19 de janeiro - Europa Oriental No meio do inverno, a temperatura está próxima do gelo. Que tal uma corrida de natação ao ar livre? A Corrida Aquática da
Redação | 1 de Dezembro de 2020 às 11:14
No meio do inverno, a temperatura está próxima do gelo. Que tal uma corrida de natação ao ar livre? A Corrida Aquática da Santa Cruz é um evento realizado em corpos d’água gelados da Europa Oriental, da Sérvia à antiga União Soviética, do Mar Negro ao Bósforo, quando a Igreja Ortodoxa comemora o batismo de Jesus no rio Jordão.
Um sacerdote com as vestes cerimoniais joga na água gelada uma cruz de madeira e, incentivados pelo público, os nadadores se esforçam para pegá-la. Dizem que o vencedor será abençoado e terá um ano próspero.
Existe melhor maneira de aguentar o inverno islandês do que com uma refeição de testículos de carneiro em conserva, carne de tubarão fermentada e cabeça de ovelha cozida?
E a madame ou o cavalheiro gostariam de cordeiro defumado com esterco para acompanhar? Esse é o cardápio tradicional e substancioso da festa islandesa de Thorrablot, que data da época pré-cristã. E tudo vem acompanhado de Brennivin, uma bebida forte, aromatizada com ervas, apelidada de “Peste Negra”. Saúde!
Para não serem superados pelos islandeses, os escoceses comemoram o aniversário de seu poeta nacional Robert Burns comendo um gigantesco embutido decoração, fígado e bofe de ovelha, picados e envoltos, por tradição, no revestimento do estômago do animal.
É o famoso haggis, prato principal da Ceia Burns. Quando o prato chega à mesa, é recitado o poema “Discurso ao haggis”, de Burns (na imagem), e uma faca é enterrada em suas “entranhas que jorram”, como disse o poeta.
O protocolo da Noite Burns exige que um homem faça um brinde falando humoristicamente do papel das mulheres. Então, uma convidada responde, dando sua opinião sobre os homens.
“Já respondi duas vezes, e é preciso ter a casca meio grossa, pois é a oportunidade de cada sexo brindar aos erros do outro”, diz Jennie Landels, veterana da Noite Burns. “Mas a mulher é que tem a última palavra, e assim podemos acrescentar umas boas piadas!”
No último dia de fevereiro, os gregos costumam fazer ou comprar uma pulseira tecida em vermelho e branco a ser usada em março para comemorar a chegada da primavera – e, em teoria, impedir que as bochechas sejam queimadas pelo sol.
A tradição, também praticada nos países bálticos, se chama Martis, do nome grego do mês de março. “Essa pulseira teve um poder mágico sobre meu estado de espírito. Assim que a pus, foi como se o período deprimente do inverno acabasse”, conta Angelica Papastamati, que cresceu em Atenas e se lembra de tecer as pulseiras na infância.
Nas áreas rurais, também é tradicional que os usuários amarrem sua pulseira na primeira árvore florida que virem – ou numa roseira, se avistarem um pardal.
Durante mais de um século, o Dia Internacional da Mulher é comemorado no mundo inteiro, e em muitos países o dia é feriado, para homenagear as lutas e conquistas femininas.
Na Itália, La Festa della Donna talvez tenha um pouco mais em comum com o Dia dos Namorados ou o Dia das Mães, pois as mulheres recebem buquês de mimosas dos homens de sua vida.
Pratos amarelos com o tema da mimosa também fazem parte da festa, como o linguine mimosa, feito com curry. À noite muitas mulheres saem em grupos para se divertir. Se houvesse um dia em homenagem aos homens que fazem strip tease, seria esse.
Como em muitos países, na França o 1º de abril é o dia dos trotes elaborados. Mas, para os alunos das escolas francesas, há uma diversão a mais: o Poisson d’Avril (peixe de abril), peixes de papel colados nas costas dos distraídos. “Lembro que eu adorava pegar meus pais, avós, tios etc. Principalmente a professora”, diz Mathieu Doyen ao recordar a infância no nordeste da França. “E a brincadeira continua. Martin, meu filho de 8 anos, adora.”
Dois jovens escritores noruegueses mal sabiam o que estavam criando em 1923. Para divulgar seu novo romance policial, eles lançaram uma campanha de publicidade no domingo anterior à Páscoa que se passava por notícia verdadeira na primeira página do jornal Aftenposten.
“Trem de Bergen saqueado à noite”, dizia a manchete, e muitos acreditaram. Daí nasceu a tradição norueguesa do Påskekrim (crime de Páscoa) no feriado de Páscoa, época que muitos habitantes costumam passar em suas cabanas rurais de esqui.
“Quando eu era pequena, as cabanas eram muito primitivas, sem eletricidade, e toda noite, durante o fim de semana prolongado, escutávamos o rádio de pilha para acompanhar a série policial”, recorda Katrina Swift, natural de Oslo. “Hoje, eles ainda fazem séries especiais no rádio e na TV.”
Além disso, antes da Páscoa, a Tine, maior cooperativa de produtores de laticínios da Noruega, publica nas caixas de leite uma história em quadrinhos de påskekrim; quem adivinhar o mistério ganha um prêmio.
A segunda-feira depois da Páscoa é o dia do Chicote da Páscoa na República Tcheca, na Eslováquia e em partes da Hungria. Nessa antiga tradição, os homens e meninos fazem um chicote com vários ramos de salgueiro trançados, com uma fita amarrada na ponta, chamado de pomlázka na República Tcheca. O chicote é usado para açoitar as mulheres e garantir (supostamente) que permaneçam bonitas, férteis e saudáveis pelo restante do ano
Felizmente, hoje em dia não se faz nada mais grave do que dar batidinhas leves nas pernas ou nádegas. “Moro em Praga, onde muita gente acha antiquado açoitar com o pomlázka, mas passei as últimas segundas-feiras de Páscoa em minha casa de campo, onde a tradição ainda é muito popular”, explica Petra Kostalka.
“Meus avós, tias e primos que moram lá seguem todas as tradições: açoitar com o pomlázka, pintar ovos e assar bolos especiais. Eu só pinto ovos!”
Para os estudantes finlandeses, o Dia de Vappu significa, além do início do verão, também o fim do ano letivo. Vestidos com macacões coloridos e gorros brancos, eles se dedicam ao tipo de comemoração na qual os estudantes geralmente se destacam.
“Quando eu estava na faculdade, era praticamente uma desculpa para se embebedar com os amigos e ficar ao ar livre no tempo quente”, confirma Peter Granfors, que cresceu na cidade finlandesa de Vaasa.
O Vappu não é só para estudantes, e o clima é de carnaval no país inteiro. “Tenho fortes lembranças de quando era menino, com todo mundo nas ruas, o cheiro da comida. Havia waffles com creme chantili e barraquinhas vendendo todo tipo de coisa”, lembra Granfors com saudade.
Em toda a Europa, o mastro de maio é muito comum no 1º de maio, mas na Suécia é provável que você ouça o som incomum de imitações de rã enquanto as pessoas desfilam em torno dele.
Små Grodorna (As rãzinhas) é uma canção e uma dança tradicional em que se imitam as partes do corpo da rã e seus coaxar em coro. A música vem de uma marcha militar da Revolução Francesa; ninguém sabe direito de que maneira foi parar na Suécia como uma canção sobre rãs.
Na República Tcheca, os pensamentos se voltam para o amor no 1ºde maio. Numa tradição de séculos, os amantes se beijam sob uma árvore florida. E a pena por não participar é dura: dizem que a mulher que não for beijada definha e morre em 12 meses.
As coisas podem ficar bem esquisitas quando chega o solstício de verão. Em vários países europeus, há a antiga tradição de acender uma fogueira para comemorar tanto a noite mais curta do ano quanto a véspera do Dia de São João, quando se comemora o nascimento de São João Batista.
Mas na Dinamarca o Sankt Hans Aften vai um pouco adiante e acrescenta à fogueira a efígie de uma bruxa. Enquanto ela queima, os que se reúnem em volta entoam uma canção patriótica. Dizem que a bruxa simboliza todo o sofrimento que a Dinamarca, como nação, quer evitar, e a música comemora a esperança de que a paz predomine.
Enquanto isso, na margem oposta do Báltico, os letões têm seu modo próprio de comemorar o meio do verão. Na festa de Ligo, as pessoas vão às ruas, passam a noite em volta de uma fogueira e esperam o sol nascer. As mulheres colhem flores para enfeitar o cabelo, e os homens deveriam se despir e pular no lago ou rio mais próximo.
A maioria dos britânicos provavelmente não sabe que a Noite de Guy Fawkes tem suas raízes no sentimento anticatólico. Embora todos saibam que Fawkes tramava explodir a Câmara dos Lordes durante a cerimônia de abertura do Parlamento de 1605, muitos desconhecem que Fawkes e seus colegas conspiradores queriam assassinar o rei Jaime I para fazer de Elizabeth, a filha de 9 anos do rei, a chefe de Estado católica.
Por sorte do rei, Guy Fawkes (na imagem) foi preso antes de acender o rastilho. Em consequência, no século 17, efígies do Papa eram regularmente queimadas em fogueiras no “Dia da Traição da Pólvora”.
Hoje, todo esse simbolismo está praticamente esquecido, e a Noite da Fogueira, como é conhecida, uma ocasião social marcada por fogos de artifício espetaculares.
Sem dúvida, não há personagem tradicional mais controverso do que Zwarte Piet (Pedro Preto), que aparece nos dias anteriores à Festa de São Nicolau. Mouro da Espanha, Piet é ajudante de São Nicolau e aparece em desfiles, distribuindo balas entre as crianças.
Mas, por ser geralmente representado por um ator com a cara pintada de preto e uma peruca crespa preta, o personagem tem polarizado cada vez mais as opiniões nos Países Baixos e na Bélgica. Até a celebridade americana Kim Kardashian se envolveu e, num tuíte de 2019 a seus 62 milhões de seguidores, descreveu Zwarte Piet como “perturbador”.
Entre numa casa de família espanhola nas regiões de Catalunha e Aragão, na época da Festa da Imaculada Conceição, e é provável que você encontre uma estranha criatura de rosto sorridente e corpo feito com um tronco sob um cobertor. É o Caga Tió, cujo nome significa “tronco que faz cocô”.
Com a aproximação do Dia de Natal, as crianças “alimentam” o tronco com pão, casca de laranja ou feijão e, na véspera de Natal, lhe dão uma surra de vara e exigem que ele “evacue” presentes. E então os presentes devidamente se revelam sob o cobertor do Caga Tió.
(Alerta de spoiler: na verdade, são escondidos ali pelos pais das crianças.)
Santa Lúcia foi uma mártir cristã do século 4º. Numa versão da história, seus olhos foram arrancados pelos torturadores, e hoje ela é a santa padroeira dos cegos (e outras coisas também).
Como o nome deriva de lux, luz em latim, ela também é considerada a portadora da luz no inverno. Na Suécia, na Noruega, na Dinamarca e em partes da Finlândia, há procissões no Dia de Santa Lúcia em que meninas levam guirlandas iluminadas na cabeça, e meninos com roupas que lembram pijamas cantam músicas tradicionais.
Em casa, a filha mais velha serve café e apetitosos pãezinhos de açafrão ao resto da família. Na Hungria, enquanto isso, planta-se trigo num vasinho no Dia de Santa Lúcia, e os brotos verdes que surgirem até o Natal são considerados sinais da vida que vêm da morte.
Até meados do século passado, quase toda a ilha da Irlanda comemorava o dia seguinte ao Natal com um costume barulhento em que grupos de meninos pintavam o rosto, vestiam roupas velhas e iam de porta em porta cantando, dançando e tocando instrumentos musicais.
Eles levavam consigo uma cambaxirra morta, que deu à comemoração o nome de Wren Day (dia da cambaxirra), e exigiam dinheiro dos moradores para “enterrar o bichinho”.
A boa notícia para as cambaxirras é que a prática está quase extinta, e hoje assume a forma de um desfile colorido pelas ruas, às vezes com participantes vestidos com roupas de palha. Nenhuma cambaxirra é morta.
– O mesmo procedimento do ano passado, Miss Sophie?
– O mesmo procedimento de todos os anos, James. É assim o diálogo repetido no curta humorístico de 1963 Jantar para Um, baseado num esquete de cabaré britânico da década de 1920, em que um mordomo fica cada vez mais bêbado enquanto serve o jantar à patroa aristocrática.
Desde 1972, os alemães seguem as palavras literalmente. Há quase 50 anos, o filme passa na TV nacional da Alemanha (e de outros países europeus) na véspera do Ano-novo. Um selo comemorativo (na imagem) foi lançado em 2018 para celebrar essa instituição nacional. O filme continua quase desconhecido no Reino Unido.
Na Espanha, as famílias se reúnem para comer Doze Uvas, uma a cada badalada do sino que anuncia o Ano-novo. O costume foi popularizado no início do século 20 por viticultores da região de Alicante que queriam vender o excesso de uvas da colheita abundante. Hoje, os supermercados espanhóis vendem até latas especiais com 12 uvas.