Você já ouviu falar da Síndrome da falsa memória? Saiba mais sobre este assunto tão polêmico e entenda a discussão entre especialistas!
Douglas Ferreira | 8 de Agosto de 2021 às 17:00
As memórias de nossa infância podem ser muito falhas, porque, sem a compreensão que tem um adulto, podemos interpretar mal o que sentimos ou nossa própria percepção pode ser afetada pela pouca idade e o pequeno tamanho. Uma experiência comum é a pessoa retornar à casa onde cresceu e perceber que é muito menor, pois na época ela era bem maior do que a criança. Emoções intensas como medo, tristeza e êxtase podem enfeitar ou distorcer memórias, assim como crenças fortes, como o preconceito e a superstição.
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Os relatos de testemunhas de crimes e acidentes podem ser bastante diferentes, ainda que elas estivessem na mesma posição, mas a maior importância da síndrome da falsa memória diz respeito a algumas acusações de estupro e queixas de maus-tratos na infância, que são obtidas anos depois, na vida adulta, por terapeutas entusiasmados.
Freud constatou que alguns de seus pacientes de classe média, em Viena, por volta de 1900, descreviam (durante a psicanálise) atividade sexual com participação dos pais, mas atribuiu isso às fantasias proibidas que emergiam sob hipnose ou por livre associação. Recentemente, porém, houve uma tendência a atribuir vários transtornos psiquiátricos e da personalidade a abusos ocorridos na infância, mesmo quando o paciente não consegue se lembrar de nada desse tipo no início: a síndrome do sobrevivente do incesto.
O livro, The Courage to Heal (A coragem de curar), de Laura Davis e Ellen Bass, estimulou muitas mulheres a embarcarem na terapia de recuperação de memórias, durante a qual algumas delas recuperam lembranças que, segundo a proposta, foram reprimidas. As técnicas abrangem trabalho do sonho, arteterapia, “revivência” de emoções reprimidas induzida por medicamentos, abreação (resposta automática a um estímulo que faz uma pessoa se lembrar de uma experiência, como abuso), hipnose, “grupos de sobreviventes” e “regressão etária”. Denúncias subsequentes dividiram famílias e geraram acusações criminais e pedidos de indenização. A contra-acusação é que terapeutas comprometidos com sua hipótese impuseram uma falsa memória aos pacientes pelo poder da sugestão.
Os pais acusados de abuso dessa forma são naturalmente atraídos para a interpretação das “falsas memórias”, mas muitas pessoas que “recuperaram” suas memórias na terapia perceberam e admitiram que foram sugestionadas.
O Royal College of Psychiatrists (Reino Unido) afirma não haver respaldo à crença de que memórias podem ser “bloqueadas pela mente”. A entidade declara ainda que “memórias recuperadas são diferentes das outras formas de eventos esquecidos e lembrados, pois são construídas ao longo do tempo. Assemelham-se a uma narrativa e não à memória e aumentam a cada tentativa de recordação, muitas vezes tornando-se cada vez mais elaboradas e bizarras. As expectativas do terapeuta e/ou do paciente, reforçadas por leitura dirigida, técnicas específicas e expectativa do grupo de sobreviventes, podem distorcer qualquer memória existente ou implantar uma totalmente nova”.
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