Estudos revelam que a poluição do ar é um fator de risco crescente para o câncer de pulmão, afetando até não fumantes.
Você certamente já ouviu que o tabagismo é um dos principais fatores de risco para o câncer de pulmão. No entanto, estudos recentes têm alertado para outro vilão silencioso: a poluição do ar. Com o aumento da concentração de poluentes na atmosfera, especialistas observam um crescimento preocupante nos casos de câncer de pulmão entre pessoas que nunca fumaram ou foram fumantes passivos.
De acordo com o Dr. Ramon Andrade de Mello, oncologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, o ar que respiramos, especialmente nas grandes cidades, está repleto de substâncias nocivas que podem danificar as células do organismo e aumentar o risco de tumores malignos.
“Substâncias nocivas da atmosfera oriundas das fábricas, carros, aviões podem danificar as células do nosso organismo e gerar um tumor maligno", explica o médico.
Dados de estudos internacionais reforçam essa tendência. Nos Estados Unidos, uma pesquisa com 12.000 pacientes com câncer de pulmão mostrou que a parcela de não fumantes diagnosticados com a doença saltou de 8% para 15% em duas décadas. No Reino Unido, um estudo semelhante revelou que o número de casos de câncer de pulmão entre não fumantes subiu de 13% para 28% em apenas seis anos.
A Associação Internacional para o Estudo do Câncer de Pulmão, embora esclareça que esse aumento no número de casos seja multifatorial, aponta a poluição do ar como uma das principais causas desse aumento.
“A poluição do ar é o novo tabaco. Mas, diferentemente do cigarro, que exige força de vontade para parar de fumar, não inalar ar poluído é uma tarefa difícil”, aponta o Dr. Ramon.
O especialista explica que um dos grandes vilões é o material particulado conhecido como PM 2.5, partículas microscópicas com 2,5 mícrons de tamanho – cerca de 30 vezes menores que um fio de cabelo humano. Essas partículas são inaladas profundamente pelos pulmões, danificando o DNA das células e desencadeando processos inflamatórios que podem levar ao câncer. “O PM 2.5 incita uma descarga de células imunes nos pulmões, e a inflamação resultante ‘desperta’ a mutação do gene do receptor de crescimento epidérmico (EGFR), desencadeando um crescimento celular incontrolável”, esclarece o oncologista.
Diferenças no câncer de pulmão entre fumantes e não fumantes
O câncer de pulmão em não fumantes apresenta características distintas daquele associado ao tabagismo. Enquanto o câncer em fumantes tende a ser mais localizado, em não fumantes ele pode ser mais difuso e “nebuloso”. “É como se o câncer do fumante fosse uma bolinha preta em um saco de bolinhas brancas, mas o câncer de não fumante é como colocar areia preta nesse saco. Isso impacta diretamente o tratamento”, compara o Dr. Ramon.
Além disso, a ausência de terminações nervosas nos pulmões faz com que muitos pacientes não apresentem sintomas até que a doença esteja em estágios avançados. “Alguns pacientes podem sentir aperto no peito e tosse. E, nesse caso, dependendo do local que vivem, é indicado que seus familiares também façam um rastreio, pois podem ser assintomáticos”, alerta o médico.
Como é feito o diagnóstico do câncer de pulmão
O exame mais utilizado para o rastreamento do câncer de pulmão é a tomografia computadorizada de baixa dose de radiação (TCBD). “É um procedimento rápido, que não exige preparo e não utiliza contraste”, explica o Dr. Ramon.
Para se proteger, o oncologista recomenda evitar locais com alta concentração de poluentes e, quando isso não for possível, utilizar máscaras de proteção, especialmente em grandes cidades.
Fonte consultada: Dr. Ramon Andrade de Mello – CRM-SP: 97.693