Produzida pela farmacêutica Moderna, a vacina contra Covid-19 está na terceira fase de testes com humanos. No Brasil, ainda não há acordo de compra.
Julia Monsores | 17 de Novembro de 2020 às 11:00
A empresa de biotecnologia norte-americana Moderna anunciou nesta segunda (16) que a sua candidata à vacina contra a Covid-19, desenvolvida em parceria com o governo dos EUA, apresentou eficácia de 94,5% em uma análise interina dos dados.
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Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid, na sigla em inglês), que é parceiro da empresa na produção da vacina, disse em entrevista que ficaria satisfeito já com uma eficácia de 75%.
“Nós almejávamos 90%, 95%, mas eu não esperava encontrar esse resultado. Achei que teríamos um resultado razoável, mas 94,5% é muito impressionante.”
Os dados preliminares da terceira fase de estudos clínicos da vacina foram avaliados por um comitê independente.
A diretora-executiva da Moderna, Stéphane Bancel, disse em comunicado que os resultados iniciais demonstram “a primeira validação clínica que nossa vacina pode prevenir contra Covid-19, incluindo proteção contra quadro severo.”
Se confirmadas essas descobertas, a vacina da Moderna, assim como a da Pfizer, com eficácia de mais de 90% anunciada na última semana, podem ser as primeiras vacinas a impedir a infecção pelo novo vírus.
No comunicado da última segunda (9), a Pfizer não apontou se sua vacina teria eficácia em proteger contra o quadro severo da doença.
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Assim como a concorrente, a vacina da Moderna utiliza uma plataforma genética para induzir resposta imune no organismo.
A ideia é utilizar trechos do RNA do vírus, notadamente aqueles responsáveis pela codificação da proteína S da espícula do vírus, para induzir a produção de anticorpos e células de defesa.
Ao ter contato com o vírus verdadeiro, o sistema imune estará preparado para impedir a infecção e a replicação viral.
Para Barry Bloom, pesquisador de saúde pública na Universidade Harvard, as duas vacinas, da Moderna e da Pfizer, confirmam uma nova era em pesquisas de imunizantes.
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“O fato de duas vacinas distintas, que usam estruturas diferentes, em uma nova plataforma de RNA mensageiro terem uma eficácia tão alta confirma a ideia para todos de que essa é uma estratégia viável não só para a Covid-19, mas para todas as doenças infecciosas futuras”, disse.
Para avaliar a eficácia, um comitê externo, com integrantes escolhidos pelo próprio Niaid, avaliou os primeiros 95 casos de Covid-19 do estudo.
Apenas cinco desses casos surgiram no grupo que recebeu o imunizante, enquanto os outros 90 foram no grupo que recebeu o placebo (o chamado grupo controle).
Com isso, os pesquisadores concluíram que a eficácia da vacina era de 94,5%. Os dados preliminares também apontaram para a ocorrência de 11 casos severos da doença, mas nenhum deles foi identificado entre os participantes que receberam a vacina.
O imunizante também não apresentou até o momento efeitos adversos severos, mostrando-se seguro.
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As vacinas genéticas, contudo, possuem uma dificuldade logística, já que necessitam de armazenamento em ultracongeladores em temperaturas muito baixas (-20?C).
A Moderna afirmou, no entanto, que as suas vacinas podem ser armazenadas em refrigeradores por até 30 dias e que a vacina se mantém integra por até 12 horas em temperatura ambiente.
Em entrevista à revista Veja em outubro, o CEO da Pfizer no Brasil afirmou que as doses da sua candidata à vacina podem ser armazenadas por até 15 dias em frascos com gelo seco.
No Brasil, não há no momento nenhum acordo com a farmacêutica Moderna para compra e distribuição do imunizante.
A Pfizer Brasil avalia acordo com os governos estaduais para venda de doses, mas não há, até o momento, nenhum acordo definitivo.
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Embora o governo dos Estados Unidos esteja apoiando o desenvolvimento da vacina da Moderna com um aporte de U$1 bilhão (cerca de R$5,4 bi), a empresa norte-americana afirmou que não há previsão da vacina pronta para os próximos meses.
A expectativa é completar os ensaios clínicos de fase 3 e iniciar a produção das doses para a próxima primavera no hemisfério Norte.
Segundo reportagem do Financial Times de julho, a empresa planeja vender a vacina a um preço de U$ 50 a U$ 60 (cerca de R$ 260 a R$ 320) por esquema completo de vacinação (duas doses com intervalo de 28 dias). Esse valor, de acordo com o jornal, seria mais alto do que o acordado entre outras fabricantes.