Como conhecimento é poder, entenda o que você deve esperar ao envelhecer e saiba como obter o melhor resultado para ficar bem.
Redação | 28 de Março de 2022 às 17:00
Lembra-se de quando éramos jovens e achávamos que viveríamos para sempre? Na verdade, estamos vivendo mais, porém o tempo ainda cobra seu preço de nosso corpo, desde os quilos a mais até as
rugas e dores. O coração talvez não bombeie tão bem quanto antes, a visão piora, a memória enfraquece e pode até surgir um diagnóstico de câncer.
Como numa máquina, tudo no corpo está interligado, e às vezes as peças dão defeito. O Dr. Berndt Kleine-Gunk, ginecologista e diretor da Sociedade Alemã de Medicina Antienvelhecimento, sugere que vejamos o corpo humano como um cesto de maçãs em que um elemento podre pode estragar os outros. Em termos médicos, essas “maçãs podres” são as chamadas células senescentes ou “células-zumbis”, porque continuam a envelhecer, mas param de se dividir e se recusam a morrer. Quando se acumulam, podem provocar desde as manchas de idade até o câncer.
Em outras palavras, em vez de células que se dividem e trazem saúde, “temos células-zumbis que a destroem”, diz o Dr. Kleine-Gunk. “Por isso, os cientistas estão estudando o que acontece quando essas células são removidas do corpo antes de causar danos.”
Com 727 milhões de pessoas com mais de 65 anos no mundo – número que se espera ver saltar para 1,5 bilhão até 2050 –, os cientistas vêm dando passos significativos no campo da gerontologia, com melhor diagnóstico e tratamentos mais avançados. O Dr. Kleine-Gunk cita o número de novas empresas que trabalham com medicamentos para suprimir as moléculas prejudiciais secretadas pelas células-zumbis ou para matá-las de uma vez.
Ele também menciona estudos clínicos nos Estados Unidos, conhecidos coletivamente como TAME (Targeting Aging with Metformin, ou seja, atacar o envelhecimento com metformina), medicamento usado para tratar o diabetes tipo 2. Os estudos começaram quando os pesquisadores constataram que os pacientes que tomavam metformina viviam mais do que os não diabéticos e que, em estudos separados, a substância mostrou efeito preventivo contra demência, doença cardíaca e câncer.
Tudo isso aponta a fonte da juventude? “É mais uma possível fonte de saúde”, diz o Dr. Kleine-Gunk. “Talvez em um prazo de cinco anos.”
Como conhecimento é poder, o que esperar enquanto envelhecemos e como obter o melhor resultado?
Quando somos jovens, o cérebro é resiliente e engenhoso. Mesmo depois de um acidente vascular cerebral (AVC), encontra novas vias para substituir as áreas prejudicadas. Pense nele como uma fábrica que produz, armazena, descarta e recicla dados, inclusive o que o Dr. Kleine-Gunk chama de “lixo microbiológico”.
“Mas, quando envelhecemos, esses dados começam a se acumular e trabalham com menos eficácia”, diz ele. “É como o apartamento bagunçados de uma pessoa acumuladora. Você tenta contornar o acúmulo, mas pode ser coisa demais.” Um dos efeitos é a demência, para a qual não existe cura.
Ainda assim, nos últimos anos os cientistas constataram que quanto mais engajados e curiosos formos, melhor e por mais tempo conseguimos resistir aos efeitos da demência. “Talvez você consiga fazer bem uma coisa complicada, mas o segredo é se desafiar a praticar atividades diferentes – orientar-se numa cidade desconhecida ou forçar seus pés a se mover de modos diferentes”, diz o Dr. Gérard Nisal Bischof, neurocientista cognitivo do Instituto de Neurociência de Colônia, na Alemanha.
Também há boas notícias para as mulheres que sofrem redução da acuidade mental na menopausa. A Dra. Caoimhe Hartley, que comanda a Menopause Health, em Dalkey, na Irlanda, observa que, provavelmente, a “névoa mental” é temporária. “O cérebro só está se adaptando a um ambiente hormonal diferente”, diz ela.
Seja bem rápido: dos seguintes, quais são sintomas de infarto?
A) Náusea.
B) Falta de ar
C) Dor no maxilar
D) Dor no peito
E) Todas as opções anteriores.
Se respondeu “E”, acertou. É mais provável que as mulheres sintam náusea e dor no maxilar, mas qualquer um desses sintomas pode indicar que o fluxo de sangue para o coração está obstruído. Embora o infarto ocorra em qualquer idade, nos homens o risco aumenta a partir dos 45 anos e nas mulheres, a partir dos 55. Em geral, a causa são as artérias obstruídas por placas de colesterol e o enfraquecimento do músculo cardíaco, que bombeia com menos eficácia.
O músculo enfraquecido também explica por que a probabilidade de sofrer um AVC dobra a cada década depois dos 55 anos. Há dois tipos de AVC, o isquêmico (mais comum), que ocorre quando um grande vaso sanguíneo do cérebro é obstruído, e o hemorrágico, quando um vaso se rompe dentro do cérebro. Além da idade, os fatores de risco incluem tabagismo, sedentarismo e obesidade. Como em muitos problemas de saúde, as mudanças de estilo de vida podem reduzir o risco.
“É na velhice que os maus hábitos e os problemas genéticos têm consequências”, diz o Dr. Vernon Williams, diretor do Centro de Neurologia Desportiva e Medicina da Dor do Instituto Cedars-Sinai Kerlan-Jobe, em Los Angeles.
A expectativa de vida está aumentando, e completar 100 anos não será tão raro nas próximas décadas. “Isso significa que, ao envelhecer, as pessoas vão querer se manter saudáveis”, diz o Dr. Williams.
Os especialistas concordam que, fora a genética, a maior ameaça ao coração e ao pulmão é o fumo. Inalar uma mistura tóxica de substâncias mais quentes do que lava derretida pode causar doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doença cardíaca e câncer de pulmão. Além disso, eleva a pressão arterial, que é uma causa importante de infartos e AVC.
O Dr. Williams insiste que nunca é tarde demais para parar de fumar, porque o pulmão consegue se reparar até certo ponto. “E exercício”, acrescenta. “Quando pratica esportes, você exercita o pulmão e respira com mais intensidade, e o coração tem de bater mais rápido para garantir o suprimento de sangue.” O exercício traz vantagens em dobro.
Em homens e mulheres, um efeito colateral comum do envelhecimento é a incontinência urinária: um pequeno vazamento quando rimos ou a vontade urgente de ir ao banheiro. Isso acontece porque o tecido do rim se reduz quando envelhecemos, o que afeta sua função. Exercícios simples, como contrair os músculos do assoalho pélvico, ajudam. Também se usam medicamentos para acalmar a bexiga hiperativa, assim como cremes tópicos de estrogênio, que podem rejuvenescer o tecido atrofiado.
Para a mulher, a menopausa pode vir com calores, suores noturnos, irritabilidade, insônia, secura vaginal e redução da libido. A boa notícia: os temores sobre o impacto negativo da terapia de reposição hormonal (TRH) – muito atacada em 2002 –, quando os primeiros resultados de um grande estudo americano indicaram que contribuía para câncer de mama, formação de coágulos e AVC, foram praticamente refutados. Novas pesquisas e revisões daquele estudo mostram que, quando receitada a mulheres na perimenopausa ou no início da pós-menopausa, a TRH tem efeito geral benéfico sobre o sistema cardiovascular e a mortalidade.
Os ingredientes e métodos de tratamento também melhoraram. “Hoje, as formas são bioidênticas às que produzimos no corpo e aplicadas na pele como gel ou spray, e a absorção é mais segura e eficaz”, diz a Dra. Hartley.
Nos homens, é comum a idade trazer problemas de próstata. A glândula começa a crescer lentamente por volta dos 25 anos, o que é normal. Mas, aos 50, se ficar grande demais, pressionará a uretra e dificultará o ato de urinar. Os especialistas desconfiam que a responsabilidade é das mudanças hormonais, mas não têm certeza. O que se sabe é que, ao primeiro sinal de mudança, é bom procurar o médico, que pode ver se há câncer e determinar os passos seguintes.
Ossos, músculos, ligamentos, tendões e cartilagens formam a estrutura do corpo. Quando envelhecemos, eles passam a se decompor com o uso. Por exemplo, a cartilagem que amortece as articulações começa a se rasgar e causa a osteoartrite. Essa doença, em que o osso acaba tendo atrito com outro osso, é irreversível, mas pode ser controlada com aumento da atividade física, perda de peso e analgésicos,
por exemplo.
A Dra. Hartley adverte que que 50% das mulheres com mais de 50 anos, muitas delas sem diagnóstico, terão osteoporose, doença que afina e enfraquece os ossos, tornando-os quebradiços. “O risco de fraturas aumenta, a altura da pessoa diminui e é possível perder a mobilidade”, diz ela.
Mas a osteoporose não atinge só as mulheres na pós-menopausa, diz o Dr. Williams. Ela também afeta milhões de homens, ainda que tenham uma estrutura óssea mais forte e não sofram mudanças hormonais extremadas. Os Centros de Controle e Proteção de Doenças dos EUA afirmam que 5% dos homens com 50 anos ou mais têm a doença. “Pense nisto também: 33% dos homens acima dos 50 anos têm baixa densidade óssea ou osteopenia, em geral precursora da osteoporose”, diz ele. “Há vários fatores de risco, como histórico familiar, alguns medicamentos e hábitos de vida.”
Como em quase tudo, o segredo é a prevenção. Adote uma alimentação saudável. Pratique musculação para aumentar a massa muscular e proteger os ossos e faça exames ósseos. Caso se descubra um problema, o médico pode receitar medicamentos para desacelerar e até interromper a perda óssea.
Há menos mudanças aqui, mas tudo se move mais devagar, e o estômago, que fica menos elástico, não consegue conter tanta comida. É grande a probabilidade de aparecer algum grau de intolerância à lactose, porque o trato digestório tende a produzir menos lactase, enzima necessária para digerir laticínios.
As úlceras no estômago são comuns depois dos 60 anos. Elas se desenvolvem quando o suco gástrico prejudica o revestimento do órgão; entre os irritantes, estão o cigarro, as bebidas alcoólicas e o café. Também se tornam comuns as eructações (arrotos )e o refluxo ácido, porque o esôfago passa a reagir menos. Procure o médico se o problema persistir; pode ser sintoma de algo grave, como câncer de esôfago.
E há a doença celíaca, em que o glúten provoca uma reação imune e impede a absorção de nutrientes no intestino delgado. Antigamente, acreditava-se que era doença de criança, mas ela é cada vez mais diagnosticada em adultos mais velhos porque pode passar anos sem ser percebida. “Passo metade do dia convencendo as pessoas a fazerem exames para ver se há doença celíaca”, diz a Dra. Hartley. “Elas podem estar emagrecendo, por exemplo, ou cansadas.” Não há cura, mas a doença pode ser controlada pela remoção do glúten da alimentação.
Mesmo enrugada, nossa pele é o maior órgão do corpo. Em média, pesa entre 3,5 e 10 quilos e tem de 1,5 a 2 metros quadrados. Com a idade, ela vai ficando mais fina e menos elástica porque perdemos colágeno e elastina, proteínas que a deixam suave e lisa. Além disso, sofre lesões com mais facilidade e sara mais devagar por causa da circulação sanguínea mais lenta e, nas mulheres, da redução da produção de hormônios.
A maioria terá manchinhas marrons da idade. Causadas pelos danos do sol, as manchas podem evoluir para câncer de pele; observe os sinais novos ou mudanças nos antigos e os lugares onde há casquinhas ou que dessoram ou sangram. Talvez seja preciso fazer uma biópsia para ver se é necessária a remoção por excisão ou crioterapia.
De acordo com o Dr. Kleine-Gunk, a pele é como o cérebro. “O acúmulo de lixo microbiológico – por poluição, luz do sol e outros fatores – afeta nossa capacidade de curar e combater doenças.”
A conclusão é: quanto mais investigação, exercício e descanso, melhor para nós. E há um bônus: uma taça de bom vinho tinto de vez em quando até ajuda, diz o Dr. Williams, por conter resveratrol, substância que se acredita que aumente a saúde e a longevidade. Para a maioria, ele acrescenta, “recomendo”.