A pesquisa trouxe evidências de que a tecnologia do imunizante pode ajudar na identificação de células tumorais, ajudando no tratamento.
Carol Peres | 26 de Outubro de 2025 às 10:00
Pesquisadores do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, e da Universidade da Flórida conseguiram evidências de que vacinas de mRNA contra a Covid-19, como as da Pfizer/BioNTech e da Moderna, podem tornar os tumores resistentes mais sensíveis a tratamentos imunoterápicos.
O estudo foi publicado na revista Nature, apontando um caminho para melhorar a eficácia de tratamentos em uma descoberta descrita como uma vitória para a ciência. A seguir, você conhece mais detalhes sobre a pesquisa e os resultados obtidos pelos cientistas.
De acordo com o G1 e a Veja, os pesquisadores analisaram dados de 880 pacientes que receberam tratamento para câncer de pulmão e melanomas entre 2015 e 2022. Esses pacientes usavam bloqueadores de checkpoint imunológico, que, segundo a publicação da Abril, 'soltam os freios' do sistema imunológico para que ele volte a atacar o tumor.
Os pacientes que receberam uma vacina de mRNA contra a Covid até 100 dias antes ou depois do início da imunoterapia tiveram um aumento significativo na sua sobrevida. Para os casos de câncer de pulmão avançado, a sobrevida mediana aumentou de 20,6 para 37,3 meses. No caso de melanoma, o aumento foi de 26 para mais de 36 meses.
Além disso, a taxa de sobrevivência em 3 anos para os não vacinados era de 30,8%, enquanto para os vacinados era de 55,7%. Em casos de melanoma metastático, o risco de morte caiu quase 60%.
O G1 chamou atenção para o fato de que comportamentos semelhantes associados a vacina de influenza ou pneumonia no mesmo intervalo não foram observados, reforçando que o estímulo é específico da tecnologia de mRNA.
Nesse sentido, o pneumologista Rodolfo Bacelar, da Comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) comentou à Veja que os casos do estudo não eram fáceis, o que demonstra o potencial da decoberta. "Ter o dobro de chance de estar vivo após três anos é, sim, um resultado animador", disse o especialista.
Os pesquisadores fizeram também experimentos em camundongos, ocasião em que reproduziram a fórmula da vacina da Pfizer. Assim constataram que o imunizante provoca uma forte produção de uma molécula conhecida com interferon, um sinalizador que ativa as células de defesa e as prepara para reconhecer e atacar células tumorais.
De forma geral, a vacina 'reprograma' o sistema imune para que ele volte a identificar o tumor. E essa resposta inflamatória é responsável também pela elevação de PD-L1, proteína cujo aumento ajuda a identificar as células que precisam ser desmascaradas.
"Esses pacientes vacinados aumentavam a expressão de uma proteína chamada PD-L1 no tumor. O PD-L1 é como uma capa de invisibilidade: ele camufla a célula tumoral, impedindo que o sistema imune a reconheça. As drogas anti-PD-L1, como o pembrolizumabe, tiram essa capa. Então, quando há mais PD-L1, o alvo da imunoterapia fica mais claro e o tratamento se torna mais eficaz", detalhou o oncologista Stephen Stefani, da Oncoclínicas e da Americas Health Foundation, ao G1.
No entanto, destaca que as análises foram feitas com base em informações de casos já ocorridos, o que indica possibilidade de interferência de outros fatores. Logo, são necessários mais testes para confirmar se essa estratégia poderia ser incorporada em tratamentos.
É importante reforçar também que as vacinas da Covid-19 não tratam o câncer, mas representam uma tecnologia promissora para tornar a imunoterapia mais eficaz. Se você se interessa por assuntos de saúde, vale a pena assinar a revista Seleções e descobrir uma série de conteúdos muito valiosos.
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