“É uma benção levar alegria para as pessoas num momento como esse da pandemia”, declara Dadá Coelho

Um desafio! Assim, Dadá Coelho encara o ofício de fazer piada, graças, as pessoas rirem, em tempos de pandemia.

Márcio Gomes | 3 de Novembro de 2021 às 18:00

Edu Rodrigues -

Divertida e alto astral, Dadá Coelho, que é casada com o ator Paulo Betti, tinha tudo para não ter o sorriso como uma das marcas registradas. Nascida num grotão, em Floriano, no Piauí, em uma família de 13 filhos, desde nova aprendeu o significado da palavra dificuldade. Mas ao invés de se revoltar, transformou esse revés da vida em humor, seguiu em frente e é um dos grandes nomes da comédia nacional.

“Disputando a moela, a asa da galinha, a hierarquia do osso, ali já tinha um caldeirão de ingredientes para extrair humor, não é? A gente já nasce predestinada. E como sempre digo: inteligência é você organizar o seu caos. Gosto muito de rir de mim. Não curto quem se leva muito a sério. A gente não vai sair vivo dessa vida. Claro que nem sempre é assim: extraio, também, beleza da tristeza”, entrega a atriz. E complementa: “Porém, só consigo ficar triste por três dias. A vida, apesar dos percalços, é potente e alegre. Amo viver, nasci para isso”.

O lado cômico, o de soltar boas tiradas e gargalhadas, Dadá herdou da família, sobretudo de sua mãe.

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“A gente sempre riu dos enterros, nomes, contas para pagar e dos dentes – a má dentição por falta de cálcio na infância é comum a todos de origem de classe pobre alta que nem eu (risos). Ainda menina, eu gostava de correr pelas beiradas da rua com os olhos no céu para ter a ilusão de que a lua é que corria. Trepava nos pés de manga, goiaba, seriguela… Brincava à beira do rio Parnaíba. Gripe não podia ter poque a mãe zangava e dizia: ‘essa minina nem morre nem deixa os zôto dormir!’. E, antes de me deitar no quarto – que eu dividia com meio mundo de irmão –, rezava Ave Maria da Penha. Foi uma infância de fazer inveja aos personagens de Monteiro Lobato…”, brinca.

Da infância, Dadá ainda guarda recordações do rádio que tinha em casa, em que se embalava ouvindo Roberto Carlos e deixando as marcas dos seus pés nas paredes; e ainda dos recados via a rádio local difusora AM.” Eu passava o recado: ‘Mãe, pai manda avisar que chegará às três horas em ponto. Pede para levar um jumento, pois vai estar cheio de mercadoria’. A minha família era muito humilde, a gente comprava um livro que ia passando de um irmão para o outro. Quando o livro chegava a mim não tinha mais capa”.

Humor em tempos difíceis

Atriz Dadá Coelho posando para ensaio fotográfico. (Imagem: Edu Rodrigues)

Um desafio! Assim, Dadá Coelho encara o ofício de fazer piada, graças, as pessoas rirem, em tempos de pandemia – que no Brasil já matou mais de 608 mil pessoas.

“É uma benção, um poder divino ser convocada para levar alegria num momento como esse da pandemia. Sou só gratidão por todos os poros. Todo comediante deveria agradecer a graça alcançada. Embora estejamos vivendo um momento trágico, principalmente a classe artística, quando todos os projetos culturais foram interrompidos por causa da maior crise sanitária, política, social e ambiental do país; vou na contramão e comemoro 15 anos de profissão participando de vários projetos na TV, no cinema e na literatura”, conta a atriz, que estreia a terceira temporada de “A Culpa é da Carlota” (primeiro programa de humor só com mulheres da TV brasileira), no canal Comedy Central; está no ar com GALERAFC, na HBOMAX; participou de dois filmes: “Vovó Ninja” e “O Papai é Pop” e ainda está escrevendo o livro “PelamordeDadá!

Certa de que a comédia ainda é uma área dominada pelos homens, Dadá Coelho reforça que o mundo ainda é muito machista e esse é um dos reflexos: poucas mulheres fazendo humor no país.

“O mundo ainda é muito machista e isso acontece em todas as profissões, sobretudo na comédia. ‘A Culpa é da Carlota’ recebe tanto ódio on-line de quem nunca assistiu ao programa, homens e mulheres que postam comentários muito maldosos nos nossos conteúdos só pelo fato de sermos um grupo de mulheres. Mas nós já estamos anestesiadas. Outro dia ouvi que ‘ser mulher está na moda’. A piada é feminina, a comédia é feminina. Existe machismo no mundo da comédia e no Brasil isso é latente. A ‘macholândia’ não suporta ver a mulherada sendo protagonista das suas próprias narrativas. Sobretudo no humor. Sempre fomos ‘escada’ para eles. Mas estamos fazendo de todo ódio a nossa passarela do samba e estamos sambando na cara do preconceito”, dispara.
E completa: “Já sofri muito preconceito por ser mulher, nordestina e comediante. Tenho muita vontade de ter um programa para discutir a sexualidade da mulher cis, não cis trans, lésbica, solteira, casada… As coisas estão mudando. E eu acredito nos bons ventos. O lugar da mulher é onde ela quiser. Pode ser em casa, por que não? Na Casa Branca, por exemplo, como a vice-presidente dos Estados Unidos, a Kamala Harris (risos)”.

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