O consumo de pesticidas e agrotóxicos na sua alimentação diária te preocupa? Leia nosso artigo e entenda melhor como lidar com essa questão.
Letícia Taets | 24 de Abril de 2021 às 12:00
A produtividade da agricultura moderna depende de uma variedade de produtos químicos. Dentre eles estão incluídos fertilizantes e pesticidas aplicados às plantações, antibióticos e hormônios fornecidos ao gado e aditivos acrescentados à ração dos animais. Essas soluções químicas permitem uma abundância de alimentos a um custo mais baixo.
No entanto, muitas plantações retêm traços de pesticidas, e produtos animais podem conter doses um pouco mais altas. Por causa da relação entre altas doses de certos pesticidas e problemas de saúde em animais, não surpreende que se desconfie que resíduos deles nos alimentos que ingerimos possam causar defeitos congênitos, doenças neurológicas e até câncer. Poluentes ambientais no ar, na água e no solo – metais pesados como mercúrio e compostos tóxicos como os PCBs (bifenilas policloradas) e dioxinas – também podem contaminar os alimentos.
A presença de traços de uma substância não significa que eles farão mal. O risco à saúde depende não apenas da toxicidade da substância, mas também da extensão e do tipo de exposição a ela. De acordo com estudo publicado pelo Ipea em 2020, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, sendo responsável por aproximadamente 19% do consumo mundial. Apenas na última década foram registrados mais de 40 mil casos de intoxicação por agrotóxicos.
Geralmente as pessoas afetadas são as que trabalham com os agrotóxicos, e não as que consomem o produto. Alimentos como a soja e as hortaliças são os que mais demandam a utilização dessas substâncias, por isso é necessário um cuidado especial ao manipular e higienizar esses alimentos antes do uso.
O efeito dos agrotóxicos e pesticidas pode ser cumulativo, e, em crianças, que consomem mais alimentos por peso corporal que adultos, os efeitos podem ser mais graves. Um grupo de pesticidas chamado de organofosforados, por exemplo, é alvo de grande preocupação, pois bloqueia de forma irreversível uma enzima fundamental para a função neural. De acordo com pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, crianças expostas aos maiores níveis dessa substância durante a gestação tiveram QI inferior ao de crianças com menor exposição.
Então, não é preciso gastar demais para comprar apenas alimentos orgânicos, mas é bom tomar algumas precauções para reduzir a exposição a pesticidas, agrotóxicos e outros produtos químicos. Veja algumas dicas de como fazer isso:
Isso ajuda a não exagerar em um tipo de alimento que pode ter altos níveis de poluentes ou agrotóxicos. Além disso, é importante ler os rótulos dos alimentos que você consome para compreender se há em sua composição quaisquer resquícios de pesticidas ou agrotóxicos.
Alimentos ricos em fibras e antioxidantes, podem ajudar a proteger o corpo contra carcinógenos. Brócolis, couve-flor, repolho, agrião e couve-de-bruxelas contêm compostos que liberam isotiocianatos, que estimulam o fígado a produzir enzimas que podem anular os carcinógenos antes que eles possam fazer mal. Compostos fenólicos (em maçãs e outras frutas) e bioflavonoides (em frutas cítricas) protegem de forma semelhante.
A nocividade de um contaminante depende de quanto tempo ele permanece no corpo. Uma substância que resiste à quebra química ou biológica se torna cumulativa à medida que é ingerida, espécie após espécie, ao longo da cadeia alimentar, das espécies menores às maiores e dominantes. Os níveis mais altos de poluentes, portanto, são ingeridos pelos animais maiores, como o gado. Muitos dos poluentes residuais ficam armazenados em seus depósitos de gordura, motivo pelo qual escolher cortes com menos gordura e retirá-la antes do consumo podem ajudar a reduzir a quantidade de poluentes que consumimos.
Os alimentos orgânicos são cultivados ou processados sem o uso de produtos químicos sintéticos como pesticidas, herbicidas, conservantes, hormônios do crescimento e antibióticos (apesar de alguns poderem ser tratados com pesticidas naturais, que também podem ser tóxicos). Costumam ser um pouco mais caros do que os alimentos convencionais, mas compensam por seus benefícios para a saúde.