O diabetes é uma doença séria que, apesar de não ter cura, pode ser controlada. Aprender como prevenir e cuidar da doença.
Letícia Taets | 7 de Setembro de 2021 às 16:00
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 422 milhões de pessoas ao redor do mundo vivem com diabetes. Este ano, inclusive, foi firmado em abril pela OMS um pacto global com o objetivo de impulsionar os esforços para a prevenção ao diabetes e para levar o tratamento a mais pessoas que precisam.
Sendo uma doença multifatorial, o diabetes exige atenção tanto em sua prevenção quanto em seu combate, pois, apesar de haver facilidade em seu tratamento, especialmente com a disponibilidade da insulina, pode ser uma doença bastante debilitante. Para combatê-la, é importante estar muito bem informado. Saiba aqui o que é diabetes mellitus e como prevenir e tratar.
De forma resumida, podemos dizer que o diabetes é uma síndrome metabólica. O diabetes é caracterizado pelo excesso de glicose (açúcar) no sangue. Isto ocorre em razão da incapacidade do pâncreas de produzir corretamente a quantidade de insulina necessária para o organismo e/ou quando o corpo não responde adequadamente à insulina (resistência insulínica). É importante deixar claro que a resistência à insulina não é o pré-diabetes.
Leia também: Doenças cardiovasculares e gordura intra-abdominal: qual a ligação?
Imagine que o seu corpo é uma grande cidade com muitas ruas, avenidas e estradas. Estas são as veias e as artérias. As células que fluem por essas vias são os carros, que precisam de combustível para se movimentar – no caso do seu corpo, a glicose é esse combustível. Agora imagine que os tanques desses carros estejam fechados, e, por consequência, o combustível começa a se espalhar pelas vias. É assim que o diabetes funciona.
O nível de açúcar no sangue normalmente flutua durante o dia, elevando-se após as refeições. Nas pessoas que não têm diabetes, essas flutuações cessam, estacionando em um valor que varia entre 70 e 140 mg/dl. Para um portador da doença, entretanto, os níveis de glicose sobem muito logo depois das refeições e caem mais lentamente à medida que o corpo metaboliza o alimento.
Leia também: Chá para diabetes: 5 chás para controlar naturalmente a glicemia
A glicose geralmente leva a culpa pelos danos do diabetes, mas o problema é causado principalmente pela insulina. Ela é um hormônio produzido pelo pâncreas, e é responsável por “destrancar” as células para que a glicose possa entrar e ser carregada pelo corpo.
Quando a glicose entra nas células sanguíneas e deixa a corrente, o nível de glicemia (que é o nível de glicose na corrente) cai. Nesse momento, a insulina também diminui para não causar a hipoglicemia, que é a falta de glicose no sangue. A hiperglicemia é o contrário: quando o corpo não consegue controlar a insulina, os níveis de glicose na corrente sobem muito, o que pode causar danos.
Quando não é tratado, o diabetes pode, a longo prazo, originar outras complicações como doenças cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais, doença renal crônica, úlceras no pé e retinopatia diabética ou até mesmo a morte.
A Sociedade Brasileira de Diabetes estima que a doença atinja atualmente 13 milhões de brasileiros, tanto do tipo 1 quanto do tipo 2. Quanto aos pré-diabéticos, estima-se que 40 milhões de brasileiros estejam neste grupo de risco, isto é, podem se tornar diabéticos em até 5 anos, caso não revertam a situação.
Para cada tipo de diabetes, há diferentes causas associadas. Confira abaixo:
Diabetes tipo 1
Ainda não se sabe com precisão o que causa o diabetes do tipo 1. Por alguma razão, o sistema imunológico ataca e destrói erroneamente as células beta produtoras de insulina no pâncreas. Os genes podem desempenhar um papel importante no tipo 1 em algumas pessoas.
Diabetes tipo 2
O diabetes tipo 2 decorre de uma combinação de fatores genéticos e de estilo de vida: o sobrepeso e a obesidade também aumentam esse risco, além do sedentarismo e da má alimentação. Carregar tecido adiposo em excesso, especialmente na barriga, torna as células mais resistentes aos efeitos da insulina no açúcar no sangue.
Diabetes gestacional
O diabetes gestacional é o resultado de alterações hormonais durante a gravidez. A placenta produz hormônios que tornam as células da mulher grávida menos sensíveis aos efeitos da insulina, o que pode causar níveis elevados de açúcar no sangue durante a gravidez. Mulheres que estão acima do peso quando engravidam ou que ganham muito peso durante a gravidez têm maior probabilidade de desenvolver diabetes gestacional.
Seguem abaixo alguns fatores de risco gerais para desenvolvimento da doença:
O diabetes tipo 1 não é evitável porque é suas causas são genéticas. Alguns outros fatores de risco do diabetes tipo 2, como seus genes ou idade, também não estão sob seu controle.
No entanto, muitos outros fatores de risco do diabetes são controláveis. A maioria das estratégias de prevenção do diabetes envolve fazer ajustes simples em sua dieta, rotina de exercícios e estilo de vida no geral.
A dieta para diabéticos deve ser pobre em gorduras e rica em fibras, vegetais e hortaliças. Para ajustar sua alimentação corretamente, consulte um nutricionista ou nutrólogo.
Se você foi diagnosticado com pré-diabetes ou apenas quer prevenir o surgimento desta doença na sua vida, aqui estão algumas atitudes essenciais a serem tomadas por você:
Os sintomas do diabetes devem ser observados com muito cuidados e costumam ser:
Além dos sintomas gerais do diabetes, os homens diabéticos podem apresentar diminuição do desejo sexual, disfunção erétil e baixa força muscular. Já para as mulheres, também podem surgir sintomas como infecções do trato urinário e pele seca e com coceira.
É importante frisar que muitas pessoas com pré-diabetes, assim como em alguns casos do diabetes tipo 2, não apresentam sintomas. Por esta razão é importante consultar um médico e estar com os exames em dia.
Qualquer pessoa que apresente sintomas de diabetes ou que esteja em risco de contrair a doença deve ser testada. As mulheres são testadas rotineiramente para diabetes gestacional durante o segundo ou terceiro trimestre da gravidez.
O exame mais comum utilizado para a detecção do diabetes é o da glicemia em jejum. O ideal é que a glicemia esteja entre 70 mg e 110 mg por 100 ml de sangue. Se o resultado ultrapassar 126, em dois exames seguidos, você está com diabetes. No entanto, se os números apontarem entre 110 e 125, pede-se o teste oral de tolerância à glicose para verificação.
Também podem ser feitos o teste de tolerância à glicose, o teste de glicemia capilar e o teste da hemoglobina glicada.
E lembre-se: quanto mais cedo o diagnóstico de diabetes for feito, mais cedo poderá iniciar o tratamento.
Há três tipos mais recorrentes de diabetes: tipo 1, tipo 2 e diabetes gestacional.
Tipo 1: é causado pela ausência de insulina, em decorrência de um problema no sistema imunológico.
Tipo 2: é o corpo que, por diversos motivos, pode não estar regulando bem a sua produção.
Gestacional: surge durante a gravidez e pode ser diagnosticado com 22 semanas de gestação. É causado por disfunção na produção e ação da insulina no corpo. O tipo gestacional tende a desaparecer após a gravidez, mas em muitos casos é necessário o uso de insulina para o controle da glicemia durante a gestação.
Para saber mais detalhes sobre os tipos de diabetes, confira: Diabetes: Conheça os principais tipos e suas diferenças
Os médicos tratam o diabetes com alguns medicamentos diferentes. Alguns desses medicamentos são administrados por via oral, enquanto outros estão disponíveis na forma de injeções.
Diabetes tipo 1
A insulina é o principal tratamento para o diabetes tipo 1. Ela substitui o hormônio que seu corpo não é capaz de produzir. Existem quatro tipos de insulina mais comumente usados, diferenciados pela rapidez com que começam a trabalhar e por quanto tempo seus efeitos duram:
Diabetes tipo 2
A dieta e os exercícios ajudam bastante no controle do diabetes tipo 2. Se as mudanças no estilo de vida não forem suficientes para reduzir o açúcar no sangue, você precisará tomar medicamentos para reduzir o açúcar no sangue.
Alguns dos remédios para diabetes mais comuns são em comprimidos, como metformina, glimepirida e gliclazida, por exemplo. Algumas pessoas com diabetes tipo 2 também tomam insulina.
Diabetes gestacional
Você precisará monitorar seu nível de açúcar no sangue várias vezes ao dia durante a gravidez. Se estiver alto, mudanças na dieta e exercícios podem ou não ser suficientes para diminuí-lo. Cerca de 10 a 20% das mulheres com diabetes gestacional precisam de insulina para baixar o açúcar no sangue.
Além das mudanças de estilo de vida, a melhor forma de controlar o diabetes em casa é monitorando o seu nível de glicemia por meio de um medidor de glicose, conhecido como glicosímetro.
Atualmente, existe uma grande variedade de aparelhos e testes disponíveis para compra, que vão desde aparelhos com testagem digital, em que basta você colocar o dedo em um aparelho para que a medição seja realizada, até os mais antigos e tradicionais, em que a glicose é medida em uma gota de sangue extraída a partir de um furo no dedo do paciente e uma fita especial é usada.
O principal aliado do diabético para lidar com suas complicações de saúde é a atenção. Seguem abaixo algumas das complicações que o diabetes pode gerar:
Algumas pessoas com diabetes desenvolvem uma doença ocular chamada retinopatia diabética, que pode afetar a visão. Se a retinopatia for detectada – geralmente em um teste de triagem ocular – ela pode ser tratada e a perda de visão evitada.
Ter diabetes significa que você corre mais risco de ter problemas graves nos pés, que podem levar à amputação, se não for tratada. Danos nos nervos podem afetar a sensação nos pés e o açúcar elevado no sangue pode prejudicar a circulação, tornando mais lenta a cicatrização de feridas e cortes. É por isso que é importante informar ao seu médico se você notar qualquer mudança na aparência ou sensação de seus pés.
Quando você tem diabetes, o açúcar elevado no sangue por um grande período de tempo pode danificar seus vasos sanguíneos. Isso às vezes pode levar a ataques cardíacos e derrames.
O diabetes pode causar danos aos rins, tornando mais difícil limpar o excesso de fluidos e resíduos do corpo. Isso é causado por níveis elevados de açúcar no sangue e pressão alta. É conhecida como nefropatia diabética ou doença renal.
Algumas pessoas com diabetes podem desenvolver danos nos nervos causados ao longo do tempo por níveis elevados de açúcar no sangue. Isso pode tornar mais difícil para os nervos transportarem mensagens entre o cérebro e todas as partes do nosso corpo, podendo afetar a forma como vemos, ouvimos, sentimos e nos movemos.
Muito açúcar no sangue pode levar a mais açúcar na saliva. Isso traz bactérias que produzem ácido que ataca o esmalte dos dentes e danifica as gengivas. Os vasos sanguíneos da gengiva também podem ser danificados, aumentando a probabilidade de infecção das gengivas.
Se você tem diabetes, tem maior risco de desenvolver certos tipos de câncer. E alguns tratamentos contra o câncer podem afetar o diabetes e dificultar o controle do açúcar no sangue.
Danos aos vasos sanguíneos e nervos podem restringir a quantidade de sangue que flui para os órgãos sexuais, de modo que você pode perder algumas sensações. Se você tem açúcar alto no sangue, também é mais provável que tenha candidíase ou infecção do trato urinário.
A quantidade de sangue que flui para os órgãos sexuais pode ser limitada, o que pode fazer com que os homens tenham dificuldade em ficar excitados. Pode causar disfunção erétil.
Por isso, é fundamental sempre fazer acompanhamento com profissional de saúde de sua confiança.
O diabetes mellitus é uma doença séria, mas que pode ser controlada. Ao contrário da maioria das doenças, o diabetes é centrado no paciente – o que significa que é você, e não o médico, que está no controle o tempo todo.
O médico e o nutricionista ajudarão você a formular um plano para manter a glicemia em um nível aceitável, mas está em suas mãos fazer as melhores opções alimentares, monitorar seus níveis de glicose e elaborar um programa de exercícios que consiga cumprir.
Mas não se esqueça de que é importante que haja acompanhamento médico constante. Apesar de não ter cura, é possível viver uma vida normal com a doença.
Atenção: Para ter o diagnóstico correto dos seus sintomas e fazer um tratamento eficaz e seguro, procure orientações de um médico.