Chamada "Síndrome de Burnout Parental", quadro de esgotamento físico e mental se intensificou na pandemia. Leia entrevista com psicólogo!
Talvez você já tenha ouvido falar na Síndrome de Burnout. Trata-se de uma doença classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um estado de esgotamento físico, emocional e mental, normalmente em razão do acúmulo de trabalho. No entanto, o que muita gente não sabe é que também existe a chamada “Síndrome de Burnout Parental”, que é relativamente nova e intensificou-se agora na pandemia.
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“Principalmente pelo fato de que a maioria das pessoas começou a trabalhar de home office, tornou-se muito comum a ocorrência dessa síndrome. Vale lembrar que quando falamos apenas de Síndrome de Burnout estamos associando única e exclusivamente ao fator profissional, no entanto, ao levar o trabalho para casa, automaticamente você vai levar o estresse para dentro de casa também. Assim, somando isso à criação dos filhos, à quebra de rotina na vida de todos, ao medo de ser infectado pelo vírus, à ansiedade causada pelas incertezas do futuro, e todos esses elementos, acabam potencializado não apenas a Síndrome de Burnout Parental, mas inúmeros transtornos mentais”, explica o psicólogo Alexander Bez, especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM).
Para explicar melhor esse cenário, e abordar sintomas e opções de tratamentos, conversamos com o psicólogo, que deu dicas valiosas. Confira!
O que é a Síndrome de Burnout Parental?
Segundo o especialista Alexander Bez, a Síndrome de Burnout Parental é relativamente nova, e o cenário pandêmico, marcado por grande tensão, acúmulo de trabalho e conflitos dentro de casa, intensificou o surgimento desse e de diversos outros transtornos mentais — como ansiedade e depressão.
“Os pais acabam acumulando os afazeres profissionais, os afazeres domésticos e, ainda, a criação dos filhos. Então, vira um emaranhado de dificuldades, de situações que vão desencadear um estresse muito grande. E isso vai acabar se transformando na síndrome, que é definida basicamente como um esgotamento mental, físico e emocional, por conta do acúmulo”, explica.
Sintomas
Mas afinal, como identificar um possível quadro de Síndrome de Burnout Parental? Segundo o psicólogo, é possível notar alguns sinais de alerta, como:
- Estresse;
- Cansaço;
- Irritabilidade;
- Falta de humor;
- Sensação de exaustão.
“Além disso, notamos também dores no corpo, nervosismo, ansiedade, desânimo, insônia, falta de apetite e desgaste emocional. Em alguns casos pode afetar também a vida sexual do casal. É muito importante procurar um profissional quando esses sintomas começarem a aparecer!”, explica Alexander Bez.
Mulheres tendem a ser mais afetadas
A pressão da sociedade, que recai principalmente sobre a necessidade de perfeição entre as mulheres, que precisam dar conta do trabalho, da casa e dos filhos, também exerce influência nesse esgotamento.
“Existe também a questão da cultura machista, que é inegável e persistente, e essa pressão por “tudo perfeito” influencia sim. As mulheres deveriam começar a dialogar com a retórica de que “não existe perfeição”, isso vai ajudar muito no sentido de diminuir esse estresse, e de que ela possa se organizar e ter menor suscetibilidade a desencadear a Síndrome de Burnout Parental”, explica Alexander Bez.
Segundo o psicólogo, essa cobrança de que a mulher deveria “fazer tudo e mais um pouco” sequer deveria existir. “Principalmente em um mundo pós-pandemia, não podemos nos pautar pela cobrança, mas sim pela tolerância e compreensão”, defende.
Quais estratégias podem ser adotadas para evitar esse quadro?
Se você chegou até o final dessa matéria, e se identificou com ela, talvez agora possa estar se perguntando: Mas e aí? O que eu faço? Quais estratégias podem ser adotadas para evitar esse quadro?
Aprenda a dividir as tarefas
“Em primeiro lugar, é importante estabelecer uma organização pessoal. Segundo, a pessoa tem que compreender que ela não pode dar conta de tudo sozinha, então uma divisão de tarefas com o (a) companheiro (a) é muito importante!”, explica o psicólogo.
A divisão de tarefas pode parecer um assunto complicado de se abordar no começo, mas é fundamental para que ninguém fique sobrecarregado. E para evitar que este desgaste atinja o seu casamento, é importante apostar em uma divisão de tarefas domésticas igualitária, em que ambos tenham igual carga de trabalho. Dessa forma, sobra mais tempo para você aproveitar numa boa com o seu amor.
Tenha um tempo para você
Além disso, dedicar um tempo para suas próprias atividades, que te proporcionem prazer e descaso, também é muito importante.
“Estabelecer pequenos intervalos entre uma atividade e outra para que o esgotamento não seja mais contundente, valorizar cada tarefa realizada e ter uma gratificação no final do dia, para que o estresse de hoje não seja acumulado com o estresse de amanhã, são boas estratégias para contornar a Síndrome de Burnout Parental”, defende Alexander Bez.
Para o especialista, abrir mão do perfeccionismo, além de ter uma clara noção dos nossos limites, também é fundamental. “Estabelecer metas e horários e também responsabilizar e delegar certas responsabilidades para as crianças, segundo a idade de cada uma, para terem mais autonomia”.
Fonte: Alexander Bez – Psicólogo; Especialista em Relacionamentos pela Universidade de Miami (UM); Especialista em Ansiedade e Síndrome do Pânico pela Universidade da Califórnia (UCLA). Atua na profissão há mais de 20 anos.