Circulam boatos de que o uso de paracetamol na gravidez pode causar autismo. Saiba o que dizem os estudos, a posição da OMS e do Ministério da Saúde.
Thyago Soares | 26 de Setembro de 2025 às 12:31
Ao contrário do que vem sendo compartilhado nas redes sociais, não há evidências científicas que comprovem qualquer relação direta entre o uso de paracetamol na gravidez e o risco de autismo em crianças. O medicamento, amplamente utilizado no mundo todo, voltou a ser alvo de debates após a divulgação de estudos preliminares que sugeriram essa possível associação. Mas o que realmente dizem as pesquisas?
O transtorno do espectro autista (TEA) afeta cerca de uma em cada cem crianças no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por isso, qualquer hipótese sobre fatores de risco desperta grande atenção.
Estudos iniciais chegaram a sugerir que crianças expostas ao paracetamol no útero poderiam ter até 1,25 vez mais risco de desenvolver autismo. No entanto, esses trabalhos apresentaram limitações importantes, como a influência de fatores de confusão. Afinal, o medicamento costuma ser usado para tratar febre e infecções, condições que, por si só, também podem impactar o desenvolvimento neurológico do bebê.
Uma pesquisa de larga escala realizada na Suécia, com 2,5 milhões de crianças, não encontrou associação significativa entre o uso de paracetamol durante a gestação e o risco de autismo, quando considerados fatores ambientais e familiares
No Brasil, o Ministério da Saúde reforça que não há evidências de que o paracetamol cause autismo. A Anvisa também mantém a aprovação do medicamento, considerado seguro e eficaz quando utilizado de forma adequada. Para gestantes, a orientação continua sendo a mesma: qualquer medicamento deve ser usado apenas com prescrição médica.
Estudos recentes mostram que o autismo não é causado por um único fator, mas sim por uma interação complexa entre genes e ambiente. Estima-se que cerca de mil genes estejam relacionados ao transtorno, mas nenhum atua de forma isolada.
Para o neuropediatra Antonio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe, esse tipo de discussão costuma buscar respostas simples para questões complexas.
“Sugere-se que um único fator possa ser responsável pelo autismo ou que exista um tratamento milagroso capaz de resolvê-lo. Isso desvia a atenção do que realmente é eficaz: terapias, educação, inclusão e acolhimento”, aponta. “Ademais, aspectos ambientais, como a idade avançada dos pais, o uso de determinados medicamentos durante a gravidez (como o ácido valproico) e o estresse vivido durante a gestação, podem ter papel significativo no aumento da incidência de casos”, finaliza.
O aumento de casos de transtorno do espectro autista (TEA) não significa que mais crianças estão necessariamente desenvolvendo o transtorno. Segundo o especialista, uma compreensão mais profunda dos sintomas e alterações nos critérios de diagnóstico possibilitaram a identificação de casos mais leves.
“Além disso, houve um aumento na conscientização entre profissionais de saúde, instituições e a sociedade em geral. Isso resultou em uma maior busca por serviços de saúde mental e diagnósticos mais precisos e precoces”, complementa.
Sim. Quando usado na dosagem correta e sob orientação médica, o paracetamol é considerado um dos analgésicos mais seguros durante a gestação.
O TEA resulta da interação entre fatores genéticos e ambientais. Não existe um único causador, mas sim uma combinação complexa que ainda está sendo estudada.
Alguns medicamentos podem oferecer riscos ao bebê, como certos anti-inflamatórios, antibióticos e drogas controladas. Apenas o médico pode indicar o que é seguro em cada caso.
Não há provas científicas de que o paracetamol cause autismo em crianças. O foco deve estar no acompanhamento médico durante a gestação e no acesso a informações confiáveis. Para famílias de crianças com TEA, os maiores aliados continuam sendo terapias, educação, inclusão e apoio.
Aviso importante: Este conteúdo é informativo e não substitui a orientação médica. Gestantes devem sempre consultar seu médico antes de usar qualquer medicamento.
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