Circulam boatos de que o uso de paracetamol na gravidez pode causar autismo. Saiba o que dizem os estudos, a posição da OMS e do Ministério da Saúde.
Ao contrário do que vem sendo compartilhado nas redes sociais, não há evidências científicas que comprovem qualquer relação direta entre o uso de paracetamol na gravidez e o risco de autismo em crianças. O medicamento, amplamente utilizado no mundo todo, voltou a ser alvo de debates após a divulgação de estudos preliminares que sugeriram essa possível associação. Mas o que realmente dizem as pesquisas?
O que dizem os estudos sobre paracetamol na gravidez e autismo
O transtorno do espectro autista (TEA) afeta cerca de uma em cada cem crianças no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por isso, qualquer hipótese sobre fatores de risco desperta grande atenção.
Estudos iniciais chegaram a sugerir que crianças expostas ao paracetamol no útero poderiam ter até 1,25 vez mais risco de desenvolver autismo. No entanto, esses trabalhos apresentaram limitações importantes, como a influência de fatores de confusão. Afinal, o medicamento costuma ser usado para tratar febre e infecções, condições que, por si só, também podem impactar o desenvolvimento neurológico do bebê.
Uma pesquisa de larga escala realizada na Suécia, com 2,5 milhões de crianças, não encontrou associação significativa entre o uso de paracetamol durante a gestação e o risco de autismo, quando considerados fatores ambientais e familiares
No Brasil, o Ministério da Saúde reforça que não há evidências de que o paracetamol cause autismo. A Anvisa também mantém a aprovação do medicamento, considerado seguro e eficaz quando utilizado de forma adequada. Para gestantes, a orientação continua sendo a mesma: qualquer medicamento deve ser usado apenas com prescrição médica.
O que realmente causa o autismo, segundo a ciência
Estudos recentes mostram que o autismo não é causado por um único fator, mas sim por uma interação complexa entre genes e ambiente. Estima-se que cerca de mil genes estejam relacionados ao transtorno, mas nenhum atua de forma isolada.
Para o neuropediatra Antonio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe, esse tipo de discussão costuma buscar respostas simples para questões complexas.
“Sugere-se que um único fator possa ser responsável pelo autismo ou que exista um tratamento milagroso capaz de resolvê-lo. Isso desvia a atenção do que realmente é eficaz: terapias, educação, inclusão e acolhimento”, aponta. “Ademais, aspectos ambientais, como a idade avançada dos pais, o uso de determinados medicamentos durante a gravidez (como o ácido valproico) e o estresse vivido durante a gestação, podem ter papel significativo no aumento da incidência de casos”, finaliza.
Por que diagnósticos de autismo aumentaram?
O aumento de casos de transtorno do espectro autista (TEA) não significa que mais crianças estão necessariamente desenvolvendo o transtorno. Segundo o especialista, uma compreensão mais profunda dos sintomas e alterações nos critérios de diagnóstico possibilitaram a identificação de casos mais leves.
“Além disso, houve um aumento na conscientização entre profissionais de saúde, instituições e a sociedade em geral. Isso resultou em uma maior busca por serviços de saúde mental e diagnósticos mais precisos e precoces”, complementa.
Perguntas frequentes sobre paracetamol e autismo
Paracetamol é seguro para gestantes?
Sim. Quando usado na dosagem correta e sob orientação médica, o paracetamol é considerado um dos analgésicos mais seguros durante a gestação.
O que pode causar autismo em crianças?
O TEA resulta da interação entre fatores genéticos e ambientais. Não existe um único causador, mas sim uma combinação complexa que ainda está sendo estudada.
Quais medicamentos devem ser evitados na gravidez?
Alguns medicamentos podem oferecer riscos ao bebê, como certos anti-inflamatórios, antibióticos e drogas controladas. Apenas o médico pode indicar o que é seguro em cada caso.
Não há provas científicas de que o paracetamol cause autismo em crianças. O foco deve estar no acompanhamento médico durante a gestação e no acesso a informações confiáveis. Para famílias de crianças com TEA, os maiores aliados continuam sendo terapias, educação, inclusão e apoio.
Aviso importante: Este conteúdo é informativo e não substitui a orientação médica. Gestantes devem sempre consultar seu médico antes de usar qualquer medicamento.