Smartwatchs e outros dispositivos vestíveis podem desencadear problemas, incluindo ansiedade, e não substituem um profissional de saúde.
Ana Marques | 27 de Agosto de 2021 às 10:00
Você tem ou já pensou em comprar um smartwatch para monitorar alguns aspectos da sua saúde no dia a dia, como o sono, pressão ou mesmo o gasto de calorias? Pois saiba que se usado da forma errada, estes dispositivos vestíveis podem desencadear problemas, incluindo ansiedade.
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Um exemplo do potencial alarmante foi revelado na última semana em uma reportagem publicada pelo The Verge, na qual Lindsey A. Rosman, uma médica e professora assistente do departamento de Cardiologia, na Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, relatou que uma paciente diagnosticada com fibrilação atrial realizou 916 eletrocardiogramas (ECGs) em um ano devido à ansiedade provocada pelo seu relógio inteligente.
Segundo Rosman, a paciente de 70 anos não apresentava nenhum sinal de gravidade da doença cardíaca que pudesse levá-la a procurar assistência médica. No entanto, a simples disponibilidade das funções para o monitoramento da saúde no dispositivo preso ao seu pulso a levou a checar de forma desenfreada as notificações e a realizar cada vez mais testes.
De acordo com o relato da médica, ao desenvolver a ansiedade, a idosa chegou a procurar um profissional de saúde 12 vezes ao longo do ano, além de ter ligado diversas vezes para assistentes de saúde, para atestar que não havia nada gravemente errado com seu ritmo cardíaco.
“Com base em entrevista diagnóstica e questionários validados, tornou-se evidente que nossa paciente desenvolveu uma crença duradoura de que as notificações do smartwatch eram um sinal de piora da função cardíaca, levando a um ciclo vicioso de preocupação excessiva, preocupação com estímulos e sensações cardíacas e comportamentos compensatórios (por exemplo, monitoramento cardíaco habitual com o smartwatch e busca repetida de cuidados de saúde profissionais)”, afirmou a médica.
O caso não é isolado, segundo a drª. Rosman. Ela afirma ainda que outras funções podem causar problemas com ansiedade, como a oximetria, bastante procurada em tempos de pandemia, já que uma baixa no nível de oxigênio no sangue pode indicar casos mais severos de COVID-19.
“[…] Uma compreensão mais diferenciada dessas questões é essencial para educar o público sobre descobertas incidentais e informar as melhores práticas para o gerenciamento de perguntas dos pacientes e preocupações sobre tecnologia de saúde vestível”, diz Rosman, em um artigo científico publicado este mês.
Para a médica, todos os atores envolvidos neste processo, inclusive as empresas de tecnologia responsáveis pelo desenvolvimento dos dispositivos vestíveis com funções de saúde, devem contribuir para evitar o uso incorreto dos aparelhos inteligentes.
“Os wearables podem desempenhar um papel importante na promoção da capacitação do paciente e dos cuidados de saúde. No entanto, isso exigirá envolvimento ativo e forte colaboração entre todas as partes interessadas — empresas de tecnologia, cientistas comportamentais, profissionais de saúde, pesquisadores, pacientes e cuidadores — para entender as maneiras pelas quais diversos segmentos da sociedade (por exemplo, adultos mais velhos, indivíduos com problemas médicos e de saúde mental) interagem com esta tecnologia”, concluiu a professora.
É sempre importante reforçar: apesar de smartwatches, smartbands e aplicativos para celulares contarem com funções para acompanhamento de métricas relacionadas à saúde, estes aparelhos não substituem a assistência de um profissional da área devidamente capacitado. Isto é, mesmo que os dispositivos não acusem nenhum tipo de problema, é preciso estar atento a possíveis sintomas ou sinais de saúde que possam indicar algum problema, e buscar ajuda médica sempre que necessário.
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