Entenda os benefícios da retro walking e como ela pode ajudar na reabilitação e no fortalecimento muscular.
Quem olha o entregador Marcos Ferreira de 31 anos caminhando de costas na esteira da academia pode até estranhar à primeira vista, mas a prática tem nome e está a cada dia conquistando mais adeptos.
Também conhecida como caminhada reversa ou caminhada para trás na esteira, a retro walking é uma tendência que viralizou nas redes sociais e vem sendo estudada por especialistas por seus possíveis benefícios para o corpo e a mente.
Marcos conta que começou a fazer o exercício de brincadeira depois de ver um vídeo na internet e que seguiu com a prática por ter se sentido desafiado. Contudo, atualmente, ele segue realizando o enxercício por notar benefícios reais.
“As pessoas sempre olham duas vezes ou perguntam o que estou fazendo”, brinca. “No início achei bizarro, parecia que eu ia tropeçar a qualquer momento. Depois, com o tempo, senti diferença nas pernas, no equilíbrio e até na postura. Hoje, faço pelo menos duas vezes por semana.”
O que a ciência diz sobre o retro walking?
Além de ser um exercício extremamente democrático que pode ser feito pela maioria das pessoas, a caminhada traz uma série de benefícios para a saúde.
“A caminhada melhora a saúde cardiovascular e diminui o risco de doenças como obesidade, diabetes e alguns tipos de câncer, além de ser capaz de reduzir dores e retardar o dano na articulação em pessoas com artrose”, explica o ortopedista Dr. Marcos Cortelazo, especialista em joelho e traumatologia esportiva e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
Quando o assunto é retro walking, o especialista destaca que a prática pode sim trazer alguns benefícios, especialmente em algumas situações específicas.
“E andar de costas na esteira também pode trazer benefícios, dependendo dos seus objetivos. A prática é recomendada especialmente em três situações: reabilitação, treinos funcionais e treinos voltados para a prática de certos esportes”, diz o médico.
De acordo com o ortopedista Dr. Fernando Jorge, membro da SBOT e mestre em Biomecânica do aparelho locomotor pela USP, a caminhada reversa contribui para melhorar a coordenação, postura e equilíbrio, pois exige mais da propriocepção.
“A propriocepção é a capacidade do corpo de sentir a sua posição e movimentos, permitindo que o cérebro saiba onde o corpo está no espaço”, detalha o médico que acrescenta que outro grande benefício da prática está no fato dela utilizar músculos que normalmente não são trabalhados durante a caminhada convencional.
“Os principais grupos musculares trabalhados durante a retro walking são os músculos isquiotibiais, glúteos e músculos estabilizadores da lombar. Já ao caminharmos de frente utilizamos mais o quadríceps, os músculos do core, como abdômen e lombar, os músculos isquiotibiais e os glúteos”, explica o Dr. Marcos Cortelazo.
De acordo com os especialistas, essa maior ativação muscular, principalmente das pernas, é cientificamente comprovada e há evidências de que o exercício pode melhorar a coordenação motora e ajudar na reabilitação de lesões nos membros inferiores.
“É um exercício que pode ajudar em momentos de reabilitação, pois caminhar para trás não causa o mesmo impacto nas articulações que a prática convencional de caminhada”, pontua o Dr. Fernando Jorge.
Cuidados e contraindicações
O Dr. Marcos ressalta que a realização da caminhada reversa pode ser especialmente interessante para atletas, pessoas que buscam aprimorar suas habilidades funcionais e pacientes em recuperação de cirurgias ou lesões. “Contudo, em pessoas com dificuldades ou problemas de equilíbrio, como idosos, há risco de queda, então não é recomendado”, alerta o médico.
Mas o risco de queda não é o único ponto de atenção. O Dr. Fernando Jorge acrescenta outras contraindicações: “Pessoas com histórico de lesões articulares, especialmente nas articulações do joelho e tornozelo, devem evitar o exercício ou pelo menos adaptá-lo. Já indivíduos com condições pré-existentes como problemas nos discos intervertebrais da coluna, pode haver um risco de agravamento da dor nas costas, devido à posição e ao esforço de estabilização exigido pela caminhada para trás”, pontua.
Por isso, mesmo que pareça uma prática simples e divertida, é fundamental não improvisar. “É importante buscar a orientação de um profissional para garantir a execução correta do movimento e prevenir lesões, especialmente no caso de iniciantes ou pessoas com limitações físicas. Além disso, procure um ambiente seguro e controlado, como uma academia, e progrida gradualmente, começando com sessões curtas e aumentando aos poucos a duração e a intensidade conforme seu corpo se adapta”, finaliza o Dr. Fernando Jorge.
Três meses depois de começar a caminhar de costas, Marcos Ferreira diz que o hábito mudou sua relação com o treino. “Antes eu ia à academia por obrigação, agora vou curioso. Cada vez sinto que meu corpo responde diferente”, conta. “Parece que acordo músculos que estavam adormecidos e me divirto mais.”
O que para muitos é uma tendência passageira, para ele virou parte da rotina. “Eu sei que parece estranho, mas me fez bem. Caminhar para trás acabou me fazendo ter mais equilíbrio, disposição e me divertir mais na academia.”