Estudos mostram que o câncer de pulmão vem crescendo entre mulheres, inclusive não fumantes. Saiba por que isso acontece e como reduzir os riscos.
Douglas Neves | 29 de Outubro de 2025 às 18:07
Nos últimos anos, os casos de câncer de pulmão em mulheres vêm crescendo de forma preocupante — inclusive entre aquelas que nunca fumaram. Segundo um estudo da agência especializada em câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado na revista The Lancet Respiratory Medicine, fatores como poluição do ar, predisposição genética, desequilíbrios hormonais e inflamação crônica estão entre as principais causas desse aumento.
Em 2022, cerca de 2,5 milhões de novos casos de câncer de pulmão foram diagnosticados no mundo — 300 mil a mais do que em 2020. E o tipo mais comum entre mulheres não fumantes, o adenocarcinoma, já responde por quase 60% dos diagnósticos femininos.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa para o triênio 2023-2025 é de cerca de 32.560 novos casos de câncer de pulmão por ano no Brasil.
De acordo com especialistas, as mulheres são biologicamente mais propensas do que os homens a desenvolver certas mutações genéticas que aumentam o risco de câncer de pulmão. Uma das mais estudadas é a que ocorre no gene EGFR, responsável por regular o crescimento das células. Quando esse gene sofre alterações, as células passam a se multiplicar de forma descontrolada, dando origem ao tumor.
As mutações no EGFR aparecem em até 50% das mulheres asiáticas não fumantes e em cerca de 19% das ocidentais, contra apenas 10% a 20% dos homens não fumantes.
O avanço dos testes genéticos vem facilitando a detecção precoce dessas mutações, mas o aumento da poluição do ar também tem contribuído para que elas se tornem mais frequentes.
Outros genes relacionados à doença são o ALK e o ROS1, presentes em aproximadamente 5% dos casos de câncer de pulmão em não fumantes, e o TP53, um gene que normalmente atua na supressão de tumores, mas que, quando sofre mutações, perde a capacidade de impedir o crescimento celular anormal.
Pesquisas mostram que o estrogênio, hormônio feminino, pode interagir com essas mutações e aumentar o risco de desenvolvimento da doença ao longo do tempo.
A poluição do ar é um dos fatores ambientais mais fortemente associados ao câncer de pulmão. Partículas minúsculas conhecidas como PM2,5 — com diâmetro de 2,5 micrômetros ou menos — conseguem penetrar profundamente nos pulmões e provocar mutações genéticas.
Essas partículas estão mais concentradas em grandes centros urbanos, onde há tráfego intenso e poluição industrial, e também em ambientes domésticos. A exposição à fumaça de fogões a lenha, carvão ou querosene, aumenta ainda mais o risco.
Além disso, estudos apontam que a anatomia pulmonar feminina possui vias aéreas mais estreitas e pulmões menores, e por isso retém mais poluentes, tornando as mulheres biologicamente mais suscetíveis.
Outro fator importante é a inflamação persistente no organismo. Mulheres têm maior propensão a desenvolver doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide, nas quais o sistema imunológico ataca o próprio corpo.
Esse processo de inflamação constante pode causar danos repetidos ao tecido pulmonar, alterando o DNA e favorecendo o surgimento de tumores. As chamadas moléculas inflamatórias — como a interleucina-6 e o fator de necrose tumoral alfa — também ajudam as células cancerígenas a sobreviver e se espalhar.
Com a maior expectativa de vida das mulheres, há mais tempo de exposição a esses processos inflamatórios, o que aumenta o risco de desenvolver o câncer ao longo dos anos.
Os receptores de estrogênio estão presentes no tecido pulmonar e também podem influenciar o crescimento de tumores. Pesquisas mostram que o estrogênio estimula a multiplicação celular e pode amplificar os efeitos da poluição e da inflamação.
Curiosamente, mulheres que fazem terapia de reposição hormonal (TRH) parecem ter risco menor de desenvolver o câncer de pulmão, o que indica que o equilíbrio hormonal é um fator complexo — tanto de proteção quanto de risco, dependendo do contexto.
Cientistas também estão analisando a possível ligação entre o vírus HPV e o câncer de pulmão em mulheres. Embora as evidências ainda sejam preliminares, o que se sabe até agora é que fatores genéticos, hormonais, imunológicos e ambientais se combinam de maneira diferente em cada pessoa, o que exige estratégias personalizadas de prevenção e rastreamento.
Embora nem todos os fatores de risco possam ser controlados, algumas atitudes ajudam a proteger a saúde pulmonar e reduzir as chances da doença:
Cuidar da respiração é cuidar da vida. E entender os riscos é o primeiro passo para se proteger — mesmo quando o cigarro nunca fez parte da sua história. O aumento dos casos de câncer de pulmão entre mulheres mostra que o tabagismo não é o único vilão. Poluição, fatores genéticos, desequilíbrios hormonais e inflamação crônica têm papel importante nesse cenário.
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