Ginecologista explica que pílulas anticoncepcionais só mascaram a Síndrome dos Ovários Policísticos e ainda podem gerar trombose.
Julia Monsores | 1 de Fevereiro de 2021 às 16:00
O resultado do seu ultrassom mostrou que você tem um cisto no ovário e seu médico a diagnosticou com a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)? Ou, então, sua menstruação está irregular e, com o mesmo diagnóstico, foi recomendado que você usasse pílula anticoncepcional para o tratamento? Cuidado!
Tanto o diagnóstico quanto o tratamento estão equivocados, de acordo com a Dra. Mariana Rosario*, ginecologista, obstetra e mastologista, que explica que a síndrome abarca todo um conjunto de sinais e sintomas.
Por isso, em relação à Síndrome dos Ovários Policísticos, ter cistos nos ovários não significa que a mulher necessariamente tenha a síndrome.
“Basear-se apenas em uma alteração no ultrassom para fechar esse diagnóstico é prematuro, porque ele envolve muitos outros fatores”, explica.
Segundo a Dra. Mariana, os cistos nos ovários costumam aparecer em função do aumento da testosterona e por influência da insulina, que deixa a membrana dos folículos ovarianos – local onde o óvulo se desenvolve – mais grossa.
Em função disso, quando o folículo vai maturar, ele não consegue romper essa membrana. E assim, a mulher não ovula. Quando não há essa liberação do óvulo, fica um líquido dentro do folículo, que origina um cisto.
“Ter cistos no ovário não significa que a mulher tenha a Síndrome dos Ovários Policísticos porque os cistos podem sumir de um ciclo menstrual para o outro. Mas, se ela for portadora da SOP, os demais sintomas, como a resistência à insulina, que causou os cistos, não sumirão sem tratamento adequado, com a união multiprofissional”, explica.
Dra. Mariana diz que a resistência à insulina, componente fundamental da Síndrome Metabólica (SM), se manifesta em quase todas as pacientes com SOP.
“Cerca de 43% das pacientes com SOP é resistente à insulina e o problema aumenta em até sete vezes o risco de doença cardiovascular nestas pacientes”, explica.
Mas, você sabe o que são a resistência à insulina e a Síndrome Metabólica? Trocando em miúdos, as pacientes que têm SOP são pré-diabéticas, ou seja, sofrem de resistência à insulina (resposta insuficiente das células à ação da insulina, que causa aumento da glicose no sangue em determinados períodos e pode levar ao diabetes tipo 2 e da Síndrome Metabólica (conjunto de sinais e sintomas que podem incluir, além da resistência à insulina, a obesidade, a hipercolesterolemina, a hipertensão arterial, o excesso de gordura abdominal e alteração nos níveis de triglicerídeos).
Além disso, esse quadro tem forte influência no desenvolvimento do hiperandrogenismo – distúrbio endócrino caracterizado pelo excesso de andrógenos (hormônios responsáveis pelas características masculinas), como testosterona.
Aproximadamente 50% das pacientes com SOP estão acima do peso ou são obesas. A resistência à insulina é, ainda, responsável pelas manchas mais escuras nas áreas do pescoço, axila e virilha.
O primeiro sinal da SOP – e o mais importante – é a falta de menstruação ou irregularidade no ciclo menstrual. Desse modo, pode ser que a menstruação venha em um mês e fique sem aparecer nos meses seguintes, por exemplo.
Além desse, existem outros sinais, como o aumento de testosterona, que é quando aparecem pelos em locais que as mulheres normalmente não têm, como rosto, colo e barriga.
Excesso de oleosidade do couro cabeludo, acnes adultas, sinais de resistência à insulina – aquela mancha escura no pescoço, axila e virilha –, e obesidade também compõem o quadro.
“Aliando todos esses episódios aos cistos nos ovários, mostrados no ultrassom, ainda realizo alguns exames hormonais para dosar a testosterona e os hormônios FSH e LH”.
Entre os sintomas que as mulheres com SOP podem apresentar, estão:
Mas vale lembrar que em algumas pessoas a SOP também pode se manifestar de forma assintomática.
A Síndrome dos Ovários Policísticos costuma atingir as mulheres em idade reprodutiva e seu diagnóstico é fundamental para que se possa controlar o problema. Para tanto, é preciso, ainda, eliminar a possibilidade de outras doenças.
Assim, o diagnóstico passa por exames de imagem, juntamente com exames bioquímicos (de sangue) e clínico (realizado por mim no consultório). Feito isso, será preciso fazer a dosagem de todos os hormônios para que seja realizada uma abordagem multifatorial.
Entre os exames laboratoriais necessários para diagnosticar a SOP, estão testes de hormônios femininos FSH, LH, Progesterona, Estradiol e Prolactina, que medem a fertilidade e os problemas hormonais, como a SOP.
Será preciso, ainda, afastar a infertilidade como causa da falta de ovulação. Caso o ultrassom identifique os cistos, mais exames precisarão ser realizados, como perfil lipídico e glicemia, para analisar problemas que podem ocorrer, como doenças cardiovasculares e diabetes.
Além disso, a realização do ultrassom pélvico, somado à história clínica da paciente, servirão de base para se obter o diagnóstico completo e verdadeiro. É essa avaliação minuciosa e séria que levará à conclusão do quadro de Síndrome dos Ovários Policísticos.
A SOP, que geralmente começa a se desenvolver na puberdade e atinge uma em casa cinco mulheres, é um fator dificultador para gravidez.
“Com a SOP, aumenta-se a testosterona e a redução do estradiol no corpo das mulheres. E isso faz com que elas não ovulem e, portanto, não engravidem”, explica.
Detectar o problema o quanto antes é importante, pois ele pode ser responsável por inúmeros problemas na vida da mulher. Além da dificuldade de engravidar, falada acima, também pode desencadear outros, como diabetes e hipertensão.
Cada paciente deverá ser tratada de forma individualizada e receber as medicações necessárias para cada problema que apresentar, seja hipertensão, aumento de pelos ou diabetes. Por isso, não é indicado engravidar com essa síndrome vigente. O ideal é tratar antes.
É importante que fique claro: SOP não se trata com anticioncepcional oral. Os comprimidos só mascaram o problema e ainda podem desencadear outros mais sérios, como trombose, caso a paciente seja hipertensa.
Sendo assim, os tratamentos dependerão das alterações que cada paciente tiver.
A Dra. Mariana explica que mulheres com alterações glicêmicas (resistência à insulina ou diabetes) precisam de antiglicemiante oral ou insulina, dependendo do caso.
“Já na hipertensa, será preciso baixar a pressão arterial. É relatado na literatura médica que a administração de m-inusitol e magnésio também melhoram o quadro de pressão alta, podendo ser adotadas em algumas pacientes”, conta.
O mesmo acontece com quem apresentar aumento de testosterona: é preciso controlar os níveis do hormônio. Porém, nunca com anticoncepcional, e sim com a adoção de outros métodos, mais modernos e eficazes.
“Vale ressaltar que o pilar principal desse tratamento é a mudança do estilo de vida. E isso inclui uma dieta anti-inflamatória, exercícios físicos regulares para ajudar no emagrecimento e suplementação vitamínica”, conclui a Dra. Mariana.
* A Dra. Mariana Rosario é membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (SOGESP) e do corpo clínico do hospital Albert Einstein. Dra. —