Pesquisadores conseguiram desvendar e bloquear a ação do vírus zika em camundongos, evitando a microcefalia em seus fetos. Confira!
Pesquisadores do Brasil, Argentina e Estados Unidos encontraram uma maneira de bloquear a ação do vírus da zika em camundongos ao inibir um receptor ativado pelo invasor que limita a resposta imunológica do infectado.
O resultado foi possível com o uso de uma droga experimental capaz de barrar a doença nos animais e evitar danos no cérebro de fetos com a doença.
No artigo publicado nesta segunda-feira (20) na revista científica Nature Neuroscience, os pesquisadores descrevem a inibição de um receptor chamado AHR pela ação do vírus.
Entenda como funciona o tratamento experimental para o zika
Segundo Jean Pierre Schatzmann Peron, imunologista da USP e um dos autores do trabalho, a AHR consegue limitar a produção de interferons e uma proteína chamada PML, substâncias que têm o poder de limitar a replicação viral no corpo.
Conhecendo o alvo a ser atingido, os pesquisadores testaram uma droga experimental que em estudos anteriores já havia demonstrado eficácia para inibir a AHR. A substância, chamada HP163, conseguiu reduzir a infecção nos animais e bloquear a ação do vírus no cérebro.
Responsável por um surto de grandes proporções entre os anos de 2015 e 2016, o vírus da zika pode infectar o cérebro e causar danos neurológicos. O patógeno pode ser transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti (o mesmo que carrega o vírus da dengue), por relações sexuais e ainda da mãe para o feto durante a gravidez.
Fetos infectados pelo vírus podem desenvolver a microcefalia, uma condição neurológica que afeta o desenvolvimento do cérebro.
Zika: USP desenvolve teste que identifica vírus com maior precisão
Ao usar a droga experimental em roedoras grávidas infectadas pelo vírus, os cientistas verificaram uma proteção nos filhos. “Nos fetos das mães tratadas, houve manutençao de precursores neuronais, como nos animais não infectados”, diz Peron.
De acordo com o pesquisador, houve remissão total do vírus na placenta e os fetos das mães infectadas e tratadas com a substância nasceram com o peso normal.
“Provavelmente, a droga inibiu o AHR, melhorando a resposta imune das mães. Assim, a carga viral reduziu significativamente, e uma quantidade menor de vírus avançou para cérebro e placenta”, explica Peron.
Próximo passo será o de testes em macacos
O grupo de pesquisadores do qual Peron faz parte estuda o vírus da zika e seus mecanismos desde 2016. Ainda naquele ano, os pesquisadores estabeleceram o modelo experimental em camundongos para estudar a doença. Em artigo publicado na revista Nature em 2016, os cientistas comprovaram a relação entre zika e microcefalia.
Agora, durante a pandemia do novo coronavírus, Peron conta que as atividades nos laboratórios em que trabalha estão todas voltadas para pesquisas sobre o Sars-cov-2, causador da Covid-19.
De acordo com o cientista, não há previsão de retomada dos estudos com a zika. Porém, entre os próximos passos dessa pesquisa estão novos testes com a HP163 em macacos. E, depois, estudos clínicos com a substância que poderão verificar sua eficácia como tratamento em humanos.
EVERTON LOPES BATISTA || FOLHAPRESS