Para quem não gosta de comidas apimentadas, colocar pimenta forte nas receitas parece uma violência contra a boca e o sistema digestivo. Mas isso não é
Thaís Garcez | 28 de Abril de 2020 às 19:02
Para quem não gosta de comidas apimentadas, colocar pimenta forte nas receitas parece uma violência contra a boca e o sistema digestivo. Mas isso não é verdade! Aquela sensação de “cuspir fogo” quando se está comendo um prato temperado com pimenta-caiena (Capsicum annuum) ou qualquer outra pimenta vem da capsaicina, a substância oleosa responsável por muitos de seus benefícios à saúde. Na verdade, comer pratos apimentados faz maravilhas à saúde – desde amenizar a dor e abrir vias respiratórias congestionadas até controlar o diabetes.
Quanto mais forte a pimenta, maior seu teor de capsaicina. Essa substância provoca um “curto-circuito” na dor ao retirar das células nervosas um composto chamado substância P, que ajuda a transferir os sinais de dor pelas terminações nervosas até o cérebro. É por essa capacidade analgésica que a capsaicina pode ser encontrada em vários medicamentos, como cremes e pomadas de venda controlada ou livre e emplastros para artrite e dor muscular. Essa substância também é usada para alívio da dor no pós cirúrgico, de lesões por herpes-zóster e neuralgia do diabético.
Graças à ação dilatadora da pimenta nos vasos sanguíneos do nariz e da garganta, uma forma de aliviar a congestão é salpicá-la na sopa quente. Para aproveitar os efeitos anticongestionantes da pimenta, use-a também, na quantidade que tolerar, como molho apimentado ou outros tipos de molho picante.
Mas não é só. A capsaicina também acelera o metabolismo e a queima de calorias por duas horas depois das refeições. Além disso, tem ação anti-inflamatória. Por fim, a pimenta-caiena contém alto teor de vitaminas A e C, além de flavonoides e carotenoides, pigmentos vegetais com ação antioxidante.
Os benefícios da pimenta – sem falar no sabor – são conhecidos há muito tempo. Há indícios de que os povos nativos americanos usam a pimenta-caiena como alimento e remédio há 9 mil anos. Terapeutas tradicionais orientais a utilizam para tratar problemas digestivos e circulatórios e inapetência.
Num estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition, ficou constatado que os diabéticos que comeram pratos carregados na pimenta precisaram de menos insulina para equilibrar a glicemia depois da refeição, sugerindo que a especiaria pode ajudar no controle da doença. Esses resultados encontraram respaldo numa pesquisa realizada por cientistas tailandeses em 2009. O problema é que, para aproveitar a ação hipoglicemiante da pimenta, é preciso ingerir pelo menos uma colher de chá do tempero. Para quem não está acostumado, pode ser demais.
Pesquisadores do mundo todo tentam descobrir um modo de aproveitar o potencial da capsaicina no combate a tumores. Os cientistas do Massachusetts Institute of Technology estão pesquisando os efeitos da capsaicina em células do câncer de cólon. Num estudo recente, eles descobriram que a substância, por afetar os níveis de óxido nítrico, tem o poder de fazer as células cancerosas se autodestruírem. Enquanto isso, cientistas do Centro Médico Cedars-Sinai, da Faculdade de Medicina da UCLA, estudaram os efeitos da capsaicina em células do câncer de mama. Eles divulgaram que a substância retardou o crescimento de células de câncer de mama em teste de laboratório. Em estudos realizados com animais, a capsaicina reduziu em 50% tumores induzidos em camundongos e inibiu em até 80% o desenvolvimento de lesões pré-cancerosas.
Por fim, em 2009, pesquisadores de Taiwan demonstraram em testes de laboratório que a capsaicina faz as células do câncer de estômago se autodestruírem. Provavelmente ainda serão necessários muitos anos de pesquisa até os cientistas confirmarem se a pimenta-caiena previne ou trata câncer em seres humanos. No entanto, não há nada de errado em comer regularmente uma pimentinha, só por precaução.