidades dão aula à distância pela Internet. Pela manhã, uma aula de Yoga transmitida pelo YouTube mantém a mente sã.
À tarde, mães e pais apelam para videogames e jogos de computador ou celular para manter seus filhos ocupados – o número de buscas para “jogos para jogar com amigos online” teve crescimento explosivo no Google.
No cair da noite, cai bem uma ligação de vídeo com a avó para contar sobre o dia e verificar se está tudo bem. Continuamos juntos, com uma mãozinha da tecnologia – em especial, da Internet.
Diante desse cenário, o Governo Federal publicou o Decreto 10.282/2020, no dia 20 de março, em edição extraordinária do Diário Oficial. Entre outras coisas, o ato presidencial prevê que telecomunicações e Internet são considerados serviços de natureza essencial durante o período de crise causada pelo Covid-19.
Isso quer dizer que, mesmo em quarentena, fica “vedada a restrição à circulação de trabalhadores que possa afetar o funcionamento [desses serviços]”.
Colocar essas medidas em prática, no entanto, não é tão simples. Muitas famílias estão com nenhuma (ou quase nenhuma) fonte de renda durante este período, e as contas ainda chegarão no fim do mês. A grande preocupação dos impactos do isolamento social, em termos de acesso à Internet, é em relação às pessoas mais pobres, que não têm banda larga em casa e, em grande parte, usam franquia de Internet móvel (4G ou 3G).
De acordo com a Anatel, 55% dos acessos à internet móvel são feitos por meio de linhas pré-pagas. Com as pessoas casa, há um aumento no consumo de serviços online. Desse modo, o dados dessas franquias tendem a acabar bem antes do normal, o que causaria a interrupção do serviço em muitos casos, até a contratação de um novo pacote.
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vem tomando diversas medidas para garantir o acesso à Internet em tempos de coronavírus. No dia 16 de março, o órgão pediu o aumento da velocidade da banda larga fixa e também a liberação do acesso a redes Wi-Fi em lugares públicos. Além disso, também houve orientação para que as operadoras de Internet estendam prazos e negociem com seus clientes em casos de inadimplência.
A Anatel pediu ainda a liberação do acesso da rede de forma gratuita para a utilização do app Coronavírus – SUS, do Ministério da Saúde, desenvolvido para passar informações sobre a doença e fazer uma espécie de triagem virtual, permitindo identificar sintomas possivelmente relacionados ao Covid-19.
As operadoras de telecomunicações Oi, TIM, Vivo, Claro, Nextel e Algar fecharam um acordo no qual se comprometem a trabalhar em conjunto durante a crise. O comunicado, divulgado no dia 20 de março, afirma que as empresas “atuam para garantir plena conectividade, acesso em tempo real a todas as informações seguras (dos órgãos oficiais) e para ajudar toda a população nos compromissos de trabalho e estudo, nas interações à distância e momentos de lazer com programação de TV, streaming, músicas e games”.
Entre as medidas adotadas, está o acesso gratuito aos canais de notícias, com o objetivo de fornecer informação e conscientizar a população a respeito dos cuidados necessários que devem ser tomados neste momento, e o acesso gratuito também aos aplicativos oficiais do Governo e autoridades sanitárias, com isenção do uso da franquia de dados móveis, além do envio gratuito de mensagens de texto com informações das autoridades para os usuários.
O acordo prevê ainda o plantão permanente de equipes de implantação, instalação, reparo e manutenção de rede e serviços, para assegurar a continuidade dos mesmos.
As empresas também vêm oferecendo bônus para seus clientes, de forma independente. A Claro e a TIM anunciaram que clientes pré-pago que consumirem toda a franquia de Internet poderão ganhar bônus diários de 100 MB para continuar navegando. Já os assinantes da banda larga fixa da Claro terão a velocidade aumentada de forma gradual.
A Vivo começou a oferecer bônus automaticamente para clientes de planos pós-pagos, controle e pré-pago (Vivo Turbo).
Com informações: Anatel e Telesíntese