Após mais de um ano de pandemia, ainda é importante permanecer em casa. Confira estratégias para conseguir lidar com muita saúde mental.
Julia Monsores | 13 de Abril de 2021 às 12:00
Os efeitos da pandemia da Covid-19 podem ser sentidos não apenas em nossa saúde física, mas também em nossa saúde mental. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiro sofrem de algum transtorno de ansiedade. A vida social restrita, as dificuldades financeiras, a perda do emprego e o luto pela morte de amigos e familiares são alguns dos fatores que podem prejudicar a saúde mental dos brasileiros neste período.
E se em tempos normais ter uma rede de apoio de amigos é importante para que o indivíduo perceba que não está sozinho, durante a pandemia é ainda mais. Porém, com o distanciamento social, esses laços ganharam outra cara.
“O ser humano é fundamentalmente um ser social-relacional. O ato de se relacionar com outras pessoas faz bem à alma e a toda a dimensão do trato psicoemocional”, explica o psicólogo Alexander Bez.
Por sermos seres sociáveis, o distanciamento acaba prejudicando o nosso bem-estar. O psicólogo também aponta que a falta de contato com as pessoas pode causar extrema ansiedade, que pode se intensificar ainda mais por não estarmos vivendo uma vida como considerávamos ser normal.
“Com o distanciamento social, a longo prazo a saúde mental é afetada pela falta de contato físico, na medida em que perdemos um dos nossos grandes suportes psicológicos: as relações sociais e o contato físico”, explica Alexander Bez.
Além disso, a longa duração dessa perda de contato diário tende a aumentar os conflitos mentais, que podem se estender na manifestação de transtornos ansiosos, depressivos, obsessivos-compulsivos. “A nossa saúde mental absorve diversos dos sentimentos negativos que têm feito parte do dia a dia de muitas pessoas por conta da distância de seus amigos e família”, completa.
A agorafobia é um tipo de transtorno de ansiedade em que o indivíduo teme e evita lugares. Medo e ansiedade incontroláveis são alguns dos sintomas sentidos, assim como constrangimento e receio de estar em meio a multidões, locais abertos ou muito fechados. E agora, durante a pandemia, algumas pesquisas têm indicado que a agorafobia tem se intensificado entre as pessoas.
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“Com esse transtorno, a pessoa evita situações e lugares que possam desencadear uma crise de pânico. Transtorno de Pânico com Agorafobia é um dos transtornos que pode ter os seus sintomas potencializados por conta da situação de pandemia, em que o distanciamento é necessário e a sensação de medo de sair de casa por conta do momento é ampliado”, explica o psicólogo Alexander Bez.
Mas saiba que é possível controlar a agorafobia. Uma das maneiras utilizadas é por meio da terapia de exposição, que é uma forma de terapia cognitivo-comportamental que envolve a exposição repetida às situações que você teme. Em vez de evitar essas situações, você é exposto a ela em pequenas doses. E assim, seu cérebro consegue perceber que trata-se de um medo irracional e cria mecanismos de enfrentamento.
É claro que isso não significa que você deve sair de casa para ir a lugares cheios. Mas uma caminhada, de máscara e levando álcool em gel na bolsa, já pode ajudar.
Há algumas maneiras de matar a saudade dos amigos e dos familiares de forma segura. Como por exemplo, combinar encontros virtuais ou assistir a um filme à distância em uma das plataformas de streaming.
“Ampliar a criatividade durante o dia pode ser interessante para estabelecer novas atividades, preenchendo assim o tempo. Além disso, manter os contatos online diários é uma ótima maneira de suprir um pouco da falta do contato sócio-afetivo, mesmo que de modo virtual, conversar com os amigos ou família diariamente é muito importante. Assim como procurar dentro da margem de segurança fazer o que gosta, buscando ter a rotina o mais próximo da normalidade possível”, aconselha Alexander Bez.
E se você tem se sentido muito sozinho em casa, adotar um cachorro ou um animal de estimação também pode ser um fator interessante para ter uma companhia dentro de casa.
Outra realidade observada neste período é que muitas pessoas estão em casa com a família, e a convivência nem sempre é boa. Como agir nesses casos em que há uma impossibilidade de sair de casa? Quais estratégias podem ser adotadas para minimizar os conflitos internos? Segundo o psicólogo Alexander Bez, o desgaste diário é uma das situações mais conflitantes nessa pandemia, mas é possível contorná-lo.
“É importante procurar não entrar em atrito, evitando se aprofundar em discussões, buscando sempre resolver os conflitos de maneira clara, sem estendê-los em longos debates. Usar a criatividade também para desenvolver atividades que possam unir mais as pessoas da casa, como ver programas na Netflix e jogar jogos, por exemplo. Além disso, fazer uma distribuição igual das atividades domésticas, e também manter uma rotina diária pode minimizar alguns conflitos internos.”
Além disso, é importante exercer o máximo de respeito, tendo consciência que cada um tem suas atividades e deveres diários, assim como também tem seus sentimentos de angústias e medo diante da situação atual. “Precisamos compreender que a nossa casa e a nossa família é um grande apoio psicológico neste momento”, conclui o psicólogo.