Confira detalhes sobre o que é tungíase, problema evitável que afeta o povo Yanomami
Laura Oliveira | 3 de Fevereiro de 2023 às 12:35
A tungíase, popularmente conhecida como bicho-de-pé, é uma infecção causada por uma espécie de pulga chamada Tunga penetrans. Este parasita vive em ambientes secos e solos arenosos, e se alimenta do sangue de humanos e de animais.
A infecção ocorre quando as fêmeas deste parasita entram na pele por qualquer parte do corpo que esteja em contato com o solo – principalmente pés, mãos e nádegas. O bicho-de-pé é facilmente identificado, pelas pequenas pintinhas escuras dentro de um círculo claro que costumam aparecer no lugar da infeção.
Em caso de suspeita de bicho-de-pé o recomendado é procurar um clínico geral ou dermatologista para que o profissional possa determinar o tratamento mais adequado. O tratamento geralmente envolve a retirada do parasita da pele, no entanto, quando não o paciente não procura ajuda, a infecção pode se espalhar e levar a sérios problemas de saúde.
Os casos são mais comuns em zonas pobres ou remotas, como comunidades rurais e aldeias indígenas, por exemplo. Entre as razões para maior disseminação nesses locais, está, principalmente, a maior exposição ao meio ambiente sem a proteção de roupas ou sapatos.
As lesões causadas pela tungíase dependem da infestação do solo. Em um primeiro momento, se manifesta como um sinal marrom escuro, como uma pinta, mas que se não for tratado pode se espalhar.
O principal sintoma da tungíase é a coceira no local dessa pintinha escura. Quando a inflamação local se torna intensa, a pessoa afetada pode ter infecção bacteriana e ter sua mobilidade comprometida.
O tratamento para a tungíase consiste na retirada do parasita com uma agulha desinfetada, devendo todo o parasita ser retirado. Em seguida, é usado um antisséptico no local. Caso ocorra uma infecção secundária, é tratada com antibioticoterapia tópica ou sistêmica.
Além de casos graves de desnutrição, malária e quadros de verminoses, os indígenas yanomami, que passam hoje por uma crise humanitária de grandes proporções, sofrem também com a disseminação da tungíase.
Recentemente, o Governo Federal decretou estado de emergência em saúde pública nas Terras Yanomamis. Atualmente, os Yanomamis são uma população de cerca de 30 mil pessoas que vivem em um território entre o Brasil e a Venezuela. No Brasil, se organizam em mais de 350 comunidades distribuídas entre os estados de Roraima e Amazonas.
Em 1922, o território foi reconhecido pelo Governo Federal como uma região de uso exclusivo desses povos e também dos Ye'kwan, uma população com cerca de 850 pessoas. A situação desses povos, atualmente, começa a receber a devida atenção do governo, porém há tempos já estava relatada em ofícios e relatórios entregues a todos os órgãos federais.
Apesar de existir um tratamento, no caso dos Yanomami, os muitos anos da falta de assistência médica adequada para esses povos levaram a situação a quadros mais graves. Segundo Paulo Machado, coordenador do Departamento de doenças infecto parasitárias da SBD, as amputações que estão ocorrendo são um claro sinal do quão longe o problema foi.
Além disso, o especialista aponta que o uso de medicamentos para outras infecções também não esteve devidamente disponível nas comunidades yanomami nos últimos anos. Eles não se beneficiam dos métodos tradicionais de tratamento e, por serem infestados continuamente, podem chegar a ter centenas de tungas no corpo.
"No contexto urbano, o médico remove e pronto, o problema acaba. Como o território yanomami é muito grande e nas áreas de garimpo não têm postos de saúde fixos, os indígenas ficavam desassistidos", explica Carla Rodrigues, médica do grupo de saúde indígena da SBFC.
De acordo com Carla Sássi, médica veterinária do Grad (Grupo de Resgate de Animais em Desastres), o problema envolve questões da saúde humana, animal e ambiental.
"A ocorrência da tungíase no território yanomami é um bom exemplo do que chamamos de tríade na saúde única, que é a relação da saúde humana, animal e ambiental. Não adianta tratar cada um desses separadamente - apenas tratando os três ao mesmo tempo por um período de médio a longo prazo é que é possível conseguir resultados no controle dessa zoonose".
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Sônia Guajajara, ministra dos Povos Originários, afirmou que os indígenas estão morrendo de "mortes evitáveis", como diarreia, malária e desnutrição. “O decreto publicado na noite desta sexta-feira (20), no Diário Oficial da União, institui o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária e prevê a criação de ações de enfrentamento à crise sanitária no território Yanomami, e aos problemas sociais e de saúde dela decorrentes, no prazo de 45 dias", escreveu a ministra em post nas redes sociais.
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