Descubra como abandonar o cigarro pode aumentar sua expectativa de vida e melhorar sua saúde física e mental.
Segundo informações divulgadas pela Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), mais de 8 milhões de pessoas morrem todo ano devido ao consumo de tabaco. O tabagismo, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), está relacionado a mais de 50 doenças. Ainda assim, o número de fumantes no Brasil cresceu em 2024. O Ministério da Saúde revelou que, em 2023, cerca de 9,3% da população brasileira foi apontada como fumante. No ano passado, essa taxa subiu para 11,6%.
A realidade que se apresenta no país é alarmante, precisa e deve ser mudada. Parar de fumar traz benefícios para pessoas de qualquer idade e até mesmo para aquelas que já tenham desenvolvido enfermidades. Dados da OPAS demonstram que com 30 anos de idade, a superação do vício garante, aproximadamente, mais 10 anos em expectativa de vida. Aos 40, ganha-se nove anos. A partir dos 50, vive-se mais seis anos. Com 60, a expectativa aumenta em três anos. Além disso, quem já teve um ataque cardíaco reduz em 50% a chance de ter outro episódio se conseguir largar o cigarro.
Quais os benefícios de parar de fumar
“Foi fundamental eu ter parado de fumar, a decisão mais correta que eu já tomei na minha vida”, conta a empresária Jaciara de Souza, de 59 anos. Ela, que mora em Volta Redonda, no interior do estado do Rio de Janeiro, parou de fumar quando tinha 53 anos e nunca mais olhou para trás. “As minhas filhas, os meus filhos são os amores da minha vida. Hoje eu tenho dois netos e consigo ter energia para brincar com eles porque parei de fumar. Eu penso que o nosso tempo é muito precioso. E o nosso autocomprometimento deve ser a nossa maior prioridade na vida”.
Quem larga esse vício percebe logo: parar de fumar só traz benefício. Você se sente mais vivo e vive por mais tempo. Pode ser difícil no início, mas depois o lucro é imensurável.
Benefícios imediatos
A pneumologista e coordenadora da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) Maria Enedina Scuarcialupi explica que os benefícios a curto prazo podem ser notados logo na primeira semana.
“No primeiro dia sem fumar, a frequência cardíaca abaixa. Na primeira semana, a pressão fica controlada, evitando infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico. Fora a melhora no olfato, no paladar, no cheiro do corpo, no hálito e na falta de ar”, explica a especialista.
A ex-fumante Jaciara observou em seu corpo algumas dessas mudanças depois que parou de fumar. “Imediatamente, o primeiro benefício foi que eu já não tinha mais aquele cheiro. Com o tempo o meu corpo reagiu positivamente. A minha pele, por exemplo, melhorou muito. Antes eu subia escadas e ficava ofegante, hoje já não fico mais sem ar, eu tenho muita energia”, divide a empresária.
Benefícios a longo prazo
Os benefícios de superar o tabagismo são ainda maior a longo prazo, melhorando não só a qualidade de vida cotidianamente, mas também aprimorando o quadro de saúde do corpo todo e estendendo sua expectativa de vida.
Na publicação 'Mais de 100 razões para parar de fumar', a OPAS divulga que entre o período de um a nove meses, a tosse e a falta de ar do ex-fumante diminuem. Depois de 5 a 15 anos sem fumar, o risco de um AVC é igualado ao de alguém que nunca fumou. Em 10 anos, a taxa de mortalidade por câncer de pulmão de um ex-adicto é reduzida à metade da taxa de mortalidade dentre os fumantes. Em 15 anos, o risco do desenvolvimento de uma doença cardíaca é o mesmo de um não fumante.
Benefícios emocionais, financeiros e sociais de parar de fumar
Além das vantagens a curto, médio e longo prazos para a saúde do corpo, abandonar o cigarro traz benefícios emocionais e sociais. O psicólogo Silvio Aguiar, que hoje tem 69 anos, compartilhou sua experiência e contou como largar o vício ajudou-o em sua profissão e mudou seu modo de pensar.
“Profissionalmente, eu ganhei mais credibilidade, já que trabalhava para melhorar a saúde e a performance dos clientes e fumar não condizia com o que eu preconizava. Pessoalmente, vencer o vício tornou-me mais forte e confiante na minha capacidade de mudar o meu destino”.
Parar de fumar também traz benefícios financeiros. Segundo dados da OPAS, 80% dos consumidores de cigarro – mais de 1,1 bilhão de pessoas – vive em países de baixa e média renda. “Os usuários de tabaco que morrem prematuramente privam suas famílias de renda, aumentam o custo dos cuidados de saúde e impedem o desenvolvimento econômico”, diz a publicação da organização sobre o uso do tabaco.
Em outubro de 2022, uma pesquisa feita por encomenda para a farmacêutica AstraZeneca revelou que cerca de 39% dos fumantes no Brasil consome 11 cigarros ou mais por dia. Em agosto de 2024, o Governo Federal estipulou que o preço mínimo para venda de maços de cigarro (20 unidades) no varejo seja de R$6,50. Diante dos dados, a estimativa é que esses fumantes gastam mais de 1200 reais por ano alimentando seu vício, sem contar com o custo dos isqueiros.
Somando ao prejuízo para o bolso, o cigarro prejudica aqueles que convivem com os fumantes. Das mais de 8 milhões de mortes que ocorrem todo ano em decorrência do tabagismo, cerca de um milhão de pessoas morrem pelo fumo passivo. A organização também fornece dados que apontam as crianças como grandes vítimas do fumo passivo: 65 mil mortes infantis por ano são decorrentes de doenças atribuíveis ao fumo passivo. Por isso, abandonar o vício também gera benefícios sociais promovendo um ambiente doméstico mais saudável.
Como parar de fumar
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente tratamento e acompanhamento para quem deseja parar de fumar. De acordo com o Ministério da Saúde, basta procurar uma das mais de 48 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) espalhadas pelo país. Nessas unidades, é possível obter informações sobre os locais e horários dos grupos de apoio, além de ter acesso gratuito a medicamentos indicados no tratamento, como adesivos, pastilhas, gomas de mascar (terapia de reposição de nicotina) e bupropiona. O atendimento inclui também o acompanhamento médico e psicológico necessário para cada caso.
A pneumologista Dra. Enedina afirma que a principal dificuldade para superar o tabagismo é a influência que familiares e amigos fumantes exercem sobre aqueles que querem acabar com o seu vício. E é por isso que o especialista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) Dr. Gerson Bredt recomenda “que a pessoa não se exponha a cenários e comportamentos fortemente vinculados ao hábito prévio do uso do cigarro, como o contato social com outros fumantes em situações como eventos, pós-refeições, uso de bebidas alcoólicas e demais situações recreacionais com pessoas usando cigarros”.
O médico também aponta a dependência química e física da nicotina como um desafio pois pode causar sintomas de abstinência naqueles que param de fumar. No entanto, o cardiologista acrescenta que são sensações temporárias e devem cessar depois de 4 semanas.
Nunca é tarde demais para parar de fumar
O tabagismo é uma epidemia que assola nosso país há muitos séculos e está na hora de acabar com essa realidade. Diversos estudos apontam os males dessa prática e mostram caminhos para superação do vício. Pesquisas mais recentes ainda desmistificam o “está tarde demais” que alguns usuários utilizam como desculpa para continuar fumando. Sempre há tempo para mudar! Faça parte dessa mudança.
Gostou deste artigo e quer saber mais sobre o assunto? Leia a reportagem completa na versão impressa da Revista Seleções de setembro. No texto, são levantados ainda mais dados sobre o impacto do tabagismo na vida individual e social, Jaciara de Souza e Silvio Aguiar contam sobre sobre suas jornadas de superação do vício e os especialistas Maria Enedina Scuarcialupi e Gerson Bredt esclarecem mais sobre os malefícios do cigarro, os obstáculos e as vantagens de largar o fumo.