A World Wide Web (“WWW”), que em linhas bem gerais é a Internet tal qual a conhecemos, está completando 31 anos em 2020 – mas ainda não está funcionando
A World Wide Web (“WWW”), que em linhas bem gerais é a Internet tal qual a conhecemos, está completando 31 anos em 2020 – mas ainda não está funcionando para mulheres e meninas, de acordo com seu criador, Tim Berners-Lee.
No mês de aniversário da Web e de consciência da luta feminina por igualdade de direitos, o cientista da computação publicou uma carta aberta com reflexões que expõem sua preocupação com o objetivo inicial da rede: ser livre e aberta a todos. Para ele, preconceitos e discriminação reforçados na Internet são um grande desafio.
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“O mundo fez importantes progressos em matéria de igualdade de gênero, graças à movimentação incessante de pessoas comprometidas em todos os lugares.”, explica Berners-Lee, em uma referência às situações nas quais a Internet pode ser utilizada à favor da sociedade. Em seguida, pondera em relação aos ataques a minorias – especialmente contra mulheres:
“Mas estou seriamente preocupado com o fato de os danos on-line enfrentados por mulheres e meninas – especialmente as de cor, provenientes de comunidades LGBTQ + e outros grupos marginalizados – ameaçarem esse progresso”.
Desigualdade de gêneros na sociedade é refletida no acesso à Internet
Dados divulgados por no site da World Wide Web Foundation (WWWF) mostram que homens tem 21% mais chances de estar online do que as mulheres. O número cresce para 52% quando o recorte é feito para os países menos desenvolvidos.
“Essa lacuna reforça as desigualdades existentes e impede que milhões usem a web para aprender, ganhar e fazer ouvir a voz”, afirma Berners-Lee.
Outras pesquisas da organização denunciam que mais da metade das mulheres jovens já sofreram violência online, os tipos são diversos – de assédio sexual a compartilhamento de imagens privadas sem consentimento. Além disso, 84% das entrevistadas acreditam que o problema está piorando.
Preconceito e Inteligência Artificial
A carta de Tim Berners-Lee também aponta para problemas com novas tecnologias, como os sistemas de Inteligência Artificial (IA), que podem reproduzir comportamentos e discriminatórios. A grande questão em torno desse tema é que toda a programação feita por humanos pode ser influenciada por comportamentos preconceituosos.
Em alguns casos, os softwares não são direcionados propositalmente a uma ação desse tipo, mas acabam reproduzindo padrões com base em dados do passado para fazer personalizações e recomendações – e, cabe lembrar, o passado não foi nada gentil com as mulheres.
“Em 2018, uma importante ferramenta de recrutamento automatizado teve que ser descartada, porque subselecionou sistematicamente as mulheres devido ao treinamento em dados históricos em que os papéis foram preenchidos pelos homens”, alerta o cientista.
Diretrizes para combater a violência contra a mulher
Para Berners-Lee, a sociedade precisa começar encarando o problema de frente e o colocando em prioridade pelos governos e empresas ao redor do mundo.
Caberia, então, às organizações encontrar soluções para montar times com maior diversidade de gênero e fornecer dados que denunciem qualquer tipo de violência contra a mulher. Como mostrado em uma reportagem publicada na última semana, o mercado de trabalho ainda é dominado por homens nas posições de chefia.
O criador da Web também clama por leis eficazes para responsabilizar criminosos que praticam violência baseada em gênero pela Internet. E, por fim, incita a todos os usuários a denunciar situações de risco para mulheres e meninas no ambiente online.
Especial: Mulheres & Tecnologia | 8 de Março, Dia Internacional da Mulher
Em março, a coluna Vida Digital traz matérias especiais relacionadas a mulheres e sua luta por igualdade de direitos entre os gêneros. As reportagens serão relacionadas à área de tecnologia, com foco em empreendedorismo, capacitação e representatividade. Acompanhe no site da Revista Seleções, toda sexta-feira, a partir das 10 horas.