O novo coronavírus mobiliza a população de vários países, alguns, inclusive, fecharam suas fronteiras. Na China e fora dela, os casos continuam.
SÃO PAULO, SP, E PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – No dia 31 de dezembro de 2019, a OMS (Organização Mundial da Saúde) foi alertada sobre vários casos de pneumonia em Wuhan, na província de Hubei, na China. O vírus parecia desconhecido.
Uma semana depois, as autoridades confirmaram a identificação de um novo coronavírus, que estava sendo chamado temporariamente de 2019-nCoV. Mais tarde ele foi batizado de Sars-CoV-2, e a OMS afirmou que o nome da doença respiratória é covid-19.
O surto se tornou mais preocupante com a chegada do Ano-Novo chinês, que é comemorado em 25 de janeiro e faz com que centenas de milhões de pessoas viajem pelo país.
A OMS trabalha com autoridades chinesas e especialistas do mundo todo para saber mais sobre esse vírus, como ele afeta as pessoas, como deve ser o tratamento e o que os países podem fazer para responder a essa crise.
Até o dia 27 de fevereiro, mais de 82 mil pessoas tiveram confirmação da infecção em diversos países e mais de 33 mil já se recuperaram. Pelo menos 2.800 pessoas morreram, cerca de 2.700 delas na China.
Veja o que se sabe sobre o caso até agora:
O que é coronavírus?
É uma família de vírus que podem infectar animais e seres humanos e causar doenças respiratórias que variam de resfriados comuns até a Sars (síndrome respiratória aguda grave).
Seu nome vem dos picos de suas membranas, que lembram uma coroa. O novo coronavírus Sars-CoV-2, identificado na China em janeiro de 2020, é cerca de 80% igual geneticamente ao do Sars (que deixou milhares de pessoas doentes e matou cerca de 800 durante uma epidemia, em 2002 e 2003), e mais próximo ainda de diversos coronavírus presentes em morcegos, segundo estudo no portal aberto bioRxiv.
Quão perigoso ele é?
Autoridades de saúde no mundo todo estão alarmadas, mas é difícil avaliar a letalidade de um novo vírus com rapidez. Ainda não está claro com que facilidade o covid-19 é transmitido de pessoa para pessoa. Seu N0 (número de quantas novas pessoas, em média, são infectadas por cada doente) está numa faixa de 1,5 a 3,5, segundo as estimativas feitas até agora. Ele parece se equipar ao dos vírus da gripe e provavelmente supera o vírus da dengue, cujo número nunca chega a 2. O N0 do sarampo, por exemplo, é 20.
Especialistas também destacam que o balanço de mortos ainda é relativamente baixo. Pelos dados iniciais publicados, a estimativa inicial é que a letalidade seja em torno de 2% a 3%.
Se o número de infectados assusta, é preciso levar em conta que, todos os anos, gripes e pneumonias matam 80 mil pessoas no Brasil. Nos EUA, 200 mil pessoas são internadas com gripe e cerca de 35 mil morrem. Segundo a OMS, a maioria das pessoas (80%) se recupera sem precisar de tratamento especial.
Como ele é transmitido?
O novo coronavírus é transmitido através de tosse e espirro, assim como outros vírus respiratórios. Segundo a OMS, a fonte primária do surto tem origem animal, e as autoridades de Wuhan disseram que o epicentro da epidemia é um mercado de peixes e animais vivos. Não se sabe qual bicho teria passado o vírus a humanos.
Qual é o período de incubação do vírus?
Os sintomas podem aparecer de dois a 14 dias depois do contágio.
Qual é o período de transmissibilidade?
De uma forma geral, a transmissão viral ocorre apenas enquanto persistirem os sintomas. É possível que ocorra a transmissão apesar da ausência de sintomas, mas os pesquisadores ainda estudam esse quesito em relação ao novo coronavírus.
Qual é o perfil dos infectados até agora?
Segundo informações da OMS do dia 22 de janeiro, 72% das pessoas infectadas tinham mais de 40 anos, 64% eram homens e, em 40% dos casos, os pacientes tinham outras doenças associadas, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares. Esses números são relativos a casos de pessoas internadas, o que indica que sejam de casos mais graves.
Até meados de janeiro, todos os infectados tinham estado em Wuhan, epicentro da epidemia. O cenário mudou após o surgimento de casos de pessoas infectadas no Japão, na Alemanha, nos EUA e na Tailândia que não viajaram para a região. Desde então, o vírus já se espalhou por diversos países.
Como a infecção é diagnosticada?
Como a China compartilhou informações sobre o sequenciamento genético do vírus, os países podem fazer testes laboratoriais para identificá-lo rapidamente. Eles são necessários para confirmar casos de suspeita, exceto na província de Hubei, epicentro da epidemia. No início de fevereiro , a China mudou as regras e permitiu que apenas nessa localidade exames clínicos sejam suficientes para acelerar o tratamento, segundo as autoridades.
Quais são os sintomas?
Os sintomas mais comuns são febre, cansaço e tosse seca. Algumas pessoas têm dores no corpo, congestão nasal, coriza, dor de garganta e diarreia. Uma em cada seis pessoas desenvolve dificuldade para respirar. Outras não desenvolvem sintoma nenhum, segundo a OMS.
Pessoas mais velhas e com problemas de saúde como pressão alta, diabetes e doenças cardiovasculares têm mais chance de desenvolver um quadro grave da doença. Radiografias do peito de pacientes infectados apontaram infiltrações nos pulmões.
Crianças, idosos e pacientes com baixa imunidade podem apresentar manifestações mais graves. No caso do novo vírus, ainda não há relato de infecção sintomática em crianças ou adolescentes.
Em caso de suspeita e histórico de viagem para os países afetados, é recomendável procurar um serviço de saúde.
Como se proteger?
Segundo a OMS, as medidas protetoras gerais são:
1. Lavar frequentemente as mãos usando água e sabão ou álcool em gel 70%, especialmente após contato com pessoas doentes, lugares muito movimentados (como transporte público) e antes de se alimentar.
2. Quando tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com as mãos (e lavá-las depois) ou lenços descartáveis.
3. Mantenha pelo menos dois metros de distância de quem estiver tossindo ou espirrando ou tenha febre.
4. Manter os ambientes ventilados.
5. Evitar tocar nos olhos, nariz e boca.
Máscaras cirúrgicas podem ajudar a limitar o espalhamento de doenças respiratórias, mas por si só não são garantia de prevenção e devem ser combinadas com as medidas de higiene citadas acima, segundo a OMS.
A OMS aconselha o uso racional de máscaras para evitar desperdício, ou seja, usá-las apenas em caso de sintomas respiratórios, suspeita de infecção por coronavírus. Profissionais que estejam cuidando de casos de suspeita também devem usá-las.
Existe tratamento?
Não há um medicamento específico para a infecção. Indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos.
Nos casos de maior gravidade, com pneumonia e insuficiência respiratória, suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica podem ser necessários.
A OMS ressaltou que não é possível utilizar antibióticos para prevenir ou tratar infecção por coronavírus. Os antibióticos funcionam apenas contra bactérias.
Não são tratamentos contra a doença causada pelo coronavírus:
– Vitamina C
– Chás de ervas
– Antibióticos
– “Shots” de imunidade
– Ozonioterapia
– Água quente
Essa é uma emergência de saúde pública internacional?
Sim. A OMS anunciou no dia 30 de janeiro que se trata de uma emergência internacional. A agência usou essa denominação poucas vezes, como nos casos do vírus H1N1, da febre suína (2009), do vírus do ebola (2014-2016) e do vírus da zika (2016).
O governo chinês deu ao surto a mesma classificação da Sars, o que significa quarentena obrigatória para os diagnosticados e uma possível instauração de restrições para viajar.
O vírus já chegou ao Brasil? Devo me preocupar?
Sim, o Brasil registrou nesta terça (25) o primeiro caso de infecção no país. O paciente é um homem de 61 anos vindo da Itália. O Ministério da Saúde acompanha casos de suspeita e divulga diariamente atualizações.
A pasta afirma que tem realizado monitoramento diário da situação junto à OMS e que ativou um centro de operações de emergência para monitorar possíveis casos suspeitos.
Entre as ações já adotadas estão a notificação da área de portos, aeroportos e fronteiras da Anvisa, avisos à área de vigilância do Mapa (Ministério da Agricultura) e notificação às secretarias de Saúde.
A Anvisa informou ter enviado recomendações a equipes de vigilância em saúde em portos e aeroportos para reforço no controle de possíveis casos de suspeita de coronavírus. O órgão enviou um documento que orienta equipes destes locais sobre o atendimento de viajantes com sintomas e pede notificação imediata de casos suspeitos, além de intensificação em procedimentos de limpeza e desinfecção de terminais.
O Ministério da Saúde ampliou os critérios para a definição de caso suspeito para o novo coronavírus. Agora, também estão enquadradas nesta definição as pessoas que apresentarem febre e mais um sintoma gripal, como tosse ou falta de ar, e vierem da Alemanha, Austrália, Emirados Árabes, Filipinas, França, Irã, Itália, Malásia, Japão, Singapura, Coreia do Sul, Coreia do Norte, Tailândia, Vietnã, Camboja, além da China.
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Por que o Brasil decretou estado de emergência em saúde pública?
O governo Jair Bolsonaro decretou estado de emergência em saúde pública para conter o novo coronavírus. Ele também sancionou um PL (Projeto de Lei) para estabelecer a base para a quarentena sanitária no país dos brasileiros que chegaram de Wuhan.
A portaria, publicada no DOU (Diário Oficial da União), permite à Secretaria de Vigilância em Saúde solicitar ao Ministério da Saúde a contratação temporária de profissionais, a aquisição de bens (como equipamentos) e a contratação de serviços.
Após 15 dias, as 58 pessoas que estavam em quarentena na base aérea de Anápolis (GO) para verificarem suspeita de estarem com coronavírus foram liberadas no dia 23/02.
Segundo o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, o Brasil está ampliando a capacidade de detecção do novo coronavírus. “É importante que o profissional de saúde esteja atento àquelas definições de caso suspeito caso alguém chegue de algum desses 16 países”, disse.
Vou viajar para fora do país. O que devo fazer?
A OMS não recomenda nenhuma medida de saúde específica para viajantes além das medidas de proteção geral já citadas nem qualquer tipo de restrição a viagens para a China ou de comércio com o país com base nas informações disponíveis até agora.
Em caso de sintomas sugestivos de doenças respiratórias antes ou depois da viagem, os viajantes devem procurar ajuda médica e compartilhar seu histórico.
Já o Ministério da Saúde do Brasil desaconselha viagens à China neste momento. “Não sendo estritamente necessário, recomendamos que não façam viagens até que o quadro todo esteja bem definido”, afirmou o ministro Luiz Henrique Mandetta.
Posso me contaminar com produtos que venham da China?
A transmissão do coronavírus ocorre de pessoa para pessoa ou de animais para pessoas. Dessa forma, não há riscos de contaminação a partir de objetos.
Segundo Nancy Bellei, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), mesmo durante a epidemia de Sars, causada por um coronavírus persistente no ambiente, não houve nenhuma recomendação para cuidados especiais com produtos que viessem de países onde havia transmissão local.
Que medidas preventivas foram tomadas em outros países?
O governo chinês impôs restrições de transporte sobre mais de 40 milhões de pessoas em busca da contenção da disseminação do vírus. As medidas, tomadas às vésperas do Ano-Novo Lunar, afetaram cidades da província de Hubei.
A China também vetou grandes aglomerações para a celebração do Ano-Novo em Pequim e fechou pontos turísticos. Além disso, o governo anunciou a construção de um hospital em Wuhan, epicentro da epidemia do novo coronavírus, com mil leitos destinados aos cuidados de pessoas infectadas.
Em seis regiões da Itália, os governos anunciaram as suspensões de todas as atividades escolares no domingo (23/02). Museus, cinemas, igrejas e centros esportivos também estão impedidos de funcionar.
Na Tailândia, as autoridades decretaram controles de temperatura corporal obrigatórios para os passageiros procedentes de zonas de alto risco da China.
Medidas similares foram tomadas pelos governos de Hong Kong, onde centenas de pessoas morreram durante a epidemia da Sars entre 2002 e 2003, e dos Estados Unidos, que estão controlando os passageiros provenientes de Wuhan.
Taiwan, com um caso da doença, emitiu um alerta para os passageiros que viajarem com origem ou destino da província chinesa onde se encontra o foco do problema.
No Vietnã, uma localidade de 10 mil habitantes, Son Loi, localizada a cerca de 30 quilômetros de Hanói, foi colocada em quarentena por 20 dias após a descoberta de seis casos de infecção pelo vírus.
Os Estados Unidos também ordenaram a triagem de passageiros que chegam em voos diretos ou de conexão a partir de Wuhan, inclusive nos aeroportos de Nova York, São Francisco e Los Angeles.
A Grã-Bretanha introduziu um monitoramento aprimorado dos voos a partir de Wuhan, enquanto a Romênia e a Rússia também estão reforçando os controles. Muitos países fecharam suas fronteiras com a China.
Quanto tempo essa epidemia vai durar?
A OMS disse que ainda é cedo para prever o fim da epidemia. A da Sars durou cerca de um ano. Segundo a médica Fátima Marinho, o vírus pode se espalhar com rapidez e se mostrar mais infectante ou então se enfraquecer e se tornar mais um, como o da influenza, uma gripe forte que vai e volta. Em breve, os cenários estarão mais claros.