Conforme alerta a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), manifestações de pele também são sintomas dermatológicos associados à Covid-19.
Julia Monsores | 4 de Junho de 2021 às 12:40
Estudos feitos pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) apontam que alguns problemas dermatológicos podem ser sintomas da Covid-19 ou indícios de que o paciente foi acometido pela doença.
Segundo os estudos realizados pela SBD, apesar de menos comuns que os sintomas clássicos (febre, tosse seca, falta de ar e cansaço), os problemas dermatológicos aparecem em cerca de 6% a 10% dos casos de pacientes acometidos pelo vírus causados da Covid-19.
Alguns desses sintomas dermatológicos podem demorar um longo período para desaparecer, persistindo mesmo após o término da infecção pelo coronavírus. Já outros tendem a sumir ao término do quadro infeccioso. Segundo aponta a assessora de Departamento de Dermatologia e Medicina Interna da SBD, Camila Arai Seque, a gravidade das repercussões cutâneas é proporcional ao quadro geral do paciente.
Assim, casos leves ou assintomáticos costumam gerar sintomas brandos na pele, já os episódios de infecção grave – como aqueles que requerem internação em UTI – apresentam os sinais mais preocupantes.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) os principais sintomas dermatológicos observados são:
Segundo esclarece Camila Arai Seque, atualmente há muitas pesquisas sendo desenvolvidas por todo o mundo que buscam fornecer respostas mais assertivas às muitas dúvidas que ainda permeiam a associação entre Covid-19 e as repercussões dermatológicas.
Um dos pontos que suscita dúvidas é com relação à frequência dessas manifestações dermatológicas. De acordo com a especialista, ainda não há um consenso se os quadros são recorrentes ou raros, o que pode ser percebido em diferentes trabalhos publicados. Na tentativa de esclarecer dúvidas, a SBD, por meio de seu Departamento Científico, prepara documento para os associados com uma atualização sobre o tema.
Desde maio de 2020, a especialista da SBD coordena um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizado em quatro hospitais com ampla amostragem de pacientes, em busca de evidências científicas para a questão.
“Já sabemos que existem alguns sintomas dermatológicos relacionados à Covid-19. Os mais prevalentes são erupção maculopapular, urticária, erupção vesicular e alterações vasculares. Atualmente, o objetivo dos pesquisadores é elucidar se essas manifestações estão diretamente relacionadas à atuação do vírus na pele ou se elas são apenas um reflexo de repercussões sistêmicas”, afirma.
Em outras doenças virais os sintomas dermatológicos são justamente de caráter secundário. Ou seja, derivadas de respostas exacerbadas do sistema imune (reações inflamatórias, vasculares, de coagulação, entre outras), como ocorre com a dengue, zika e chikungunya,
Em geral, esses sintomas dermatológicos tendem a desaparecer com a melhora do paciente. No entanto, há relatos, menos comuns, de manifestações que perduram por longo período. É o caso do pseudo eritema pérnio, também conhecido como “dedos de Covid”.
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“Nesses casos surgem manchas arroxeadas nas extremidades das mãos e pés. Ainda não há respostas definitivas sobre o porquê dessas lesões perdurarem. As hipóteses atuais indicam justamente para uma reação imunológica ao vírus, mas ainda há dúvidas e os debates estão sendo travados no campo científico. De toda forma, se compararmos com os relatos da Europa, no Brasil foram descritos poucos casos desse tipo”, disse a assessora.
Na avaliação da especialista, é fundamental ressaltar que os sintomas dermatológicos parecem ser raros em comparação a outros sintomas da Covid-19. Na literatura médica, a frequência é discutível, com variações que vão de 45% a 0,2%.
Além disso, quando verificadas, elas costumam ser pouco específicas em sua apresentação. Assim, dificulta que a população possa reconhecer e utilizar esses sinais de pele como marcador de suspeita para Covid-19. Desse modo, Camila Arai Seque aponta que ao notar o surgimento de manchas ou outras mudanças na pele, sobretudo se houver tido contato próximo com alguém infectado, é importante realizar o teste da Covid-19.
“Somente no futuro, conforme avançarem as pesquisas, é que esses sinais poderão auxiliar os médicos, como critérios diagnósticos para a Covid-19”.
O tratamento para aqueles que apresentam sintomas dermatológicos associados à Covid-19 está sempre condicionado ao grau e tipo de repercussão observada, informa a assessora da SBD. Para obter uma indicação terapêutica adequada, ao perceber alguma alteração mais significativa, a recomendação é procurar um dermatologista.
“As pesquisas ainda estão em andamento e, no momento, há poucas certezas. O conselho para os pacientes é sempre procurar um especialista para cuidar dos problemas na pele, já para os médicos a recomendação é buscar atualização e valorizar com atenção esses achados, em função nosso contexto pandêmico”, finaliza a médica.