Para viver mais e melhor não é necessário uma mudança abrupta em algum aspecto de sua vida. Na verdade, são as pequenas ações que transformam nossas vidas
Julia Monsores | 19 de Outubro de 2020 às 11:00
Para viver mais e melhor não é necessário uma mudança abrupta em algum aspecto de sua vida. Na verdade, são as pequenas ações que transformam nossas vidas e nosso dia.
“Os pais têm papel importante na longevidade dos filhos”, assegura o Dr. Stork. Eles devem oferecer uma boa alimentação a eles. Nada de doces, batatas fritas nem hambúrgueres, diz o médico, que serve de lanche aos netos sanduíches de hortaliças e frutas frescas.
“Quando a criança se torna obesa, nunca mais se livra das consequências. O corpo sofre danos irreparáveis, que afetarão a saúde pelo resto da vida.”
A boa nutrição começa na amamentação. O Ministério da Saúde recomenda o aleitamento por dois anos ou mais, devendo ser exclusivo durante os primeiros seis meses de vida. A amamentação previne mortes infantis e promove a saúde física e mental da criança e da mulher que amamenta. E, quando se trata de nutrição em geral, uma alimentação saudável, seja qual for a idade, é fundamental: A prescrição brasileira para uma dieta balanceada deve ser composta de 55% a 65% de carboidratos, 25% a 35% de lipídios (gorduras) e 10% a 15% de proteínas.
Segundo a Associação de Nutrição do Estado do Rio de Janeiro, o cardápio diário básico do brasileiro – arroz, feijão, carne, frango ou peixe e dois ou três legumes e verduras de cores diferentes – atende a esta proporção.
A maior parte das gorduras consumidas deve ser de ácidos graxos poli-insaturados, para evitar o acúmulo de tecido gorduroso nos vasos sanguíneos. As gorduras saudáveis são aquelas contidas no óleo de peixe, no azeite de oliva e na margarina. Para digerir bem tudo isso, precisamos de fibras, legumes, verduras e frutas em quantidade suficiente.
“Cuido da minha alimentação todo dia: não uso açúcar no chá, não passo manteiga no pão, e só bebo uma pequena quantidade de álcool”, diz Stork.
Quem come menos vive mais. Aparentemente, o processo de envelhecimento de peixes, roedores e cachorros que recebem dietas de baixo teor calórico se desacelera. Uma pesquisa realizada na Universidade da Califórnia em 2004 indicou que camundongos que recebiam menos comida eram mais saudáveis, tinham menor propensão ao câncer e vida 42% mais longa.
É questão de equilíbrio: comer só o bastante para ter a energia necessária. Nem sempre conseguimos fazer isso. Comemos demais e mais do que precisamos, lamenta o Dr. Stork. “Fast foods, salgadinhos, doces, refrigerantes não passam de calorias inúteis de que precisamos nos livrar.”
E não pense que dietas e conselhos possam ajudá-lo. É tudo inútil, segundo o médico. Para perder peso, é preciso comer menos e se exercitar mais. Dietas de sucos, gurus, comprimidos e injeções não servem para nada. Além disso, o que é saudável hoje será considerado prejudicial amanhã. “Vejamos, por exemplo, os antioxidantes, que combatem o câncer mas também o ativam. E a cafeína – sim ou não?”
Fumar faz mal aos pulmões e ao coração. É um hábito que não deve ser incentivado, adverte Stork. Por outro lado, ele observou que fumantes têm menos tendência à depressão, são menos estressados e, por conseguinte, provocam menos acidentes de trânsito.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cigarros, charutos, cachimbo, fumo de rolo e rapé – todos derivados do tabaco – são nocivos à saúde. Quando consumidos, esses produtos introduzem no corpo mais de 4.700 substâncias tóxicas, entre elas a nicotina, responsável pela dependência química, o monóxido de carbono e o alcatrão.
Estima-se que no Brasil o tabagismo seja responsável por 40% das mortes de mulheres com menos de 65 anos e por 10% das mortes por doença das artérias coronárias em mulheres com mais de 65 anos. Fumantes estão mais propensos a outras doenças, como problemas oftalmológicos, doença de Crohn, de Alzheimer, artrite reumatoide e vários tipos de câncer.
Grávidas que fumam aumentam a probabilidade de aborto espontâneo, parto prematuro, morte súbita do recém-nascido e de terem bebês com problemas de saúde ou defeitos congênitos.
Apesar de haver menos inalação, o charuto é, na verdade, ainda mais insalubre que o cigarro. Contém mais alcatrão, monóxido de carbono e amônia.
Esta é a maneira mais fácil de ter vida longa: preste atenção ao seu corpo e deixe que o médico faça regularmente o acompanhamento das áreas vulneráveis. Se conhecer a sua pressão arterial e o seu nível de colesterol, você poderá adaptar seu estilo de vida para enfrentar possíveis problemas.
“A medicina pode acompanhar os casos de diabete, hipertensão arterial e doenças do colesterol. Mas é comum as pessoas não saberem o que têm de errado”, declara Stork.
O Ministério da Saúde tem os números à mão: no Brasil, 5,2% da população com mais de 18 anos têm diabete, o que representa 6.399.187 pessoas. E a incidência sobe com a idade: 18,6% das pessoas com mais de 65 anos são portadores da doença.
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, a incidência do tipo 1 aumenta 3% ao ano em crianças na fase pré-escolar, enquanto a do tipo 2 é cada vez maior em crianças e adolescentes por causa do sedentarismo, da obesidade e da má alimentação.
Na opinião de Stork, todos deviam passar por um exame clínico uma vez por ano e levar a sério os conselhos nutricionais. Isso também se aplica aos jovens, pois o que se aprende no berço se leva para o túmulo.
O estudo Saúde Brasil 2008, do Ministério da Saúde, revelou que, em 2006, morreram 302.682 pessoas por causa de doenças do aparelho circulatório, o que correspondeu a 29,4% do total de mortes. Em segundo lugar estão as mortes causadas por tumores, com 15,1% (155.734).
Não exagere no consumo de comprimidos e tome muito cuidado com os aparentemente inofensivos analgésicos, adverte o Dr. Stork. Poder comprá-los sem receita na farmácia não quer dizer que seja aconselhável consumi-los de qualquer maneira. Stork, cofundador da Fundação do Rim na Holanda, sabe muito bem que o uso constante de analgésicos de venda livre pode ter um papel importante nos problemas renais, bem como em danos ao fígado e hemorragia estomacal.
“É preciso ler a bula para ver que tipo de efeitos colaterais certos medicamentos podem provocar, embora apenas um comprimido de analgésico não mate ninguém”, garante o médico. “Até o momento, não se sabe se o paracetamol tem efeitos colaterais negativos, mas ele também não é muito eficaz.”
Por fim, o médico acrescenta a seguinte cláusula – os que quiserem viver mais não devem exagerar. Se tentasse se adaptar a todas as regras da vida saudável, você enlouqueceria.
Aceite com cautela todos esses dados científicos sobre o que é saudável (ou não), diz o Dr. Stork; estatísticas podem provar qualquer coisa.
Durante um congresso de medicina em Nova York, ele descobriu que seus pacientes viviam dois anos e meio a mais que os pacientes de um colega que só aceitava pacientes não fumantes.
“Ouvimos centenas de médicos, que passaram uma hora falando de como fumar ou não fumar pode ajudar a viver mais.” Qual foi a conclusão? “Que existem fraudes, mentiras e estatísticas. O pior são as estatísticas…”