Nos últimos 10 anos, 110 mil mulheres brasileiras passaram por mastectomia. Dentre elas, 25 mil realizaram a reconstrução mamária.
Luana Viard | 17 de Outubro de 2024 às 19:30
A campanha Outubro Rosa, iniciada no começo dos anos 1990 em Nova York, nos Estados Unidos, é comemorada tanto no Brasil quanto internacionalmente, com o propósito de disseminar informações e aumentar a conscientização sobre o câncer de mama, visando diminuir a incidência e a mortalidade causadas pela doença.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo mais comum entre mulheres, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma, com uma estimativa de 74 mil novos casos anuais até 2025.
Pesquisas da Associação Americana de Câncer indicam que, quando detectado precocemente, o câncer de mama tem até 95% de chance de cura, mas esse percentual pode cair para 50% se a doença for diagnosticada em um estágio mais avançado.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a mastectomia, que consiste na remoção parcial ou total da mama, é recomendada em 70% dos casos de câncer de mama diagnosticados no Brasil. Nos últimos 10 anos, 110 mil mulheres brasileiras passaram por esse procedimento, e, dentre elas, 25 mil realizaram a reconstrução mamária.
O cirurgião plástico Luís Maatz, integrante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e especialista em Reconstrução Mamária pelo Hospital Sírio-Libanês, esclarece que a reconstrução mamária é uma cirurgia plástica reparadora destinada a mulheres que passaram por mastectomia.
“O objetivo desse procedimento é reconstruir a mama retirada, buscando um resultado que leve em consideração o volume, a forma, a simetria e a aparência das mamas, ajudando na recuperação da autoestima, confiança e qualidade de vida da paciente”.
Maatz destaca a sanção da Lei 14.538, que assegura às mulheres o direito de substituição do implante mamário em decorrência do tratamento de câncer, caso ocorram complicações. Essa lei modifica a Lei 9.656/1998, que regula os planos e seguros de saúde privados, e a Lei 9.797/1999, que estabelece a obrigatoriedade de reconstrução mamária pelo SUS em casos de mutilação resultante do tratamento de câncer.
Conforme Claudia Petry, pedagoga especializada em Sexualidade Feminina pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e integrante da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana), os seios representam um ícone de feminilidade, bem como da identidade sexual e materna da mulher.
“Qualquer intervenção nessa área afeta a autoestima das mulheres, em um momento já intrinsecamente desafiador. Se não bastasse, a maioria precisa ainda lidar com as disfunções sexuais, de origem psicológica ou fisiológica, associadas à doença ou aos tratamentos”, diz a especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC).
Segundo ela, as disfunções mais relatadas são a queda da libido e o ressecamento vaginal, que geram muita dor durante a penetração e, consequentemente, a dificuldade em atingir o orgasmo. “Enquanto o sexo com penetração gerar desconforto, apostem em outros estímulos, explorem outras áreas potencialmente excitantes. Esse é um momento de incentivar novas formas de intimidade que promovam a redescoberta do corpo e do prazer”.
Uma pesquisa conduzida na Unidade de Oncologia do Hospital Santa Maria Goretti, na Itália, analisou pacientes hospitalizadas com câncer de mama, enfocando três aspectos: autoimagem, atividade sexual e satisfação sexual, tanto antes quanto depois do diagnóstico e do tratamento. Quase 49% das participantes relataram ter experimentado algum efeito negativo em sua autopercepção e vida sexual, enquanto pouco mais de 7% mencionaram um impacto significativo nesses fatores após o diagnóstico e durante o tratamento.
Quem realiza a mastectomia enfrenta um desafio ainda maior. “Não à toa, a reconstrução mamária é tida como aliada na recuperação da autoestima sexual da mulher. Até porque todas que passam por cirurgia de câncer de mama são candidatas para reconstrução mamária, uma vez que o tratamento leva a algum grau de mutilação, causando prejuízos psicossociais”, ressalta Claudia Petry.
Segundo Luís Maatz, há vários tipos de reconstrução mamária, que vão utilizar diferentes técnicas. As principais são:
Indicado principalmente para mamas pequenas e médias. “A vantagem deste método é que a recuperação é mais rápida. O tempo de internação hospitalar médio é 24 a 48 horas após a cirurgia, e o retorno às atividades ocorre em até 4 semanas”.
Normalmente, é realizada como uma etapa intermediária em cirurgias onde houve retirada de pele durante a mastectomia. De acordo com Luís Maatz, o expansor funciona como uma prótese vazia, ou parcialmente cheia, que é progressivamente preenchida com solução salina pelo cirurgião.
“Após atingir o volume desejado, o expansor é substituído por uma prótese de silicone. Por isso, essa é uma opção vantajosa para mulheres que querem aumentar as mamas”. Na cirurgia inicial, o tempo médio de internação é de 24 a 48 horas, e o retorno às atividades acontece em até 4 semanas.
O médico utiliza esse músculo das costas com uma porção de pele. Na maioria dos casos, é necessário associar uma prótese de silicone para dar volume à mama. Porém, pacientes com excesso de tecido nas costas podem não precisar da prótese. “Já a cicatriz é estrategicamente planejada para ficar nas costas, escondida pelo sutiã, top ou biquíni”.
Luís Maatz revela que essa é a técnica mais sofisticada, já que resulta em uma mama com aspecto mais natural e com maior consistência ao toque. “Ocorre ainda a ressecção do tecido abdominal excedente, principalmente após uma gestação, melhorando o contorno da barriga. Além disso, a cicatriz fica discretamente na região inferior do abdome”.
Um dos métodos mais populares, ele permite a reconstrução total de mamas pequenas, a melhora do aspecto da pele danificada pela radioterapia, a correção de defeitos após outros tipos de reconstrução, entre outras vantagens.
“Por estas e outras razões, o enxerto de gordura é comumente indicado em alguma etapa da reconstrução mamária, além de resultar em cicatrizes mínimas e no retorno rápido à vida normal”, explica Maatz.
“Vale lembrar que a mulher pode passar por um período de ajuste emocional após a cirurgia. Assim como é preciso se adaptar à perda de uma mama, também é necessário tempo para se acostumar com os seios reconstruídos. Em muitos casos, a terapia sexual ajuda a normalizar este novo cenário”, diz Claudia Petry, que alerta ainda sobre a importância de a paciente alinhar suas expectativas com a equipe médica para garantir que a reconstrução mamária atenda aos seus anseios.
“É fundamental também constatar a experiência e a qualificação dos profissionais em suas regiões, verificando suas credenciais nos sites do Conselho Regional de Medicina do seu Estado, do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)”, finaliza o cirurgião Luís Maatz.
Outubro Rosa: médico esclarece mitos sobre silicone e câncer de mama
Heloisa Périssé comemora cura do câncer de glândula salivar; entenda como é feito o tratamento
Casos de câncer de mama em mulheres jovens aumenta e preocupa autoridades; veja como identificar
Menstruação pós-parto: saiba quanto tempo leva para normalizar a menstruação depois do parto
29 frases de Outubro Rosa para conscientizar e salvar vidas
Explante de silicone: saiba como é feito o procedimento que está ganhando força