Será que o excesso de informações contribui para o surgimentos de sonhos estranho? Entenda melhor como o nosso cérebro tem se comportado.
Thaís Garcez | 28 de Julho de 2020 às 15:00
A quarentena chegou e resultou na desorganização da rotina. Boa parte da população passou a trabalhar de casa, enquanto outros precisaram se adaptar para continuar a trabalhar fora (seguindo os protocolos contra a covid-19). Nada permaneceu como era antes, e isso causou reações no organismo, como a ocorrência frequente de sonhos estranhos.
De acordo com a ciência, os sonhos provêm do subconsciente e podem ser registros de algum fato ocorrido, de desejos, de medos etc. Para a maioria dos pesquisadores, os sonhos são expressões das atividades noturnas do cérebro. E essas atividades, por sua vez, são maneiras de tentar amenizar ou se adaptar à nova realidade.
Uma noite de sono tem vários estágios. Mas é durante o sono REM que os sonhos estranhos geralmente acontecem. REM significa movimento rápido dos olhos, ou seja, é quando a atividade cerebral é similar à de quando estamos acordados. Normalmente, ele ocorre em ciclos de 90 e 120 minutos. Portanto, se estamos dormindo mais, estamos tendo mais ciclos REM.
Em pesquisa recente, algumas pessoas contam que conseguem lembrar com mais facilidade os sonhos que estão tendo nesse período incomum do que anteriormente.
Os sonhos estranhos e vívidos, mais reais, que ocorrem durante esse período sobrecarregam o corpo e prejudicam o revigoramento noturno. Por isso, muitas pessoas também têm relatado que acordam cansadas e nervosas após seus sonhos. E quem tem sonhado diretamente com o coronavírus e com tudo que está relacionado à pandemia costuma ter um estresse físico e também emocional. Afinal, podemos dizer que estamos passando por um trauma coletivo que afeta nosso psicológico.
O fato é que recebemos diariamente inúmeras informações a respeito da pandemia. A falta de certeza no futuro, a espera ansiosa pela cura e o medo de ser contaminado afeta diretamente o nosso cérebro. E, portanto, refletem no tipo de sono que estamos tendo e nos sonhos que produzimos.
Algumas pessoas têm revelado que suas horas de sono aumentaram, devido à nova rotina. Entretanto, afirmam também que têm tido muitos sonhos estranhos e pesadelos; normalmente ligados ao coronavírus. Esses sonhos vívidos geralmente reproduzem aquilo que acompanhamos nos noticiários e vivemos no dia a dia, mas também estão ligados aos anseios pessoais (como tomar logo a vacina) e medos (como sair sem máscara). E quanto mais difícil de lidar é a realidade, mais sonhamos com ela.
Desde o início da quarentena, alguns pesquisadores e professores iniciaram um pesquisa sobre as consequências da pandemia nos sonhos das pessoas. Um desses estudos – coordenado pelas Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a colaboração da UFRN, UFRJ e UFC –, chamado de “Sonhos em tempos de pandemia”, pretende reunir relatos dos sonhos que algumas pessoas tiveram nesse período histórico.
O objetivo da pesquisa é compreender as consequências psíquicas da pandemia na sociedade, envolvendo pessoas com rotinas comuns e profissionais da saúde, que estão na linha de frente.
A inspiração para essa pesquisa veio da reunião de histórias que a jornalista alemã Charlotte Beradt fez no período eminente à Segunda Guerra Mundial. Tal compilação, inclusive, tornou-se um livro, chamado Sonhos no Terceiro Reich. Nos relatos registrados é possível identificar sinais, que surgiam durante os sonhos, do que estava por vir; consequência das tensões e informações do momento.
A pesquisa brasileira sobre os sonhos gerados durante a pandemia ainda está em curso, mas já reuniu diversos dados interessantes. Qualquer pessoa pode participar enviando sua história, basta preencher um formulário que está disponível no Instagram @sonhosconfinados. Ao final da pandemia, provavelmente teremos um panorama detalhado do impacto da realidade nos nossos sonhos e na qualidade do nosso sono.