Você já se perguntou por que os machucados demoram mais para cicatrizar com o passar dos anos? Entenda por que isso acontece!
Douglas Ferreira | 15 de Março de 2022 às 15:00
Quando uma criança se arranha, basta um pouco de colo e um dia ou dois de curativo. Quando acontece com um adulto, o machucado leva mais tempo para cicatrizar. Uma ferida numa pessoa de 40 anos pode levar o dobro do tempo de uma lesão idêntica em alguém de 20. E o processo continua a ficar mais lento conforme envelhecemos.
É claro que todos conhecemos esse fenômeno, mas talvez você queira saber o que há por trás dele. “Não temos uma resposta completa”, admite o Dr. Dennis Orgill, diretor médico do Centro de Tratamento de Feridos do Brigham and Women’s Hospital, em Boston. “Mas, na minha experiência, é um declínio lento desde o nascimento.” Essa demora na cicatrização pode causar um risco maior de infecções e dor prolongada.
Para fechar uma ferida, o corpo embarca num processo complicado e espetacular e recruta uma variedade de células, que trabalham juntas a fim de estancar o sangue e depois restaurar e reconstruir a pele. Quando envelhecemos, as mudanças do corpo atrapalham esse processo.
A pele é montada como um bolo de três camadas. A do alto é a epiderme, que abriga pelos, sardas e rugas. Com espessura de apenas meio milímetro em certos pontos, ela é formada principalmente de ceratinócitos, células que descamam e são substituídas por outras mais jovens e saudáveis – rotatividade que desacelera quando envelhecemos. Também perdemos lipídeos e aminoácidos nessa camada, o que deixa a pele seca e propensa a se romper. As bactérias conseguem entrar por fendas minúsculas na pele, e cortes aparentemente pequenos levam mais tempo para sarar.
Logo abaixo da epiderme fica a derme, que dá espessura à pele. Além disso, ela regula a temperatura do corpo e fornece à epiderme o sangue rico em nutrientes. Essa camada abriga vasos sanguíneos, vasos linfáticos, glândulas sudoríparas e sebáceas e colágeno, proteína que dá à pele elasticidade e resiliência. Depois dos 50 anos, perdemos cerca de 1% do colágeno por ano, o que torna menos eficaz a tarefa vital de reparar a pele.
Além das mudanças na pele, há outros fatores que vêm com a idade. Embora não exclusivas de idosos, muitas doenças comuns em adultos mais velhos retardam a cura de machucados, como insuficiência cardíaca congestiva, artrite reumatoide e doença pulmonar obstrutiva crônica.
O diabetes, por exemplo, está ligado a mais de 100 fatores que retardam a cura das feridas, como desequilíbrio hormonal e alterações do acúmulo de colágeno. E causa outras complicações que impedem a cicatrização, como mau funcionamento dos rins, doença vascular e neuropatia. Mesmo sem uma dessas doenças, o tratamento de outros problemas – anti-inflamatórios esteroidais e não esteroidais, quimioterapia e radioterapia – pode ter o mesmo efeito retardador.
Além de evitar todos esses fatores que atrasam a cura, há algumas medidas ativas que você pode tomar para proteger o poder de cicatrização do corpo. No alto da lista: evite os danos do sol e pare de fumar. Hidratar regularmente a pele e beber bastante água também ajudam. Mantenha os machucados úmidos cobrindo-os com um curativo. E esse talvez surpreenda: a força muscular ajuda a reparar feridas. Como as pessoas fisicamente inativas perdem de 3% a 8% de massa muscular a cada década a partir dos 30 anos – e mais ainda depois dos 60 –, nunca é cedo para começar a se exercitar.
Por fim, há verdade no ditado de que uma maçã por dia mantém a pessoa sadia. “Lembra-se de antigamente, quando marinheiros tinham escorbuto e feridas que apodreciam?”, pergunta o Dr. Orgill. Em qualquer idade, se seus cortes demoram a sarar, ele sugere um exame de sangue para verificar se há deficiência de vitaminas e sais minerais, como vitamina C e zinco.