Remédio para dormir e dependência: uma epidemia silenciosa

Os remédios para dormir podem ser uma grande solução, mas também podem provocar o efeito contrário rapidamente e causar dependência; Saiba mais!

Douglas Ferreira | 7 de Agosto de 2020 às 19:00

Volodymyr Kryshtal/iStock -

Os remédios para dormir podem ser uma grande solução, mas também podem provocar o efeito contrário rapidamente e causar dependência. Confira abaixo todas as informações sobre como administrar o uso dos remédios para dormir com segurança e como eles podem causar dependência.


Atenção: remédios para dormir devem ser utilizados somente como solução emergencial de curto prazo e com orientações médicas. Em casos crônicos de transtorno do sono, esses medicamentos são apenas parte do tratamen­to. Afinal, eles só ajudam a amenizar as dificuldades relacionadas ao sono. As causas do transtorno, porém, não são eliminadas nem tratadas. E são justamente elas que precisam ser descobertas e curadas a fim de que se possa ter um sono restaurador e de qualidade a longo prazo.


O uso correto dos remédios para dormir

Está cientificamente comprovado que, com exceção de alguns remédios homeopáticos ou fitoterápicos, os calmantes interferem profundamente no metabolismo. A manipulação do sensível equilíbrio de neurotransmissores no cérebro acarreta um número cada vez maior de efeitos indeseja­dos. Por isso, os calmantes de venda livre (isto é, aqueles adquiridos nas farmácias sem necessidade de apresentar a receita médica) não podem ser utilizados de forma descontrolada. Os indutores do sono devem ser o último recurso a ser utilizado por pessoas sadias. Antes de recorrer a um comprimido, modifique sua rotina de sono e conheça algumas técnicas que podem ajudá-lo a dormir melhor.

Quando os medicamentos para dormir devem ser utilizados

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De modo geral, o autotratamento deve ser empregado apenas em casos de transtornos leves para adormecer ou dormir ininterruptamente e cujas causas sejam conhecidas. Em todos os outros casos, é recomendável consultar um médico antes de ingerir um remédio para dormir. Isso é válido sobretudo nos seguintes casos:

A grande vantagem dos remédios para dormir é seu efeito rápido e confiável quando são corretamente administrados. Por exemplo, quem está passando por um período temporário de forte pres­são no trabalho provavelmente vai dormir mal. Nesse caso, um remédio de efeito mais brando pode ajudar. Quando a fase de estresse passar, o medicamento em geral não será mais necessário. 0 mesmo vale para situa­ções ainda mais difíceis, como em casos de morte de amigos ou parentes. Algumas pessoas chegam a ter fortes reações psíquicas que podem lhe roubar o sono durante dias a fio. Em situações como esta ou em casos de reações de choque, um remédio forte para dormir pode ajudar. Graças a esses medicamentos, as pessoas podem encontrar tranquilidade e dormir bem, recuperando a energia necessária para enfrentar as situações difiíceis pelas quais estão passando.

No entanto, as vantagens desses medicamentos só podem ser aprovei­tadas quando eles são utilizados por breves períodos. Ainda assim, muitas pessoas acabam caindo na tentação de usar medicamentos para dormir alem da indicação.

Medicamentos para dormir e dependência

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De acordo com os dados divulgados em uma pesquisa feita pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) junto à Anvisa, no Brasil são vendidas, por hora, cerca de 6.471 caixas de calmantes. Isso representa uma venda de cerca de 1,4 bilhão de comprimidos em um ano.

Segundo uma outra pesquisa realizada pela Proteste, o consumo de calmantes entre os brasileiros já era elevado em 2013. Na época, a pesquisa havia sido conduzida em cinco países: Brasil, Bélgica, Espanha, Itália e Portugal. Entre os entrevistados, os brasileiros foram os que apresentaram o maior índice de consumo crônico desses medicamentos: 45% dos entrevistados no país declararam já ter feito uso desse tipo de remédio e cerca de 35% deles apresentaram sinais de dependência de medicamentos.

A pesquisa revelou ainda que o principal motivo de uso de calmantes entre os entrevistados no Brasil era a insônia – 21% deles declararam voltar a ter pro­blemas para dormir quando suspendiam o uso dos comprimidos.

A administração descuidada de indutores do sono e calmantes é o cami­nho mais comum para a dependência química. E a maioria dos especialistas em dependência química está de acordo.

“Na verdade e no mínimo compreensível que as pessoas se tornem dependentes de medicamentos que induzam ao sono, pois eles promovem de forma rápida e confiável uma sensação de bem-estar e bom rendimento. De­pois de tomarem um comprimido, elas se esquecem facilmente dos proble­mas e o mundo se torna cor-de-rosa. E, assim, o remédio cumpre com nos­sas expectativas – o que é cada vez mais comum em nossa sociedade atual. Não queremos enfrentar conflitos, nem orientar nosso próprio comporta­mento a valores adequados; em vez disso, preferimos recorrer ao simples consumo de produtividade e felicidade.”

Formas de dependência

A dependêcia costuma ser desencadeada porque após um longo período de uso, muitas pessoas não interrompem a ingestão desses remédios a tempo. No caso de fitoterápicos ou homeopáticos, a dependência em geral é psíquica. O paciente se convence de que sem aquelas substâncias ele é incapaz de dormir. Essa é a forma mais leve da dependência química.

Uma forma mais intensa e física de dependência surge geralmente após o uso de benzodiazepínicos ou de novos fármacos análogos dos benzodiazepínicos. O corpo se acostuma rapidamente com a substância psicoativa. Médicos denominam esse fenômeno de “desenvolvimento de tolerância”. Com o passar do tempo, as doses têm de ser aumentadas para continuarem a surtir o mesmo efeito indutor do sono. E, assim, torna-se cada vez mais difícil abrir mão do medicamento. Por fim, o corpo passa a necessitar das substâncias, desenvolvendo o vício. A partir daí tem início o ciclo vicioso da dependência.

Cicio vicioso da dependência

De modo geral, podemos dizer que a ingestão regular de medicamentos indutores do sono por mais de 45 dias acarreta dependência psíquica e/ou física. Depois desse período, já se espera a manifestação de sinais e sintomas graves de abstinência quando o remédio para dormir não estiver a disposição. Essa, porém, é apenas uma parte do problema da dependência. Afinal, os transtornos do sono continuam a existir e podem até se agravar com o uso abu­sivo de medicamentos. Consequência: tomam-se mais remédios.

Trata-se de uma espiral da qual geralmente você só é capaz de sair com a ajuda de médicos especialistas ou psicoterapeutas.