Originada na Índia, a prática pode ajudar com autoconhecimento, empoderamento e impotência sexual.
Recentemente, a ex-integrante do grupo É o Tchan, Sheila Mello, publicou em suas redes sociais fotos de seu retiro tântrico. O post despertou a curiosidade dos seguidores da dançarina, que compartilhou, em entrevista ao G1, estar na busca do autoconhecimento há um tempo. Tal jornada levou Mello ao mergulho nos ensinamentos da filosofia tântrica. Mal compreendido e por vezes rejeitado, o chamado tantrismo, seja ele hindu ou budista, geralmente chega aos ocidentais com uma conotação pejorativa de estranhamento e sedução. Para entender a verdadeira prática do sexo tântrico, é fundamental compreender a sua filosofia por trás.
O tantra
A palavra tantra possui origem sânscrita, derivando dos termos "tan", que significa expansão ou continuar, e "tra", que significa libertação ou conhecimento. Desse modo, o termo tantra pode simbolizar "expansão do conhecimento".
Para além de uma prática sexual, o tantra consiste em uma complexa filosofia com preceitos de consentimento, abertura da mente, energia sexual vital e equilíbrio. O maior objetivo do tantrismo é alcançar a libertação total, através do corpo e dos cinco sentidos, e atingir a kundalini, energia potente e vital localizada na área do cóccix. Assim, essa filosofia entende o corpo não como um obstáculo, mas sim como o caminho para a transformação.
Diante de uma sociedade patriarcal e repressiva quanto às atividades sexuais, a terapia tântrica, portanto, estimula o indivíduo a se distanciar dos preconceitos e das amarras que envolvem o sexo. Dessa forma, utiliza-se essa energia sexual vital, o desejo, alinhado à espiritualidade para alcançar o autoconhecimento e a libertação.
De acordo com André Van Lysebeth, escritor e instrutor de yoga do século XX, estima-se que os conhecimentos do tantra já eram praticados por volta do ano 3.000 a.C., pelos povos que habitavam a região do Vale do Indo, no Sul Asiático. Com o passar do tempo, esses ensinamentos se propagaram e se misturaram com outras culturas e religiões, como o Hinduísmo, o Budismo, a Yoga e o Taoismo.
Sexo tântrico
Na perspectiva tântrica, o corpo manifesta um contato energético superior, simbolizado no encontro de duas divindades: Shakti (energia feminina fundamental) e Shiva (representação do masculino). O culto à deusa Shakti representa o feminino como essencial e criador de energia.
O sexo tântrico é uma forma lenta e meditativa de sexo, onde o objetivo final não é o orgasmo, mas sim aproveitar a jornada sexual e as sensações do corpo. Ele propõe mover a energia sexual por todo o corpo para cura, transformação e iluminação.
Os defensores do sexo tântrico acreditam que as técnicas tântricas podem ajudar a resolver complicações sexuais, como ejaculação precoce, disfunção erétil ou anorgasmia. Para Sheila Mello, a experiência prática proporcionou a descoberta do seu próprio prazer.
"É uma experiência muito potente. Infelizmente, é um tabu, as pessoas não conhecem os seus corpos, elas acabam delegando o seu prazer para outras pessoas e é uma pena. Vou investigar o meu caminho. O meu caminho é esse, de descoberta e empoderamento", disse Mello ao G1.
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Sexo para o tantrismo é sobre honrar o próprio corpo e o corpo do outro, tornando a experiência gratificante para ambas as pessoas envolvidas. Assim, o sexo tântrico não engloba apenas atos sexuais. Uma pessoa pode dar ao parceiro uma massagem lenta de corpo inteiro para aprender sobre seu corpo e ajudar a despertar sua energia sexual. Isso também pode ajudar a sintonizar as vontades e desejos junto de seu parceiro ou parceira.
Como praticar o sexo tântrico?
Com tantas ramificações do tantrismo, é normal que você se sinta perdido para iniciar a prática. Desse modo, é indicado realizar uma boa pesquisa e encontrar qual metódo você se identifica mais. No entanto, algumas pequenas práticas diárias podem lhe ajudar a entrar nesse caminho para o autoconhecimento.
Lembrando que todas as pessoas podem praticar o tantra, mas é fundamental entender a energia feminina como prioritária não apenas para os rituais mas também para a vida. Confira algumas dicas práticas para incluir o tantrismo na sua rotina sexual:
1. Estimule a sensualidade
Preste atenção em seus cinco sentidos em diversos momentos ao longo do dia, é através deles que estimulamos o prazer. A visão, o olfato, o tato, o paladar e a audição estimulam nosso cérebro com sensações que podem, então, nos levar a ondas de êxtase.
2. Foque na respiração
A respiração é nossa força vital. É também o portador de energia entre duas pessoas. Respirar juntos cria uma intimidade e também estimula a tensão erótica. Atente-se à sua respiração e tente entrar em sintonia com a respiração do outro durante o sexo.
Você pode usar uma prática de respiração simples, como inspirar e expirar juntos, para sincronizar seu sistema nervoso. Faça isso sentado um na frente do outro em meditação ou mesmo durante o ato sexual.
3. Encontre o olhar
Um olhar pode dizer muito mais do que palavras. O encontro de olhares permite uma conexão mais íntima e profunda. Portanto, encare o outro antes, durante e depois da prática sexual. Talvez venham à tona lembranças, ou medos, ou uma simples gratidão por ter essa pessoa em sua vida.
Você pode deixar esse olhar fixo levar a um toque sensual ou integrar uma prática respiratória de sincronização com os corpos um do outro e deixá-lo fluir a partir daí sem expectativa.